Juiz de Fora

sábado, 13 de setembro de 2014

O blogueiro dobra a esquina.

Fazer meio século de vida impressiona. Por um lado, você fica contente de ter chegado a tanto. Por outro, você sabe que dificilmente vai ter outro meio século de vida. O meu corpo e a minha mente não aceitam este número. Não tenho nenhuma doença crônica, não sinto nenhuma dorzinha,   tenho a curiosidade e ansiedade dos mais jovens, meus pais estão bem-vivos e com saúde, não fiquei rico, mas não me falta dinheiro para comprar o que quero. Na verdade, não quero comprar coisa alguma. O meu único consumo extra é viajar.

Se aos cinquenta anos você não "venceu" na vida não adianta se desesperar. Prefiro uma boa tarde de sono a uma boa tarde de trabalho. Prefiro ler um bom livro ou ver um filmaço do que disputar mercado. Cansei de ver gente que ganha o dobro ou triplo do que eu e que diz: "eu não tenho tempo para ver um filme", "eu não tenho tempo de ir ao cinema", "eu não tenho paciência para ouvir um cd inteiro" "eu não vi a minha filha crescer". E ficam lá, satisfeitos por poder comprar um carro de cem mil reais para se irritar no centro engarrafado.

Por esta altura da vida já li mais de mil livros, mas "nenhum livro me ensinou a viver" (detetive Pepe Carvalho, personagem de Manuel Vázquez Montalbán). Stravinsky, com quase noventa anos, disse que a única sabedoria da velhice é que ela se parece com a infância.

Eu posso dizer, sem sombra de dúvida, que a alegria mais constante da minha vida foi ter tido o privilégio de ouvir música, é difícil descrever o seu significado na minha existência.

Vou publicar aqui a minha preferida para ano da minha caminhada. Ofereço como presente a qualquer um que queira ouvir. Obrigado.

Enaldo Pereira Soares (14/09/1964 - ?)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

"As pessoas deveriam viver como pessoas, não como pacientes" (394-395)


Gordo, doente e quase morto
(2010)



Joe Cross é um australiano de Sydney, com quarenta e poucos anos. Após terminar o ensino médio decidiu não fazer faculdade e passou a trabalhar no mercado financeiro. Aos vinte e três anos montou a sua própria empresa e ficou rico. Passou a comer de forma avassaladora carne, refrigerantes e comida processada. Chegou aos cento e trinta quilos e desenvolveu uma doença rara em função da má alimentação. Sentia diversos sintomas da obesidade mórbida, tomava vários remédios com diversos efeitos colaterais e, alguns anos atrás criou coragem e deu um basta. Joe passou a se alimentar exclusivamente de sucos naturais de vegetais e frutas. Aqui ele conta a sua história e de outras pessoas.

Toda vez que assisto um documentário sobre vegetarianismo e comida saudável eu fico com a alma lavada e enxaguada. Os efeitos positivos sobre as pessoas documentadas são notórios. Joe é muito simpático e percorre os EUA perguntando e propondo às pessoas a sua dieta de sucos. Mas apenas sucos? Tão somente. Claro que há orientação médica e ele não está vendendo o elixir da eterna juventude. Achei interessante ele dar oportunidade às pessoas falarem sobre os seus hábitos alimentares. Falta de informação, paladar viciado, e preguiça predominam.

Este caminhoneiro pesava quase duzentos quilos antes da dieta de sucos.





Alimentação é importante
(2008)



Food matters é um documentário que tem alguns eixos: o prejuízo que representa a alimentação cozida comparativamente à alimentos crus, a importância das vitaminas, a indústria farmacêutica e o seu entrelaçamento com a medicina institucionalizada, a importância da alimentação para a prevenção de doenças degenerativas. Da mesma forma que Troque a faca pelo garfo, já resenhada aqui, o vínculo entre os interesses dos fabricantes de remédios, hospitais e em édicos em manter as pessoas permanentemente sem cura é analisado, mas em um nível mais claro e profundo. É um documentário que deveria ser visto por todo ser humano, principalmente quando estão gastando tubos de dinheiro com tratamento ineficaz para doenças como câncer.

Os dois documentários estão disponíveis no Netflix e no Youtube.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Filme palestino que não subestima Israel (393)


Omar
(2013)



Cisjordânia, na década passada. Omar é um jovem e pobre padeiro palestino, apaixonado pela estudante secundarista Nadia, irmã de Tarek, e também desejada por Amjad. Tarek, Omar e Amjad são amigos de infância e integram uma célula dos Mártires de Al-Aqsa, braço militar da Fatah (secularista e socialista, salvo melhor informação). Omar escala o muro de Israel para encontrar com a amada, arriscando-se a levar uns tiros. Impulsivo, após reagir de forma tola diante de zombeteiros soldados israelenses, Omar participa de um covarde homicídio contra um desconhecido soldado israelense desarmado que fazia tarefas rotineiras em um quartel do exército. Capturado, a vida de Omar passa a pertencer aos outros.



Dirigido por Hany Abu-Assad (de Paradise Now), um palestino criado em Israel, este ágil filme sobre política, amor e traições é favorável à causa árabe, mas não demoniza os israelenses e nem santifica os terroristas palestinos. A trama é complexa e cheia de surpresas. Excelente.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"Havia apenas quatro soldados quando mil foram encaminhados para a câmara de gás" (392)


A Grande Mentira
(2010)



Berlim Oriental, 1965. Três agentes da Mossad israelense querem sequestrar um ex-médico carniceiro do campo de concentração em Birkenau, que trabalha tranquilamente como ginecologista na capital da Alemanha Oriental. A agente (Helen Mirren, trinta anos depois) fica grávida de um colega enquanto se apaixona por outro. A missão os torna heróis em Israel, mas décadas após a verdade pode vir à tona.

Este é um filme de mediano a bom. Acho que prenderá a atenção mais de quem se interessa por triângulos amorosos do que pela trama moral e/ou política. Mas há uma fala audaciosa e instigante que me faz valorizar o que assisti. Refilmagem de filme israelense de 2007.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Um filme escandinavo que não apela para a sordidez subterrânea. (391)


Depois do casamento
(2006)




Jacob, um voluntário dinamarquês que trabalha em um orfanato de Bombaim (Mads Mikkelsen), é pressionado por sua chefe a viajar para Copenhagen e solicitar verbas a um empresário bilionário, Jörgen, que faz doações a entidades assistenciais. Chegando lá Jacob observa que o doador não está nem aí para causas humanitárias e o está manipulando. Convidado a comparecer no casamento da filha do empresário com um de seus funcionários (é indisfarçável o interesse do jovem pelo poder econômico do sogro), Jacob dá de cara com uma antiga paixão, Helene, mulher do magnata. Já não o fosse bastante impactante, a noiva faz um discurso na cerimônia em que revela aos convidados que o seu pai biológico não é Jörgen. Vem muita água por aí.

A maioria dos filmes escandinavos bate na mesma tecla. Enquanto filmes latino-americanas insistem: "nós somos uma sociedade ruim por culpa da burguesia", os do norte da Europa têm o seu mantra: "não somos o paraíso que imaginam, experimentem um pouco das nossas perversidades". As reações aqui,no entanto, são proporcionais, talvez com menos dramaticidade do que nos trópicos, mas as pessoas sofrem por razões legítimas. As dúvidas dos personagens são verossimilhantes, as suas escolhas têm a ver com o peso das opções. Não há psGostei bastante.