Juiz de Fora

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (218)


Antes que o diabo saiba que você está morto
(2007)



Este filme começa com uma cena quase explícita de um casal na cama, e eu fiquei com uma má impressão inicial (a cena não se justifica na trama). Mas os atores são Philip Hoffman e Marisa Tomei, não há diretor que faria isto com eles em um filme medíocre. Andy (Hoffman) é um corretor de imóveis com um bom padrão de vida, mas está entediado, se viciando em drogas pesadas e é alvo de uma auditoria por fraudes contábeis. Planejando dar um golpe e fugir para o Brasil, onde viveria como intermediário de brasileiros abastados adquirindo imóveis nos EUA, Andy chama o irmão caçula, Hank (Ethan Hawke), -subempregado e pressionado por dívidas alimentares para com a filha menor-, a assaltar a joalheria do próprio pai (Albert Finney). O irmão panaca decide tomar decisões próprias e tudo dá errado. O filme lembra as personagens desastradas dos irmãos Coen e as armadilhas do quotidiano dos filmes de Tarantino, mas não tem qualquer ironia.




Último filme dirigido por Sidney Lumet (1924-2011), de quem vi e recomendo: Doze homens e uma sentença, Serpico, Um dia de cão, Rede de intrigas, Assassinato no Orient Express, Equus, e Os donos do poder. É um cinema de tons realistas, não há qualquer indício de final feliz.





O Panótico vê aqui e agora (217)


J.Edgar
(2011)



John Edgar Hoover (1895-1972) foi uma das figuras políticas mais poderosas e odiadas da história contemporânea estadunidense. Anticomunista fanático, passou a ocupar cargos importantes auxiliando o Advogado Geral do Departamento de Justiça (algo equivalente ao Procurador Geral da República, chefe do Ministério Público Federal, aqui no Brasil) ainda jovem, na década de vinte. Em 1935 reestruturou o FBI, deu-lhe capacidade técnica e ampliou-lhe as atribuições, passou a armazenar informações sigilosas sobre dezenas de milhares de pessoas, lá exerceu notório poder de intimidação até a sua morte.


Assim que comecei a ver o filme me dei conta de que seria uma boa obra: Leonardo Di Caprio está excelente como o velho J.Edgar, não só recebeu grande trabalho de maquiagem como caprichou inclusive nos gestos lentos de uma pessoa idosa. Dirigido por Clint Eastwood, é o primeiro filme específico sobre Hoover de que tenho conhecimento (já, como personagem coadjuvante, há pelo menos uma dúzia, pois Hoover pegou muito no pé de Hollywood, de Chaplin particularmente).




Independentemente de que o anticomunismo de Hoover possa ter sido sincero (o ano de 1919 é marcante, com alguns atentados impetrados pelos PCUSA), o homem rapidamente percebeu que a escolha de alvos lhe permitia ampliar o poder do seu departamento, e, por tabela, o seu próprio. Hoover teria chantageado inclusive o presidente Franklin Roosevelt (1933-45), cuja esposa Eleanor teria um relacionamento homossexual não revelado.

O homossexualismo de Hoover fica no ar, mas o espectador vai se dar com ele quando Hoover resolve escolher os seus agentes no FBI por critérios combinados de formação universitária, juventude, elegância, fisionomia e porte físico. O seu auxiliar imediato Tolson é apaixonado por moda e restaurantes e ambos foram vistos juntos por décadas. Hoover tentou disfarçar se aproximando de mulheres, inclusive sua secretaria, mas nada se deu de efetivo.

Certa vez ouvi um Secretário de Administração em uma palestra dirigida a militantes partidários afirmar que um simples funcionário municipal poderia chegar a ter mais poder efetivo do que um vereador. As pessoas prestam mais atenção nos luíses e nos mosqueteiros, mas são os richelieus que costumam ter um poder mais duradouro.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (216)


Dawson, isla 10
(2009)




Em 1974 a ditadura chilena Augusto Pinochet enviou um grupo de prisioneiros políticos para um campo de concentração em uma ilha ártica (Dawson). Lá diversas ex-autoridades do governo de Salvador Allende foram submetidas a tratamentos humilhantes e eram chamados pelo cognome Isla n. Isla 10 é o narrador do filme. Como era de se esperar em um filme cujo propósito evidente é glorificar os comunistas chilenos há diversos clichês: a união dos camaradas em muitas situações, a manutenção dos ideais revolucionários mesmo diante de uma derrota acachapante, a humanização de soldados e sargentos simpatizantes (como prova da popularidade natural dos trabalhadores para com a sua vanguarda), os médios e altos oficiais são fascistas notórios, a solidariedade de classe para enfrentar momentos de depressão, as aulinhas e musiquinhas que passavam pela censura capenga de bitolados militares, a divinização de Allende, etc.





Ainda assim, para quem gosta de história contemporânea latinoamericana ou tem interesse particular sobre qualquer filme sobre revolucionários, a película pode prender a atenção, porque nós torcemos para que os prisioneiros políticos tenham os seus direitos respeitados, afinal de contas, faziam parte de um governo legítimo, bem-intencionado, e que foi derrubado por um golpe militar.




Fica uma pergunta (retórica): o que a Petrobrás e o governo brasileiro estão fazendo aqui patrocinando este filme?


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

The Scratist: vida inteligente no You Tube.

Trailer de Era do Gelo 4 parodiando O artista

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (215)


O artista
(2011)



Holywoodland, 1927. George Valentin (Jean Dujardin) é um astro dos filmes mudos. Em uma première de seu último filme chega a divertir pessoalmente a plateia por diversos minutos. Meio exagerado, é um mestre das caretas e as mulheres babam no sujeito. Tem um casamento de conveniência, mas parece adorar a si e à vida que leva. Peppy Miller (Bérénice Bejo) atua em pontas de filmes, por indicação do próprio Valentin que em certa ocasião tem um encontrão com a moça diante da imprensa e de uma multidão.




Dois anos depois, a indústria cinematográfica lança os filmes falados, mas Valentin os considera ridículos (na verdade ele não é talentoso com falas). Valentin se recusa a adaptar ao mercado (como Errol Flynn e Charles Chaplin), resolve dirigir e produzir os próprios filmes mudos, e vai à falência. A esposa o abandona, e Valentin conta apenas com a companhia de seu motorista Clifton e seu cãozinho Uggie (um show à parte). Quem poderá salvar o pobre George Valentin? A solução é meio Fred Astaire e Gene Kelly.




Esta comédia romântica vale pela reconstituição quase fiel dos filmes mudos, houve séria pesquisa e há diversas referências a cenas de filmes antigos. Mas não é uma obra prima como Zelig, de Woody Allen, ou um marco como Cliente morto não paga, com Steve Martin. Jean Dujardin é um ator muito bom, mas não é nenhuma grande revelação como um Javier Bardém.




Parece que vai ganhar geral no Oscar, é um filme bem bajulador das mentes hollywoodianas. Mas mesmo assim, vou ver de novo algum dia.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (214)



Motoqueiro Fantasma 2 
(2012)



Não há muito o que falar sobre este blockbuster. O segundo filme com a personagem de Nicolas Cage é uma superprodução, obra de menos de cem minutos, passatempo com alguma inteligência. O filme nos faz o favor de relembrar quem é Johnny Blaze: com o fim de evitar a morte do pai, Johnny vendeu  a alma a Você sabe quem e se deu mal. Toda vez que se transforma no Motoqueiro Fantasma os malvados quebram a cara, também.




Filmado na Romênia e o que aparenta ser a Turquia, há inserções de desenhos no estilo da HQ. Efeitos especiais surpreendentes, - menos a existência deles -, um grande ator - Ciaran Hinds, no papel do Canhoto - e diversão. Viu? Gostou. Não viu? Há outras opções melhores no momento: A Dama de Ferro, O artista, A separação, Hugo Cabret, etc.



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (213)



As mulheres do sexto andar
(2011)




Paris, 1962 (ano da crise argelina). Jean-Louis Joubert (Fabrice Luchini) é um parisiense dono de um imóvel com vários apartamentos e todo um sexto andar onde vivem entulhadas uma meia dúzia de empregadas domésticas espanholas. A empregada atual de Jean-Louis era apegada à sua falecida mãe e disputa a primazia doméstica com a sua esposa. O senhor Joubert é um corretor financeiro e não quer perder tempo com assuntos caseiros (típico). A empregada pede demissão, e a patroa vai contratar uma jovem espanhola que acabou de chegar. Estes minúsculos quartos de 9 a 12 metros quadrados chegam a custar trezentos mil euros para aquisição nos dias atuais!




Os empregadores não são exatamente mesquinhos, mas exigem os símbolos do status patronal. A nova empregada Maria é muito atraente (Natalia Verbeke), sabe fazer de boba para sobreviver e sabe cativar os senhores. Uma das empregadas espanholas é comunista e cria uma situação para demonstrar às colegas que Jean-Louis é um patrão como outro qualquer: mostra-lhes a fossa entupida do banheiro coletivo das empregadas, sem vaso, acreditando que ele nada fará para minorar-lhes o sofrimento. O senhor Joubert contrata um encanador para dar solução e manda reformar o banheiros das domésticas. Seja por humanismo, seja por tática, ou por estar se apaixonando por Maria, Jean-Louis vai ganhando aos poucos a admiração das espanholas, vai suavizando a relação de trabalho.




As mulheres do sexto andar é uma novelinha, uma gata borralheira, mas não ofende a inteligência de ninguém, não é uma telenovela. Fala de quebra de barreiras e aquela coisa que nunca falha: o rico bondoso que salva a donzela pobre em apuros. As situações são divertidas e o populismo está mais para a Itália do que para a América Latina.


As atrizes espanholas almodovarianas Carmen Maura e Lola Dueñas (o seu nome deveria estar em destaque) dão um show, elas são excelentes. Muito legal também as locações  em Paris, a atenção com as características do período (moda, decoração, automóveis, cortes de cabelo, etc.). As espanholas são bem caricaturais, mas todo mundo no cinema riu com elas, eu inclusive, o riso é a denúncia espontânea do politicamente correto. Gostei bastante.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Panótico ouve aqui e agora (98)



Camel/Mirage/The Snow Goose/Moonmadness/Rain Dances
(1973/1974/1975/1976/1977)


Bardens, Ferguson, Ward e Latimer


O Camel é uma banda inglesa que conheço de nome desde o final dos anos setenta. Por ser homônimo a uma marca de cigarro me recordo que as suas capas chamavam a atenção dos adolescentes e jovens. Entre meus poucos amigos fãs de progressivo não me lembro de nenhum que tivesse amor especial por esta banda, e o grupo ficava na sombra dos cinco gigantes do progressivo (Genesis, Yes, King Crimson, Pink Floyd e Emerson, Lake & Palmer). Deixei de adquirir os poucos vinis nacionais do Camel, em sebos, por diversas ocasiões.




Agora, por absoluta falta do que ouvir, resolvi conhecer a discografia da banda. Com uns cinquenta lançamentos (incluindo compilações e shows) concentrei o meu interesse, por óbvio, nos primeiros discos, da década de setenta, que foi a época áurea (ou a única relevante, para alguns) do rock progressivo.



Formado em 1971, a banda é incluída no chamado Canterbury sound (juntamente com Soft Machine, Caravan e Gong, um pessoal que aceitou forte influência do jazz, com impacto no trabalho de músicos como Mike Oldfield, Bill Bruford e Allan Holdsworth, todos excelentes) Andrew Latimer (cantor e guitarrista), Peter Bardens (tecladista), Andy Ward (baterista), Doug Ferguson (baixista) são a formação clássica do grupo. O Camel contou com a participação eventual de uns trinta músicos, entre eles Brain Eno, Phil Collins (independentemente de suas canções é um baita baterista), Anthony Phillips e Mel Collins.

O primeiro lp, Camel já começa muito bem com Slow yourself down, o timbre da guitarra e os moog e mellotrons da época caem bem aos meus ouvidos. Mystic Queen já colou na minha mente, um lirismo típico dos seventies. Six Ate é um jazz rock, na linha do que Allan Holdsworth fez alguns anos mais tarde. As seguintes Never Let Go e Curiosity são muito boas. Só não gostei muito de Arubaluba (êta nominho feio).

O som do Camel é fartamente instrumental. Os muitos solos de teclados e guitarra, no entanto, têm a marca registrada do rock progressivo: eles, tal como na música clássica, participam do conjunto da obra, não é só aquela coisa  heavy metal de ficar solando e solando, o objetivo não é exibir a destreza do músico. Acho que o som da banda me lembra também os holandeses do Focus, de Thijs van Leer e Jan Akkermann. A voz de Andrew Latimer não chega a ser ruim, mas também não é privilegiada como a de Jon Anderson e Peter Gabriel, então eu penso que canções realmente não são o forte da banda.




O fato é que estou ouvindo o quarto disco, Moonmadness (1976) pela primeira vez, neste exato momento em que escrevo, e até agora a impressão que eu tenho do trabalho do grupo é muito boa, vou ter o que ouvir por muitas semanas.




Rain dances já não é tão legal quanto os anteriores. Já sinto um sinal de comodismo, e uns popizinhos bem chulé. Vou parar por aqui e retornar aos primeiros, sem arrependimento.

Há uma curiosidade regional sobre o Camel. Há uns dez anos atrás um grande fã da banda, da cidade de Cataguases (uma localidade que tem relevância na história literária brasileira) trouxe o Camel para tocar no teatro de lá. Havia uma excursão de Juiz de Fora para o show, mas era numa baita terça-feira gorda. Não fui para não faltar ao serviço. Eu já perdi dezenas de shows por bancar o operário padrão.



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

New and notable (16)



Le voyage dans la lune
(AIR/2012)



O novo álbum do duo francês AIR (com maiúsculas, Amour, Imagination, Rêve: amor, imaginação e sonho) tem por tema o filme clássico do precursor Georges Méliès Le voyage dans la lune, filme mudo de 1902 que está sendo relançado restaurado. Eu gosto demais do AIR desde o fundamental Moon Safari (1998), e é uma das poucas coisas francesas que de que sou fã em matéria de pop/rock, no mais, é 10x1 para os ingleses, sem sombra de dúvida.

O sétimo disco da dupla Jean-Benoît Dunckel e Nicolas Godin começa dentro do padrão da banda, com Astronomic Bomb, uma eletrônica básica, tranquilona e uma guitarra com um timbre à la Robert Fripp, do King Crimson. Seven Stars traz o belo vocal de Victoria Legrand, mas não sei quem ela é. Return sur Terre e Parade são faixas claramente cinematográficas, é perceptível que estão acopladas a cenas. Moon Fever é bem climática. Sonic Armada é a primeira faixa mais ritmada do álbum, dá para ser utilizada em pistas, sem muito ardor. Who am I now tem a participação de Au Revoir Simone, uma banda dream pop novaiorquina bem legal que eu acredito que ainda fará um disco significativo. Cosmic Trip é a faixa de trabalho, um technopop simpático. O cd termina com Homme Lune que me faz lembrar de algumas coisas meio Brian Eno. O AIR é uma banda que tem os anos sessenta e setenta como fonte, e disto eu não posso reclamar. A última, Lava, é bem Pink Floyd por estas épocas.

Bem, fico com a impressão de que boa parte da trilha, por óbvio, fará mais sentido quando assistirmos ao filme.

Achei frustrante o cd ter apenas trinta e um minutos de duração, o fato de ser trilha sonora não o justifica.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (212)


Three Times
(2005)




Três contos de amor com os mesmos atores: um em 1966, falado no dialeto (ou idioma) de Taipei (Formosa), um em 1911, falado em japonês e outro contemporâneo (2005), falado em chinês do norte (mandarim). Um amor não correspondido, um por interesse e outro meio apático. É o terceiro filme do diretor taipei Hou Hsiao-Hsien (n. 1947) a que assisto (os anteriores são Flores de Shangai e  Café Lumière). É um cinema hostil ao público que somente gosta de blockbusters, pois as câmeras são fixas nas locações e não nos atores, as cenas quase não tem dramaticidade, não há sinais humanos, cinematográficos ou musicais para orientar a compreensão do espectador. Para quem, no entanto, tem interesse por um cinema lento, minimalista e que reeduca o olhar do público pode ser um prato cheio. O duro é aguentar as resenhas que lhe atribuem quilômetros de significados.


O Panótico vê aqui e agora (211)



Os descendentes
(2011)


Mathew King (George Clooney) é um advogado havaiano e descendente de um banqueiro e dos últimos monarcas daquele arquipélago. Juntamente com uma dúzia de primos é herdeiro de um domínio avaliado em meio bilhão de dólares. Mas apesar de morar no paraíso tropical, a sua esposa aventureira está em coma irreversível após um acidente de lancha, e suas duas filhas têm pouca ligação afetiva com os pais. O seu sogro toma a filha como exemplo de vida, vê o genro como um ganancioso bitolado e a sua sogra está com Alzheimer. Matt decide rever a sua postura diante da vida.




O filme tem aquela mensagem positiva, tipo: "de que adianta tanto dinheiro se não há amor e sentido na sua vida?". Enquanto a esposa está nas últimas Matt é informado pela filha mais velha de que sua esposa o estava traindo. Matt, juntamente com a primogênita que lhe toma as dores, resolve ir atrás do amante da esposa, e, simultaneamente, cuidar da venda do imenso terreno que vai fazer a alegria da parentada. Desde que eu me entendo por gente que Hollywood tem implicância com artistas militantes. Mas o ultramilitante George Clooney deve ter costas quentes com os executivos da indústria cinematográfica, pois os seus dois últimos filmes, este, e o anterior em que também foi diretor (Tudo pelo poder), têm largo apoio institucional e da crítica. Quanto aos jornalistas eu posso compreender: há tantos filmes medíocres vindo dos EUA que a galera resolve incensar aqueles que ousam sair da mediocridade.




Os descendentes é um bom filme, e lida bem com um tema difícil: a morte. Mas não é como o cinema europeu ou o asiático o faria. Há alguns momentos que resvala para a pieguice, e o final é bem forçado.


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Nome aos bois (24)



O Panótico vê aqui e agora (210)


Procurando Elly
(2009)


Três casais de amigos com formação em Direito vão passar alguns dias de folga em uma praia do mar Cáspio, ao norte de Teerã. Levam com eles Ahmad, um recém-divorciado que vivia na Alemanha e retornou ao Irã para encontrar uma nova esposa. Uma das mulheres, Sepideh, dá uma de cupido e leva Elly, professora de sua filhinha, para flechar o coração de Ahmad durante o passeio da galera.


Inicialmente todos parecem bem modernos, liberais, e acobertam da senhoria que lhes aluga a casa de praia a situação de solteira da professora Elly. Mas um dos filhos dos casais quase se afoga no mar enquanto estava sob os cuidados da convidada. Quando procuram por Elly para tirar satisfações do descuido, a moça não é encontrada.


Do mesmo diretor do excelente A separação - Asghar Farhadi - o tema aqui é a opressão sexual, mas esta tem sua origem e sustentáculo no Estado fundamentalista. As mulheres são decididas e independentes, não baixam a cabeça para os maridos e homens em geral, a não ser que...sua conduta esbarre em algum dogma religioso amparado pelo Estado e aí a situação fica feia para o lado delas. O filme começa meio xoxo, mas após o desaparecimento de Elly desenvolve para um misto de Parente é serpente com Festim diabólico.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (209)


A escola da carne
(1998)



Dominique (Isabelle Hupert) é uma estilista balzaquiana, filha de médico rico, e que alega ter se divorciado de seu primeiro e único marido por puro tédio. Passeando pela noite parisiense resolve entrar em um bar GLS com uma amiga. Dá de cara com Quentin (Vincent Martinez), um balconista bissexual, de origem norteafricana, garoto de programa e lutador de boxe. Em um primeiro momento Dominique sente repulsa pelo lugar e pelos seus frequentadores.



Mas este primeiro momento passa rápido. Dominique volta ao bar e decide contratar os serviços do jovem uns quinze anos mais novo. Este é o segundo momento. Quentin é uma fonte de problemas, vem muito sofrimento por aí.



No terceiro momento Dominique diz para o rapaz que nunca mais quer vê-lo, para logo em seguida se apaixonar por completo, leva-o para casa, passa a sustentá-lo, lhe quer  ensinar modos e simultaneamente dar-lhe estabilidade emocional.



Este tema burgueses fascinados pelo lumpenproletariado é um focos mais antigos da literatura (desde o tempo dos romanos, pelo menos) e do cinema contestadores, tem um pé na França e o corpo inteiro na América latina. É sempre aquela coisa do tipo: "é, você, espectador, gosta bem da sua vidinha segura de classe média mas adoraria chafurdar no sub-mundo dos gays, prostitutas e viciados em geral. Você não consegue ter satisfação".

Baseado em uma novela do grande Yukio Mishima (1925-70).