Juiz de Fora

sábado, 7 de janeiro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (194)


John Rabe
(2009)


John Rabe (o talentoso Ulrich Tukur) era o diretor da Siemens em Nanquim, capital da república chinesa pré-comunista (1911-49). Residindo lá por vinte e sete anos, é transferido contra a sua vontade para Berlim, no exato momento em que os japoneses ocuparam Shangai e estão para invadir Nanking (1937). Rabe era católico e  nazista não-fanático (esclareço-me: alguém que aderiu aos nazistas no poder, mas não está particularmente empenhado no antissemitismo e no militarismo de Hitler).




Preocupado com a destruição de seu trabalho e com a sobrevivência de seus empregados, Rabe se recusa a retornar para a capital alemã, e, juntamente com algumas autoridades inglesas e francesas, tenta construir e assegurar a sobrevivência de duzentos mil chineses em uma zona de segurança livre do extermínio do exército japonês.




Steve Buscemi (melhor do que na média das suas atuações) faz um comprometido e liberal médico britânico que comodamente implica com o administrador alemão, e Daniel Bruhl (meio apagado aqui) faz um diplomata judeu mais perspicaz do que seus colaboradores. Há também um oficial japonês, Major Ose (Arata) para simbolizar que nem todos os nipônicos eram fanáticos e também um vaidoso e irresponsável general, tio do Imperador Hirohito (príncipe Asaka), a quem o filme atribui a maior culpa pelas atrocidades.

Este filme quase não foi exibido em solo japonês, e um grande distribuidor teria concordado em cartaz se todas as cenas do principe Asaka fossem suprimidas da película, não é uma gracinha?!




Este é o primeiro filme ocidental de que tenho notíca sobre o famoso e não-reconhecido (pelo governo japonês) massacre de Nanquim (dezembro de 1937), quando os japoneses teriam aniquilado trezentos mil chineses desarmados por meio de execuções sumárias (neste ponto eu concordo com os japoneses, tal número não tem como ser exato, e, sim, para um professor de História, como eu, os número têm relevância como verdade factual). O filme é bem realista, baseado nos diários de Rabe, não tem o romantismo e a plasticidade de um Lista de Schindler, dá para se ter ideia do que digo comparando o filme sobre Stauffenberg original alemão (Operação Valquíria) e a versão hollywoodiana com Tom Cruise. Aqui, nesta co-produção franco-sino-teutônica (tomara que venham outras) ninguém banca o heroi destemido, todos têm, e com razão, muito medo da perfídia nipônica.


John Rabe
(1882-1950)


De volta para casa (1938) John Rabe foi preso na Alemanha nazista por ser "colaborador de chineses" e teve um pedido de desnazificação recusado no pós-guerra. É difícil ter posições políticas neste mundo.


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