Juiz de Fora

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (297)



O Hobbit
(2102)

Sessenta anos antes dos eventos de O Senhor dos Anéis estamos aqui com o jovem hobbit Bilbo Bolseiro, no Condado, sendo solicitado por Gandalf para participar, juntamente com uma dúzia de anões, de uma arriscada aventura com o objetivo de retomar uma cidade-fortaleza que havia sido conquistada por um dragão de fogo apaixonado pelo ouro acumulado pelos pequenos seres (é uma referência óbvia aos Nibelungos de Wagner, ou o quê?)


O Hobbit não me encheu de expectativas, basicamente por duas razões: eu li e gostei (muito) d'O senhor dos Anéis, mas não é um universo que me encheu de fascinação, não li, e nem vou ler, os demais livros de Tolkien, e jamais chegaria ao ponto de querer estudar a língua élfica, acho que certas nerdices beiram à tolices. Por outro lado, não tinha dúvidas que de seria uma produção capaz de agradar ao seu público, pelo menos aquele que não se importa em aceitar algumas alterações em nome da viabilidade comercial da produção.

Este primeiro filme baseado na obra homônima de Tolkien (sim, há mais dois pela frente) traz parte dos mesmos bons atores da saga dos anéis, não vou repetir o nome de todos: Gandalf, Erond, Galadriel, Frodo e Gollum. Há os belos cenários, anões humanizados e não muito mais que isto. O filme só começou a me interessar após uma boa hora de projeção, porque perde-se muito tempo em ganhar a empatia da plateia para com a causa dos anões sem lar. Há sempre aquela baboseira de mostrar os diferentes como simpáticos, bobões, grotescos (com duas péssimas musiquinhas das que enchem o saco na escrita de Tolkien) para que o público se identifique com a trama. O príncipe anão Thorin, ou algo assim, é praticamente um ser humano.


O ator que faz Bilbo desempenha um bom papel de inglês bem-humorado e na sua. Mas a parte que realmente fez valer o meu esforço em ir a eventos públicos foi a de Gollum. São quinze minutos em que senti a plateia satisfeita em ver uma boa atuação, bons diálogos e algum drama. O restante do filme não comove, e não engoli o chefe orc com voz de Jabba the Hut e Gandalf bancando o Jedi Yoda.


Acho que vale a pena ser visto por quem tem algo a ver com O Senhor dos Anéis, do contrário, é uma produção sem autonomia.

Desta vez fui ao cinema em um horário vazio, escolhi uma poltrona estrategicamente (longe dos outros) mas um casal universitário resolveu se assentar justamente ao meu lado. Não tenho queixas do cara, mas a namorada, após muito irritar usando celular durantes os trailers, pôs-se a perguntar, de cinco em cinco minutos, o significado de cada cena ao nérdico consorte. Tive que procurar outro lugar para ficar.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (296)



Liv & Ingmar - uma história de amor
(2012)

"Este é o filme?", pergunta um garoto de uns dez anos para sua irmã adolescente que por sua vez repete a pergunta para sua mãe e sua tia cheias de sacolas de compras. É o filme "Liv & Ingmar" no shopping de sempre, perto de casa, com entrada à meros dois reais. Por que não foram ver "O hobbit"?



Fui assistir este filme por duas razões. Primeiro, na leve esperança de saber um pouco mais sobre os filmes de Bergman. Segundo, porque estou estudando sueco e queria verificar como os suecos se expressam cotidianamente, fora dos padrões dos cursos de línguas.




Na verdade, é um filme meio autobiográfico da atriz Liv Ulmann, que foi atriz, amante e depois esposa do maior cineasta sueco por alguns anos. Achei muito interessante que ela fala de seu amor com a admiração de uma fã, há várias falas que revelam a menina insegura diante de uma autoridade mais velha. Mas o filme é sobre a atriz, não sobre Bergman. É um filme romântico, claramente voltado para o público feminino, com os clichês e emoções previsíveis de sempre.



E mais uma vez eu esqueço que este filme deve ser visto longe da presença de menores de trinta anos, pois dois casais de jovens falaram, comeram e beberam durante quase toda a projeção.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Dia da Consciência Negra.












 





 
 
Não sou versado na Questão Negra. Já li alguns livros e matérias sobre o tema, já vi filmes e documentários (inclusive oficiais) mas é um assunto que não consigo equacionar bem. Já mudei a minha opinião sobre a questão diversas vezes, principalmente sobre quotas e políticas afirmativas para os afroamericanos. É um tema obrigatório nas escolas, mas é um tema delicado e desagradável para os alunos. Não encontramos ainda um jeito de tratá-lo deixando os meninos confortáveis para refletir sobre.
 
Então eu resolvi homenagear a etnia negra desta forma. Não há aqui nenhuma hierarquia ou critério objetivo - estamos falando de pessoas, não de coisas. Fui escolhendo à medida que me recordei deles e delas. Não lembrei de centenas de pessoas fundamentais. Algumas, eu não as coloquei de propósito.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O Panótico não vai ler nem aqui, nem agora e nem depois (32)



Estou participando como ouvinte de um seminário sobre Lúcio Cardoso. Crônica da Casa Assassinada tem sido considerado o melhor romance da literatura brasileira pós-Guimarães Rosa. O autor teria dito que o seu objetivo era "queimar Minas". Eu sabia que o enredo se tratava de uma família de coronéis incestuosos, algo como um Nelson Rodrigues elevado à enésima. Li três páginas e achei insuportavelmente melodramático e fiquei com a seguinte sensação: autor homossexual repleto de culpa resolve dizer para o mundo: "que que tem se eu sou gay? Vocês, héteros, vivem em famílias incestusosas". Sorte a minha que não precisei comprar a obra (toda escola municipal de Juiz de Fora possui um exemplar). Agora, cá para nós: obrigar adolescentes a ler quinhentas páginas para enems e vestibulares, que tortura exigir isto de garotos cujo universo cabe num shopping center.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O Panótico viu ultimamente (286-295)

Aos meus leitores intergaláticos: ninguém dá bola para resenha de filmes, então, a partir de agora, eu vou apenas fazer um breve comentário sobre o que tenho assistido:



Agenda secreta (1990) é um filme do diretor britânico Ken Loach, trata da investigação de um promotor inglês sobre as atividades ilegais do serviço secreto da polícia de sua majestade no combate ao IRA, atividades que resultaram na morte de um advogado estadunidense militante dos direitos civis. Baseado em caso verídico da década de setenta, beira à ingenuidade em uma cena, mas no mais é um filme bem realista. Com Brian Cox (o Agamenón de Tróia) e Frances McDormand (Fargo). Nota 9.

 
 
 
 
Hotel Transilvânia (2012). Vampiro conservador, viúvo, antissocial e com forte sentimento de culpa quer manter a filha em uma redoma encantada, longe dos temíveis humanos. A menina entra na adolescência e lógico que quer o que é proibido. Mais uma fábula politicamente correta sobre diferenças e tolerância. O problema que é muito gritado, barulhento, exagerado, parece desenho matinal, peguei no sono no meio da projeção. Nota 6.
 
 



 

 
Elefante Branco (2012) Padre francês voluntarista e padre argentino pé-no-chão mas a ponto de explodir atuam em uma área próxima à uma construção peronista abandonada que pretendia ser o maior hospital popular latinoamericano (claro que era só pretexto para corrupção). Típico filme populista-esquerdista, parece até as produções brasileiras petistas patrocinadas pela Petrobrás. Com Ricardo Darin, que é o melhor ator argentino da atualidade, o que não quer dizer grande coisa. Nota 5.

 
 
 
 
Bob & Carol & Ted & Alice (1969). Dois casais alta classe média de Los Angeles resolvem explorar a política do corpo. Filme ousado e bem contextualizado do final dos anos sessenta. Natalie Wood muito suculenta, e este Robert Culp é um dos caras mais sem sex appeal que já vi, não convenceria nem a própria esposa a dormir com ele, quanto mais a Natalie Wood. Elliott Gould ainda não era engraçado. E a loura faz um bom papel como dona-de-casa que queria ser certinha, mas muda de ideia, fazer o quê, né? Vale como registro histórico do cinema. Nota 8.
 

 
 
 
Kes (1969). Outro filme importante de Ken Loach, é um marco sobre adolescentes da classe operária britânica. Pode ser considerado um filme pré-punk. Billy sofre bullying e é mal tratado em casa, criando amizade com um falcão, Kes. Nota 8,5.

 
 
 
Os Marziano (2011). Um irmão preguiçoso, fracassado e aproveitador e seu irmão mais velho, bem-sucedido, competente e mesquinho. E um monte de mulheres, lógico, buscando o seu papel no meio do conflito familiar. Eu tenho certeza que por trás de todo filme ruim tem verba pública. Este é o pior filme argentino que já vi, o que não é nada de muito surpreendente, mas eu já tinha acostumado com a ideia de que os argentinos fazem melhores filmes que do que os brasileiros. Nota 2.





Homens de preto 3 (2012) Eu não pego um blockbuster esperando muita coisa. Então, eu acho que valeu a pena: piadas divertidas, efeitos maneiros, várias contextualizações e paródias certeiras, dois atores na medida e alguma emoção genuína. Nota 7,5.




O último Elvis (2012). Um sujeito simplório tem um vozeirão e imita bem o Elvis decadente. O problema é que ele meio que acredita que é o Elvis, ou, menos pior, que vai estourar como cover de Elvis, e poder tirar a si mesmo e a filha, da pobreza. Este filme argentino, nas mãos de quem sabe fazer cinema emotivo (estadunidenses, europeus e asiáticos), teria dado mais certo. Mas acerta parcialmente. Nota 8.


 

Terra e cinzas (2002). O governo afegão ou o exército dos EUA arrasam uma aldeia afegã. Vemos apenas um miserável camponês desesperado, - após perder mulher, irmã e filha, - para levar o netinho que ficou surdo com o bombardeio, mas não o sabe, para o pai do garoto, filho do idoso, que se encontra trabalhando em uma mina em outra localidade. Este é um filme em que tudo deu certo: fotografia, enredo, narrativa, os atores naturalistas, o garoto tragicômico, o absurdo, o desespero, a esperança, os diálogos, os cineastas e contribuintes do cinema público brasileiro chapa branca deveriam ver obras como esta, é possível crítica do que for sem ser demagogo e populista. Nota 10.


 

Skyfall (2012). Nunca gostei de 007. Mas esta série com Daniel Craig ganhou o meu respeito. Este é o melhor 007 de todos. Direção de Sam Mendes, com atores como Ralph Fiennes e Albert Finney, sem falar em Javier Bardem, que que é isso, o cara é demais, é muito talento para um ator só. Locações ótimas em Istambul, Shanghai, Macau e em Londres (diversos lugares pelos quais passei, que saudade), é mais drama que filme de espião. Tomara que Sam Mendes seja convidado a dirigir mais uma meia dúzia como este. Nota 9,5.

domingo, 14 de outubro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (285)






360
(2011)


Uma jovem eslovaca de Bratislava, acompanhada pela irmã caçula, vai até Viena fotografar para um catálogo de prostitutas de luxo, iniciando-se nesta rentável profissão. Ela é contratada por um executivo londrino casado (Jude Law) que passa a ser chantageado por um fornecedor alemão (Moritz Bleibtreu, o Baader de O Complexo Baader-Meinhof). O executivo é casado com uma modelo (Rachel Weisz) que é amante de um fotógrafo brasileiro (um ator que faz papel de paspalhão em uma novela global, aqui no filme sua maior atuação é mostrar a bunda, me recuso a pesquisar a seu respeito) que namora uma carioca (Maria Flor, nunca tinha a visto, minha namorada me disse que ela também é global) que traída pelo compatriota volta para o Rio num voo com escala para Denver (?) e conhece um senhor alcoólatra (Anthony Hopkins, o melhor do filme, sem dúvida) e se atira, um tanto estereotipadamente à brasileira, para os braços de um redneck estadunidense que acabara de sair da prisão por crimes sexuais. Numa outra linha de contatos, um dentista argelino e muçulmano (o comediante  Jamel Debbouze, muito bom, aqui fazendo bem um papel dramático) sofre o dilema ético-religioso por estar apaixonado por sua assistente russa e casada (Dinara Drukarova, de Desde que Otar partiu, excelente filme já resenhado aqui) com um motorista e guarda-costas de um mafioso russo.



Desde o início percebi algumas coisas: em primeiro lugar, trata-se de uma narrativa e abordagem na linha de Babel, a vida das pessoas está interligada de alguma maneira. As diversas locações são muito bem aproveitadas: Londres, Paris, Berlim, Viena, Bratislava, etc..., é filme de quem sabe perceber a beleza urbana do Velho Mundo. E há uma plêiade de grandes atores, gente que foi escolhida a dedo pelo diretor e produtores do filme. E, por último, é óbvio que não há conclusões, assim como a vida, há uma soma de oportunidades e escolhas (com riscos).



 

 

 

 
Gostei bastante do filme e esperei os créditos para saber quem o dirigiu e oh, que grata surpresa, é um filme de Fernando Meirelles, e, oh, parece que não foi patrocinado pela Petrobrás, não é um filme populista, não há propaganda subliminar para o governo Lula-Dilma, não é jabá, parabéns!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (284)



Dead Man
(1995)



William Blake (Johnny Depp) é um jovem contador de Cleveland que vai de trem para uma miserável cidade do noroeste do EUA, em um momento impreciso do século XIX, para aceitar a oferta de emprego de um empresário metalúrgico. Chegando lá, o posto de trabalho já estava ocupado, e Blake, sem grana para voltar, pede abrigo a uma ex-prostituta. O ex-namorado da moça (Gabriel Byrne) tenta matá-lo na cama, é morto por Blake, e este tem que fugir da cidade. O pai da vítima é justamente o empresário dono do buraco (Robert Mitchum) que contrata três psicopatas para irem à caça de Blake. No caminho e ao longo do filme ele é ajudado por um indígena mestiço (Nobody) que acredita que o contador se tratava da reencarnação do famoso poeta inglês.


Eu nunca tinha ouvido falar deste filme de Jim Jarmusch, diretor de Mais estranho que o paraíso e Down by Law, além de outros interessantes. Em preto e branco e narrado em uma sucessão de centenas de pequenas cenas, como se cada uma dissesse algo, lembra certas graphic novels. Há diversos bons atores (John Hurt, Alfred Molina), além de figuraças como Iggy Pop. O som é de Neil Young, que nem merece ser chamado de trilha sonora, parece um adolescente brincando a primeira vez com um pedal de guitarra, mas..., funciona.
 
Lembra muito, embora em tom caricato, aos antigos westerns, nos quais as pessoas eram sempre uns miseráveis, sem rumo, oprimidos pela pobreza do Velho Oeste, e com pouquíssima capacidade ou interesse, que não fosse por um punhado de dólares.


O filme também valoriza o mundo indígena, mostrado em pelos menos duas grandes culturas, com características um tanto distintas dos antigos filmes de apaches e comanches. E Johnny Depp dispensa maiores comentários. É um daqueles filmes que não têm mensagens, não se conclui muita coisa, bem fora do padrão de entretenimento habitual.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (283)




Ted
(2012)



Boston, 1985. John Bennett é um garoto de sete anos discriminado pelos colegas sem nehuma razão específica. Ele ganha um urso de pelúcia, se afeiçoa ao bicho e deseja em uma noite estrelada que Ted pudesse falar. Ted ganha vida, como um Pinóquio, e se torna uma celebridade nacional. Agora John tem trinta e cinco anos e sua maior diversão é fumar maconha com Ted, que só quer saber de um pouco de malandragem. Só que a namorada de John, Lori (Mila Kunis), espera que o namorado tome um rumo na vida.
 
 


 
Eu não iria assistir este filme se não fosse a invectiva de um deputado brasileiro contra o ursinho maconheiro. E a direção de Seth McFarlane, o cômico criador de Family Guy, me animou a ir ao cinema, mesmo porque estas últimas semanas estão brabas em matéria de telas.
 
 
O humor politicamente incorreto e com várias referências à cultura televisiva me atrai. É mais ou menos como se fosse um filme Family Guy. Quem não tem cultura pop, ou é meio estreito em matéria de acidez crítica, não vai gostar, não é um filme idiota para adultos burros, pois as crianças hoje são muito espertas, não engolem essa coisa de ursinhos puffs. Eu sei que ri muito, e Mila Kunis não é só bonitinha. E Mark Wahlberg não é apenas o valentão de subúrbio que distribui porradas.