Juiz de Fora

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (199)


A árvore do amor
(2010)



Zhang Yimou (n.1951) é um dos meus diretores prediletos, já o disse aqui várias vezes. Não faz filmes de "vanguarda", bizarrices, blockbusters, etc. É um cineasta político sem ser panfletário, é romântico sem ser piegas, é humanista sem ser utópico, absorve a cultura ocidental e oriental e faz um produto que diz respeito a todos.




Este é o seu oitavo filme a que assisto. Baseado em uma história real: uma adolescente vai para o interior da China, em plena Revolução Cultural (1967-76), para ser reeducada. Os seus pais estão em desgraça, acusados de serem direitistas: o pai, preso e a mãe, rebaixada de professora a auxiliar de serviços gerais e nas horas extras, além de cuidar de três filhos menores, confecciona envelopes caseiros a um centavo a centena.




Jing conhece Sun, alguns anos mais velho, um rapaz que também está sendo reeducado na área rural porque o pai é dirigente do PC chinês e isto servia de exemplo, àquela época. O rapaz tem maior mobilidade, melhores condições econômicas e notoriedade. Jin apaixona-se por ele, mas a mãe da menina não quer saber dos dois juntos, teme por seu presente e futuro. Zhang Yimou, - ele mesmo um enviado para a área rural, filho de um oficial do Kuomintang -, como sempre, não ataca frontalmente o totalitarismo chinês (vive na China, é reconhecido e aceito pelo establishment local, foi diretor nas Olimpíadas de Pequim, etc...), quem quiser ter uma visão mais precisa do que foram estes anos poderá ler a biografia de Mao, de Jung Chang e seu marido, o historiador inglês Jon Holliday.




O filme, além da fotografia bonita, característica de Yimou, tem aquelas sutilezas do quotidiano. É uma história meio Romeu e Julieta, isto sempre vai ter um grande público, o amor dos dois não se realiza por força das pressões sociais e políticas. Há um permanente clima de repressão, inocência e falta de informação, principalmente por parte da menina, como se estivéssemos na China ou no Japão imperial.




O título se explica por um espinheiro, - local do primeiro encontro visual do casal -, que normalmente dá flores brancas, mas que - segundo o militante comunista guia dos estudantes do êxodo urbano -teria gerado flores vermelhas porque sob o seu solo estava o "sangue dos chineses mortos pelos japoneses". "Histórias que o povo conta", fala uma personagem.


A paixão ardente é fruto da ingenuidade, da ignorância e da repressão.


Nenhum comentário:

Postar um comentário