Juiz de Fora

terça-feira, 31 de maio de 2011

Libertação animal



Há alguns anos atrás eu estava pescando e enquanto fisgava o pobre peixe, eu pensei: "Eu estou matando-o, tudo isto para me dar prazer" e eu me dei conta, enquanto o observava o seu esforço por respirar, demonstrava que a vida dele lhe era tão importante quanto a minha vida para mim.


Carros (3)























Estas baratinhas fazem parte da coleção de sessenta carros do estilista Ralph Lauren, em exposição no Musée des arts décoratifs, em Paris, até 28 de agosto.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Panótico vê aqui e agora (114)


Harjunpää
(2010)



Timo Harjunpää é um inspetor de polícia civil em Helsinki (mais um filme finlandês), casado, honesto, e pai de duas filhas. A mais velha vai a um show de rock, sozinha, e seu pai vai buscá-la logo após. Mas não a encontra. Não é difícil adivinhar o que aconteceu. O homicida é preso, sentenciado e cumpre pena privativa de liberdade. Mas Harjunpää aguardará a sua liberdade condicional.




Paralelamente, um jovem muito arisco fotografa o cotidiano de Harjunpää simultaneamente em que comete alguns homicídios sem aparente conexão.


 
Em 1974 eu vi um videoclip do Abba (Mamma Mia) e alguns anos depois um documentário sobre a Suécia que encheu as minhas primeiras fantasias de sociedades ideais. A partir daí o norte da Europa sempre me despertou interesse. Acho que é por isto, em parte, que qualquer filme daqueles lados me atrai.
Harjunpää é semelhante a centenas de filmes sobre vingança e justiça, sobre a diferença entre o exercício arbitrário das próprias razões e entre a plenitude de defesa, o contraditório e o devido processo legal que são garantias inafastáveis de um Estado democrático de direito, da diferença entre civilização e bárbárie, da diferença entre nós e eles, os monstros. Você torce para que o protagonista vingue a morte gratuita da filha, mas há fortes razões para não fazê-lo. Harjunpää é de narrativa estadunidense, mas não chega a ser um blockbuster. Gosto muito também da paisagem urbana finlandesa, suas avenidas largas, seus espaços distantes.

O Panótico vê aqui e agora (113)


Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia
(1974)


 
México (?) 1815 (?): uma jovem grávida banha-se em um rio com uma amiga ou empregada. Chegam dois cowboys, de jeans e colt 45 (ah, então é EUA pós-1845!) e dizem à moça: El jefe te aguarda. Em seguida, em um casarão em pleno deserto do México, el jefe pergunta à filha, diante de familiares, membros da Igreja Católica e estranhos:

- Quien te dejou embarassada?

Descoberto quem fez mal a la donzela, el jefe habla:

- Quiero la cabeza de Alfredo Garcia. Un millon de dolares, vivo o muerto! [perdóname mi español]

E aí, do nada, saem um monte de carrões anos setenta à procura de Alfredo Garcia.


Dois dos desperados vão ao encontro de um pianista em um mafuá do Novo México, e lhe oferecem un puñado de dolares por informações. O pianista Bennie pegunta a Elita adonde está el Garcia, tu namorado e ela diz: él ha morrido en Mérrico. Bennie vai para o México à procura de uma evidência da morte de Alfredo Garcia.


Realmente, Quentin Tarantino deve uns millons de dolares a los herderos de Sam Peckinpah.

Profissionalismo



Ontem o meu carro deu de não destravar a porta do motorista e eu passei pela desagradável experiência de ter que sair pela porta do carona, coisa que eu nunca vi em automóveis. Hoje, após o almoço, levei o carro até à oficina que instalou a trava eletrica há dois anos atrás. Lá deixei o carro às 13 h e 40 min. O rapaz responsável perguntou-me:

- Você quer o carro para agora? Eu preciso mexer no motor da trava.
- Não, você pode me entregar no fim da tarde, sem problemas.
- Que horas? Às quatro e meia está bom para você?
- Pode ser inclusive mais tarde, eu não preciso dele hoje. Você fecha a que horas?
- Por volta das sete da noite.
- Às cinco e meia está ok?
- Está ótimo, pode buscar às cinco e meia.

Fui para o centro cuidar de outros assuntos, e no caminho de volta passei às quatro e meia na oficina, para ver como iam as coisas, lá havia mais dois carros, e o mecânico de papo com duas loiras. Ele, vendo-me, disse:

- Cara, ainda não tive tempo de consertar o seu carro. Às cinco e meia eu te ligo.

Como não compensava para mim ir para casa, entrei em uma lan house e lá passei uma hora.

Retornei à oficina, e o sujeito ainda consertava os carros que haviam chegado após o meu.

- Cara, volta às sete, que eu te entrego sem falta.

Fui à uma pizzaria, comi um brotinho vegetariano e fiquei vendo tv para dar um tempo.

Retornei às sete e o mecânico nem sequer estava lá.

Um cliente me disse:

- Ele deu uma saidinha e me deixou tomando conta da oficina. Acho que ele não pegou o seu carro, não, pois o meu ainda está pela metade. Ele foi levar a mãe do outro cliente em casa.

Aguardei mais vinte minutos e o mecânico, todo alegre, deu as caras:

- Cara, volta amanhã, hoje eu não tive tempo de nada. É muita correria.

...............

Vou voltar, sim...

domingo, 29 de maio de 2011

Ganhando dinheiro ensinando a errar.



O governo federal anda a defender uma publicação oficial, destinada ao ensino básico, repleta de erros gramaticais. Dentro daquela linha "o povo tem direito de escrever e falar mal, e não pode ser corrigido", típica do mais deslavado populismo (lógico que os filhos dos dirigentes frequentam instituições caras e de qualidade), o MEC não volta atrás. Como ando meio desligado das questões pedagógicas (graças a Deus) publico aqui esta opinião sobre quem se debruçou ante o incidente:


R E P A Ç A N D O . .                         .

(Carlos Eduardo Novaes,  Jornal do Brasil).

Confeço qui to morrendo de enveja da fessora Heloisa Ramos que escrevinhou um livro cheio de erros de Português e vendeu 485 mil ezemplares para o Minestério da Educassão. Eu dou um duro danado para não tropesssar na Gramática e nunca tive nenhum dos meus 42 livros comprados pelo Pograma Naçional do Livro Didáctico. Vai ver que é por isso: escrevo para quem sabe Portugues!

A fessora se ex-plica dizendo que previlegiou a linguagem horal sobre a escrevida. Só qui no meu modexto entender a linguajem horal é para sair pela boca e não para ser botada no papel. A palavra impreça deve obedecer o que manda a Gramática. Ou então a nossa língua vai virar um vale-tudo sem normas nem regras e agente nem precisamos ir a escola para aprender Português.

A fessora dice também que escreveu desse jeito para subestituir a nossão de “certo e errado” pela de “adequado e inadequado”. Vai ver que quis livrar a cara do Lula que agora vive dando palestas e fala muita coisa inadequada. Só que a Gramatica eziste para encinar agente como falar e escrever corretamente no idioma portugues. A Gramática é uma espéce de Constituissão do edioma pátrio e para ela não existe essa coisa de adequado e inadequado. Ou você segue direitinho a Constituição ou você está for a da lei - como se diz? - magna.

Diante do pobrema um acessor do Minestério declarou que “o ministro Fernando Adade não faz análise dos livros didáticos”. E quem pediu a ele pra fazer? Ele é um homem muito ocupado, mas deve ter alguém que fassa por ele e esse alguém com certesa só conhece a linguajem horal. O asceçor afirmou ainda que o Minestério não é dono da Verdade e o ministro seria um tirano se disseçe o que está certo e o que está errado. Que arjumento absurdo! Ele não tem que dizer nada. Tem é que ficar caladinho por causa que quem dis o que está certo é a Gramática.


Até segunda ordem a Gramática é que é a dona DA verdade e o Minestério que é DA Educassão deve ser o primeiro a respeitar.


T.V.Glotzer (26)



The big band theory
(4.ª temporada/2010-1)

Minha segunda série predileta tem uma enorme vantagem: aqui ninguém é usuário de drogas a ponto de abandonar o emprego, e nos deixar na mão, como fez Charlie Sheen. Os bem comportados atores de Big band theory têm folego para mais uma meia dúzia de temporadas. O último episódio da atual, as always, foi surpreendente.

T.V.Glotzer (25)


House
(7.ª temporada/2010-1)

Esta semana foi encerrada a sétima temporada de House, e o mais humanista dos médicos aprontou uma que vai garantir uma excelente oitava temporada. É aguardar até outubro.

sábado, 28 de maio de 2011

A filosofia também gera piadas



Qual é a diferença entre a máfia e o desconstrutivismo?

A máfia faz uma proposta que você não pode recusar. O desconstrutivismo faz uma proposta que você não pode entender.

O Panótico vê aqui e agora (112)


Ovsyanki
(2010)



"Se a sua alma dói você deve escrever sobre as coisas a seu redor". Aist tem quarenta anos, pertence à etnia merja, com origem na Finlândia, e vive na Rússia. Simultaneamente em que fotografa várias colegas de fábrica, é chamado pelo colega Miron a realizar os funerais de Tanya, esposa deste. Ambos fazem uma viagem em direção ao rio Neya, próximo ao Volga.

Filme melancólico sobre a perda. Sem título em português, Silent Souls foi dirigido por Alexei Fedorchenko.


Mas não me comoveu. A abordagem: "o capitalimo destruiu nossa etnia" é um tema recorrente dos filmes. A manutenção dos funerais de cremação e a exaltação do rio como razão e fonte da vida pode tocar aos mais sensíveis, somada à paisagem russa de meia-estação. Mas o padrão "nós não temos pressa em narrar" do cinema eslavo não colabora. A total falta de carisma das personagens e atores, menos ainda. Eu penso que o antídoto contra o cinema fast-food não deva ser a produção de uma estética que cobra do espectador um grau acentuado de sensibilidade.




sexta-feira, 27 de maio de 2011

Keith Jarrett in Rio

 


O pássaro negro senta-se ao piano, estende as mãos, começa a tocar
levanta-se, emite gemidos inteiros, bate os pés como um neandertal foca
o contratempo
o pássaro quebra paradigmas
o som da boca é mesmo um ahymé!
do piano surge um improviso melismático, contracenando com algum tango, algumas células de Stravinsky
o piano vai a ele numa atração mútua, aquele sistema se rearranja para caber numa dissolução nova
agora o pássaro estica-se todo
agora o pássaro enrola-se sobre o próprio corpo e aproxima a cara do teclado como se quisesse ouvir a voz da madeira
totalmente pássaro, uma parte dobra-se enquanto a outra olha para nós
volta para o tris, chegando rente ao público como um pingüim aquecendo-se um pouco.
Dobra-se todo na escuridão da humildade.

(Luiz Fernando Medeiros)

O Panótico vê aqui e agora (111)


A fita branca
(2009)


Às vésperas da primeira guerra mundial, em uma aldeia prussiana, um severo pastor luterano pune de forma humilhante o casal primogênito de filhos adolescentes por serem pegos brincando no parquinho: ao braço dos dois é amarrada uma fita branca, por meses a fio, símbolo de punição e busca da pureza.



Paralelamente, uma série esparsa de incidentes violentos abala o aparente sossego da bem-comportada localidade.
Narrado por um tímido professor de trinta e um anos, um dos poucos que simboliza a razão e valores liberais, ainda que com pouca ousadia, este filme, - com uma belíssima fotografia em preto e banco, particularmente nas cenas invernais - trata da moral familiar repressiva e de toneladas de hipocrisia.














Uma coisa é certa, ninguém impõe uma ética a quem não quer ou não tem condições de lhe compreender.






Tudo o que este garotinho quer é o amor do pai (ou não lhe sentir tanto medo), mas este só demonstra o temor por Deus.


quinta-feira, 26 de maio de 2011

O Panótico vê aqui e agora (110)

Assassinos de elite
(The killer elite/1975)


 
O nome do diretor Sam Peckinpah está associado a cenas de extrema violência, normalmente com a justificativa-clichê de que violento é o capitalismo ou a vida. Como eu já disse que não acredito em duendes, também não acredito que violência em demasia nas telas se justifica filosoficamente. Os filmes são violentos porque assim vendem mais ingressos, produtores e público assim o desejam. Mas, surprendentemente, a violência maior deste filme está nas cenas cirúrgicas, as lutas e tiroteios são quase de faroeste, com pouco sangue. É um filme interessante com um bom ator (Robert Duvall) e outro menos canastrão do que o habitual (James Caan).





Agora, o que não dá engolir é a inserção de assassinos "ninja" na trama. Fora isto, o submundo (submundinho, se comparado aos Bournes da vida) de pistoleiros de aluguel, verdadeiras marionetes, sem dúvida alguma, é capaz de atrair a atenção do espectador. Mas eu duvido que Peckinpah se orgulhasse muito desta obra.

Alegria de pobre




Não são apenas as moças casadoiras que amam as promoções, os professores pobres também gostam - e muito. Estive em um seminário sobre o poeta juizforano Murilo Mendes organizado pela UFJF e CES-JF. Em um espaçoso prédio governamental estilo "we've got the power" (anos sessenta, Niemeyer/militares) o evento, além do alto nível das palestras a que assisti, foi também uma oportunidade para dar um pulo à editora da instituição federal e aproveitar para fazer uma festinha. Com descontos de cinquenta por cento em quase todas as obras, paguei entre seis a vinte reais (o luxuoso Arlindo Daibert: fortuna crítica) para adquirir tudo isto que você está vendo. Detalhe: estes descontos só são oferecidos na própria editora (rua Bejamin Constant, antiga reitoria). Dá um pulinho lá, seu pão-duro, é mais barato que um lanche no McDonalds, rs...

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Panótico vê aqui e agora (109)



Três homens e uma noite fria
(Kolme viisasta miestä/2008)




Matti é um inspetor de polícia civil casado com uma ex-prostituta russa, uns quinze anos mais jovem, grávida de nove meses e que está a cuidar da cozinha, - ai, ai-, na véspera do Natal enquanto o protagonista lhe aborrece com coisas do tipo: "na Finlândia é assim, aqui é assado, não sabe como é na Finlândia?". Matti também acusa a esposa de adultério, o que ela nega, mas não muito. Erkki é um fotógrafo de guerra que se fantasia de Papi Noel para poder ver o filho pequeno no apartamento da ex-esposa. Erkki é paciente terminal de câncer. Rulno é um ator que deixou a família em Helsinki para desenvolver carreira em Paris, mas retorna à capital finlandesa para ver a esposa que acabou de cometer suicídio e na ocasião toma uns tablefes do revoltado filho no hospital.




Os três amigos de longa data, Matti, Erkki e Rulno encontram-se por acaso e resolvem tomar umas biritas na Helsinki gelada e com quase todos os bares fechando para as festividades natalinas. Em um primeiro momento eles afirmam que tudo vai bem, mas o álcool fala mais alto e a vida deles vem à tona.



O que me afigurava um modorrento filme sobre um dos piores temas - casamento - evolui para um triálogo muito inteligente sobre a vida, as chances de cada um, as conquistas e derrotas. Sem aquela chatice característica da filosofia barata, tão ao gosto de quem assiste a Sandra Annenberg no jornal global, coisas do tipo: "reclamar para quê, chorar para quê, a vida é tão maravilhosa mesmo se mora numa favela", o diretor Mika Kaurismaki, habitante carioca desde 1992, como eu poderia saber?!, fez um filme muito inteligente e interessante, com ares de comédia.