Juiz de Fora

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Panótico vê aqui e agora (103)


Defamation
(2009)

Este é um documentário do qual não conheço produção semelhante: um filme israelense que aborda, e denuncia,  a "indústria" do antissemitismo, ou numa palavra: vai contra a ideologia do sionismo e do Estado de Israel. Antes de tratar deste empreendimento que nada contra a maré vou explicitar aqui o que penso sobre o assunto, fruto da leitura de dezenas de livros sobre o tema e afins, dos espectros ideológicos os mais antagônicos, por conta de que a leitura de "Exodus", de Leon Uris, já resenhado aqui, despertou o meu interesse sobre o judaísmo muito antes de ter decidido cursar História. Se o(a) leitor(a) quer apenas a minha opinião sobre o filme pode muito bem pular o meu esqueminha. Se, após lê-lo, não concordar com o que digo, é só comentar.

1. O povo hebreu não é melhor e nem pior do que nenhuma outra nação, não foi escolhido por Deus, não merece mais e nem menos o território de Israel, a religião não é fundamento válido para o Direito Internacional.

2. Os hebreus espalharam-se pela Europa anteriormente à Diáspora do imperador Adriano.

3. Durante a Idade Média os judeus foram tolerados pelos muçulmanos e perseguidos moderadamente pelos cristãos, e obtiveram, mediante pagamento, proteção dos imperadores germânicos, principalmente. 

4. Durante a Contrarreforma os judeus foram sistematicamente perseguidos pelos Estados católicos, e Portugal e Espanha perderam com a sua expulsão, devido ao dinamismo econômico dos sefarditas.

5. O absolutismo monárquico na Europa Central e Oriental discriminou sistematicamente os judeus. O antissemitismo alemão é de longa data, e a situação dos judeus, vítimas dos progroms do império russo, contribuiu para o surgimento do sionismo, no final do século XIX.

6. Afirmar que um povo viveu em tal território há séculos atrás não é fundamento válido para "devolvê-lo" às custas de outrem que lá há muito se estabeleceu e lá continua habitando. Do contrário, vamo-nos todos de volta para Portugal ou para a África.

7. Os judeus migraram para a região do Jordão durante o império otomano e durante a ocupação britânica, mediante a aquisição de terras e da usucapião, que, em tese, são formas originárias de propriedade em qualquer sociedade.

8. A Europa e a ONU lavaram as mãos para a situação dos palestinos após a criação do Estado de Israel (1948).

9. Israel foi o grande aliado dos EUA na região, durante a Guerra Fria.

10. A Guerra dos Seis Dias é o grande marco do imperialismo israelense, muito por culpa da própria política militarista da República Árabe Unida (Egito, Jordânia e Síria).

11. O terrorismo de palestinos e aliados não se justifica, é estrategicamente inócuo, e converteu-se em uma indústria de poder (década de setenta aos dias atuais).

12. Os Estados muçulmanos vizinhos usaram Israel como desculpa para não se converterem em democracias. 

13. Assim como parte dos palestinos não apoiam o terrorismo, parte dos israelenses não apoiam o sionismo.

14. A obra Os protocolos dos sábios de Sião (1897) foi uma farsa de burocratas reacionários do governo do czar Nicolau II que se opunham à reformas liberais. Independentemente disto, é pública e notória a influência dos judeus nos meios de comunicação da Alemanha de Weimar, e nos EUA dos séculos XX e XXI.



Yoav Shamir, um jovem de uns trinta anos, dirigiu e narra, em inglês com sotaque iídiche, creio, este documentário na linha de Michael Moore, com o mesmo humor inteligente, mas um pouco menos militante, não tão pessoalmente invasivo como o cineasta de Flint, Michigan. Shamir observa que: nunca sentiu pessoalmente o antissemitismo a que o Estado de Israel e a imprensa israelense atribuem a toda e qualquer nação, não só às muçulmanas, mas também às latinoamericanas, à França e à Alemanha. Membro da terceira geração de israelenses (a primeira é a do Holocausto, a segunda, já nascida em Israel após a independência) Shamir demonstra como o governo cria e mantém, entre os mais jovens, que a princípio não se emocionam pela tragédia dos avós, um permanente medo dos estrangeiros. Simultaneamente, vai aos EUA e filma as agências que trabalham a todo instante para detectar possíveis traços de antissemitismo em qualquer coisa que se publique na Terra do Tio Sam. Alguns depoimentos são marcantes: um judeu idoso afirma: antissemitismo não existe, uma judia idosa e oriunda do leste europeu critica os judeus estadunidenses: eles não vêm para cá (Israel) porque só pensam em dinheiro, e por aí vai. Deve ter dado o que falar este documentário lá pelos lados de Tel Aviv.


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