Juiz de Fora

terça-feira, 24 de julho de 2012

London calling.



Aos leitores deste blog. Estive em férias em Londres. Convido-os a acompanhar o meu relato: 12 dias, 9 museus, 9 linhas de metrô, 13 boroughs, dezenas de lojas, cerca de 2400 fotos, 60 vídeos (10 GB de dados) na cidade  mais atraente que conheci até o momento:


sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Panótico vê aqui e agora (265)


Dersu Uzala
(1961)


Extremo leste da Sibéria russa, região do rio Ussuri, 1902-7. Um capitão do exército russo (Vladimir Arseniev, autor do livro homônimo) é topógrafo em uma área inexplorada do império. Encontrando-se perdido, dá de cara com Dersu Uzala, um caçador asiático solitário da etnia Goldi. Dersu e o capitan vão estabelecendo uma forte amizade, e o caçador se destaca por saber sobreviver bem com os recursos da taiga e a tratar os animais como pessoas.




Eu não sabia que existia a versão original do diretor russo Agasi Babayan. Assisti o clássico de Kurosawa uma única vez, em videocassette, no início da década de oitenta. Recordo-me particularmente da famosa cena na tempestade de neve, Dersu recolhendo gravetos até formar uma segura proteção contra o vento e o frio.

Esta história real é cativante. Dersu é dotado de uma moral simples e funcional, demonstra um grande respeito pela natureza, animais e humanos. Gostei mais desta versão do que a posterior de Kurosawa. Embora não haja dúvida de que as imagens do diretor japonês sejam poderosas, o Dersu soviético é menos caricato, menos asiático, menos rural. As cenas estão mais próximos ao naturalismo. A fotografia em tom pastel, bem semelhante às demais produções soviéticas do cinema e tv soviéticos dos anos sessenta, é muito atraente, o verão na região é bem idílico.

A ideologia do filme consiste no bom selvagem de Rousseau e na moral comunista. O homem é corrompido pelo sistema, e particularmente corrompido se for o capitalista. Não é um mundo para Dersu.

Dersu Uzala


segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Panótico vê aqui e agora (264)


Para Roma com amor
(2012)

Um guarda de trânsito romano narra diversas histórias (semelhantemente ao coro grego, esta é uma das referências à comédia clássica que há no filme) sobre pessoas comuns que são ou estão em Roma: a turista americana que se apaixona por advogado italiano pro bono, - com aversão religiosa ao capitalismo e filho de um agente funerário que possui uma senhora voz de barítono ou tenor, - cujo pai (Woody Allen) é um empresário do ramo fonográfico estereotipado e casado com uma psiquiatra que implica com as suas neuroses; um casalzinho italiano que vai a Roma, o marido para tentar descolar um emprego influente, e a esposa professorinha que se deslumbra por astros de tv e cinema; um arquiteto (Alec Baldwin, canastrão) de sucesso que retorna a Roma para relembrar a juventude e funciona como o superego de outro jovem arquiteto (o ator que fez Hulkenberg, do Facebook, não sei o nome dele, não vale o esforço) que está prestes a largar a insegura namorada por uma atriz conquistadora que finge ser intelectual [(dilema já vividos por Christina Ricci e Jason Biggs em Igual a tudo na vida (2003)], usando de sua própria experiência para tentar influenciar o jovem; um homem comum (Roberto Benigni) que, de uma hora para outra, é guindado à condição de estrela, assediado pela imprensa, que quer saber as coisas mais banais a seu respeito, sem qualquer razão aparente.



O filme começa mal, com a mais manjada canção italiana, não sei o nome, não vale a pena, tem a ver com volare e já foi tema de venda de carros no Brasil. Tudo sobre a Itália e os italianos são repisados estereótipos, e o filme tem o tom de pastelão típicos. Quem conhece o cinema italiano dos cinquenta ao setenta (eu, não) poderá identificar diversas situações. Além das preocupações constantes de Allen: o insucesso no amor, o sentido da existência, a insatisfação permanente, etc. o diretor escolheu como alvo o estrelismo e a submissão à este estrelismo. Idiotas e banais não são apenas os atores, mas o seu público, que é partícipe desta bobajada.


O filme é bem engraçado, contudo, Roma é a principal atriz do filme, e acho legal que Allen filme pessoas comuns andando pelas ruas, sai um pouco desta coisa voltada para turistas. Penélope Cruz é ótima atriz, dispensa maiores palavras, mas funciona mais como diversão para o marido ou namorado que foi ver o filme porque a namorada ou esposa assim o pediu. No mais, não é o melhor e nem o pior de Woody Allen, prefiro o que ele filmou em Londres e o anterior em Paris.


domingo, 1 de julho de 2012

My best loved 1982 rock albums (7)


Peter Gabriel IV



Por ter conhecido o Genesis já sem Peter Gabriel, eu não lamentava a sua saída do Genesis, como faziam todos os fãs mais velhos, e o Phil Collins ainda não havia transformado a banda em um veículo de música pop, com o consentimento dos demais. Dada a enorme credibilidade do cantor original do Genesis, eu adquiria o que Peter Gabriel lançava no mercado fonográfico certo de que seria algo muito bom. Nunca me decepcionei com os seus trabalhos, até os dias atuais, e ele me parece o músico mais íntegro de que tenho notícia, em todo o planeta. Mas também nunca achei que os seus trabalhos solo tinham o mesmo nível de qualidade e emoção dos seus tempos da minha banda predileta.

Este álbum eu ouvi pela primeira vez em um vinil importado de um amigo, com uma etiqueta rotulando o disco como "Security". Meses após, ele foi lançado no Brasil sem título, e a crítica o acostumou a numerá-lo como IV.

The rhytm of the heat me causou um certo estranhamento, por seu conteúdo tribal (não havia ainda nada definido como world music, nos idos de '82, e muitos de nós acreditávamos que os músicos ingleses e estadunidenses, na sua maioria, desconheciam a música do terceiro mundo). Não achei-a feia, mas pensei: isto não é o rock progressivo de que gosto. Mas eu sabia que Peter Gabriel não pretendia fazer o som do Genesis, e queria outras sonoridades.  San Jacinto, com este título latino, me reforçou a ideia da canção anterior, mas é uma faixa muito bonita, particularmente quando Gabriel solta a voz e a emoção tendo os teclados de Larry Fast ao fundo. Shock the monkey é o que mais se aproxima de uma faixa pop, e o stick do baixista Tony Levin, futuro membro do King Crimson, marca a memória da música. Lay your hands on me, sempre utilizada nos shows quando Peter Gabriel era carregado pela plateia, sintetiza o que me parece ser o conjunto temático do disco, sempre tive a sensação de que o álbum é conceitual, há uma linha, ou um círculo, envolvendo todas as canções. Em IV Peter Gabriel parece ter delineado o seu universo de interesse das décadas seguintes, uma espécie de humanismo universalista.

Após a sua saída do Genesis, IV  foi o álbum que lhe grangeou um novo público, lembro-me de que pessoas que não conheciam o Genesis ou eram seus fãs curtiram bem o álbum duplo ao vivo que lhe é posterior, com versões ampliadas ou pelo menos ligeiramente modificadas das faixas do vinil.











My best loved 1972 rock albums (7)




Re-Make/Re-Model
(Roxy Music)
Andy Mackay, Rik Kenton (?),  Phil Manzanera, Brian Eno, Bryan Ferry, Paul Thompson


No início dos anos oitenta havia poucas opções de leitura sobre rock aqui no Brasil. Eu comprava a Som Três, uma revista sobre equipamentos de som, e nela havia algumas resenhas e matérias sobre rock.. Ao ler a primeira vez sobre o Duran Duran tomei conhecimento do Roxy Music. Nos anos seguintes, todas as matérias sobre bandas new romantic afirmavam o mesmo: David Bowie e Roxy Music foram as maiores influências do gênero. Ouvi muito Brian Eno por esta época, e sua série Ambients era o que havia de mais vanguarda então, ou pelo menos, de mais vanguardista com propósitos. E Brian Eno tinha sido o tecladista do Roxy Music. No mesmo dourado ano de '82 o Roxy Music lançou Avalon, que era, e é, um bom álbum pop, e não mais que isso. Deixei, então, para ouvir os quatro primeiros álbuns da banda quando houvesse tempo (leia-se dinheiro) de sobra. Havia muitas outras premências. Em '86 gravei o videoclip de Re-make/Re-Model, e achei a participação de Brian Eno muito boa, na que é para mim a melhor faixa do primeiro disco deste grupo britânico. Quanto ao cantor Bryan Ferry ele me parecia, e ainda parece, uma espécie de Roberto Carlos, sempre com aquela coisa do elegante cantor romântico que pode muito bem cantar em Las Vegas ou em um restaurante decadente qualquer (e também nunca gostei do trejeito dele cantando com os olhos fechados). Nos seus melhores momentos, faz um popizinho bem legal, mas não tem nada a ver com espero de cantores de bandas de rock.




A história básica do Roxy Music é bem conhecida: estudantes de Arte, Brian Eno e Bryan Ferry estavam interessados em fazer algo diferente dos dominantes rock progressivo e hard rock do início dos setenta. Brian Eno, apesar de ser o mais glitter de todos, tão ou mais pó de estrela que Bowie, desde o início da banda avancou pela eletrônica. Não sei se a sua saída foi obra dele ou do amigo rival Bryan Ferry. Francamente isto não me interessa muito, mas o fato é que o segundo disco do Roxy Music, Strended (1973) é uma bela porcaria, não há uma faixa que salve. E o interesse geral pelo Roxy Music é maior por seus figurinos do que pela música propriamente dita, então, não poderia mesmo ser uma banda entre as minhas prediletas.



Mas, independentemente disto tudo, Re-Make/Re-Model é um dos melhores discos de '72. A faixa homônima é bem animada, e define bem as intenções da banda. Ladytron vale pelos teclados de Brian Eno, meio à la King Crimson. Virginia Plain é bem bobinha, uma coisa meio faroeste, meio teatro de can can, é a preferida dos críticos de rock meio cabaret, e novamente vale pelo que Brian Eno faz ao final e pela guitarra meio Velvet Underground de Phil Manzanera. 2HB começa com o ótimo teclado de Brian Eno - está ficando chato né? - mas tem uma melodia mais de banda, até o saxofone de Andy Mackay cai bem no conjunto. The Bob tem um som mais pesado, Bryan Ferry deu um caprichada nos vocais, e a faixa trata da Batalha da Inglaterra (1940), ouve-se tiros de canhões. Achei o final da canção coisa de rock progressivo quando caricato e mal feito. Chance Meeting tem um clima meio disperso que era a alegria de muita banda dos oitenta. Would you believe é apenas o péssimo rock and roll estadunidense dos anos cinquenta, ieiêiê mais infantil.

Foi bom reouvir esta obra. Adquiri o vinil importado em '89 e o cd (também importado) alguns anos depois.