Juiz de Fora

domingo, 25 de outubro de 2015

A história de Adèle H. (417)


A história de Adèle H.
(1975)



Halifax, 1863. Durante a Guerra de Secessão (1861-5) a Inglaterra cogitou de intervir nos EUA apoiando a Confederação. Enviou tropas para a capital da Nova Escócia, província canadense. Para lá foi o tenente inglês Albert Pinson e em seu percalço a jovem Adèle H. (Isabelle Adjani), a pretexto de ter sido enviada para cuidar de interesses da irmã junto ao oficial. A protagonista na verdade é louca pelo cara, que é mulherengo e não a mais.

Adèle Hugo (1830-1915) foi a quinta e última filha de Victor Hugo (1802-1885). Quando a família do escritor se exilou em Guernsey ela conheceu o oficial do exército inglês, recusou uma proposta sua de casamento, mas nos anos seguintes passou a segui-lo e tornou-se obcecada pelo jovem. Sustentada pelo pai, Adèle vai enlouquecendo gradativamente.

Este é o tipo do filme que conheço de nome desde os tempos do videocassette, há uns trinta anos. Nunca o vi acreditando ser muito romântico. E o é, num bom sentido. Dirigido pelo mestre Truffaut, o mais sedutor contador de estórias da Nouvelle Vague, é filme de uma época em que os franceses tinham um diferencial notório para com os filmes de Hollywood. Gostei demais do filme, Adjani realmente era uma grande atriz, e foi bom eu não conhecer nada sobre sua vida. Há algumas imprecisões, Adèle H. no filme aparenta ter uns vinte anos (na realidade tinha pelo menos trinta e dois) e não era a segunda filha do grande escritor francês (de quem nunca li nada, por sinal, e não sabia da extensão do seu reconhecimento junto ao público francês de sua época)

sábado, 24 de outubro de 2015

Ponte dos espiões (416)


Ponte dos Espiões
(2015)



Nova York e Berlim Oriental, 1957-61. Um "espião" soviético é preso nos EUA e um advogado especializado em seguros (Tom Hanks) é nomeado seu advogado dativo. Inicialmente resistente a lidar com esta causa, e já avisado de antemão que tudo seria um simulacro de juízo independente e imparcial, o defensor enfrenta pressões e hostilidades de todos os lados. Convicto da necessidade do devido processo legal e da ilegalidade da prisão de seu cliente, o advogado leva a defesa até a Suprema Corte. Paralelamente, é envolvido nas negociações do oficial da aeronáutica Francis Gary Powers, abatido em seu U2 quando espionava a URSS, preso e condenado a dez anos pelos russos.

Havia quatro boas razões para que eu fosse ver este filme: gosto de Tom Hanks, ele não entra em roubadas há muitos anos, Spielberg é pegajoso, mas com muito talento e correção política, roteiro dos irmãos Coen, eu fico com muita saudade de ir ao cinema, não tinha nada para fazer e é pertinho de casa. Então são seis razões.

O filme é razoável e plausível até a metade, embora inicialmente eu não desconfiasse se tratar de um caso verídico. A partir do momento em que a ação se desloca para Berlim Oriental eu detestei o filme. Berlim é tratada como uma gélida cidade, muito semelhante ao Gueto de Varsóvia, os militares da DDR são caracterizados como nazistas e o povo alemão como humilhados judeus em fila indiana. Ridículo, Spielberg não precisava, mais uma vez, nos relembrar do Holocausto. As negociações com os burocratas stalinistas são um saco, e, para falar a verdade, eu acho esta estória toda de espiões na Guerra Fria uma bobajada sem fim, encenação para aterrorizar o povão. Um filme decepcionante.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A dama dourada (415)


A dama dourada
(2015)


Los Angeles e Viena, 1998. Maria Altmann (Helen Mirren) é uma senhora judia austríaca, cuja rica família de Viena foi vítima do Holocausto, que decide entrar com uma ação judicial para recuperar o quadro que Gustav Klimt pintou de sua tia. Esta obra e outras do mesmo pintor encontram-se em posse de uma galeria vienense, e a protagonista quer aproveitar um programa governamental daquele país europeu no sentido de restituir as obras de arte roubadas durante o nazismo às suas famílias judias proprietárias Altmann contrata um escritório de advocacia que indica um novo funcionário, por coincidência neto do músico judeu austríaco Arnold Schönberg. O advogado demonstra pouco interesse sobre suas origens e pouca paciência com a idosa geniosa e um pouco rabugenta. Ciente de que o quadro de Klimt está avaliado em mais de cem milhões de dólares ele resolve correr atrás, indo à capital austríaca.




O filme baseado em fatos reais tem vários pontos de interesse: o tema da restituição das obras de arte, uma questão de justiça reparadora; as questões processuais e políticas envolvidas; e a atuação de Helen Mirren que tira de letra a personagem. Pode não agradar ser mais um filme sobre o Holocausto, a simplificação e os estereótipos jurídicos, a personagem pouco atraente do austríaco "consciente" (Daniel Brühl, sem muito o que fazer aqui) e a dedicação da protagonista à sua causa por questões meramente éticas e sentimentais pode não ser muito convincente. Mas é um filme interessante. Particularmente, torci para que as obras permanecessem na Áustria do que irem parar em algum banco estadunidense.

No Netflix brasileiro, onde raramente se vê bons filmes recentes.

domingo, 18 de outubro de 2015

Magia ao luar (414)



Magia ao luar
(2014)




Riviera, 1928. Stanley Crawford (Colin Firth) é um inglês ateu, racionalista, cético, mau-humorado, esnobe, etc. que atua como um mágico bem-sucedido na personagem de um chinês estereotipado. Um amigo mágico e seu rival o convida a desmascarar uma bela jovem estadunidense (Emma Stone) que faz carreira praticando estelionato como médium junto à famílias ricas. Crawford passa alguns dias em contato com a moça afirmando todo o tempo que ela é uma charlatã e disposto a prová-lo. Mas ele vai ter surpresas.

Temas aqui recorrentes nos filmes de Woody Allen: a oposição à metafísica, a defesa de uma visão racionalista do mundo, a infelicidade e perplexidade diante da falta de sentido na vida e a recusa em abraçar a religião apenas como conforto. Paralelamente, há a possibilidade ou não do amor entre pessoas muito diversas, quase opostas, a também perplexidade diante das escolhas racionais do coração. Lembrei-me de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen e também Tudo pode dar certo (2009) do mesmo diretor.

Talvez o espectador estranhe um pouco o didatismo do filme, as questões são bem óbvias, não é necessário que o protagonista explique a suas perspectivas de uma forma tão evidente, a menos que seja proposital para alcançar um público menos afeito aos filmes de Woody Allen. Ou menos afeito a qualquer filme que se tenha que pensar um pouco.

sábado, 17 de outubro de 2015

El artista (413)



El artista
(2008)


Um "enfermeiro" quase simplório cuida de um senhor em um asilo psiquiátrico e assume os seus desenhos e pinturas. Observa que arte dá dinheiro e entra meio de improviso no mundo do mercado pictográfico. Sem quaisquer referências e com um currículo maquiado, cai nas graças de um merchant e de um curador.


Este filme argentino e uruguaio faz uma crítica muito pertinente e satírico ao mundo dos desenhistas e pintores. Aqui as questões centrais da arte são colocadas em relevo, e principalmente os estereótipos do meio: artistas, curadores, negociantes, críticos, professores, estudantes, tietes, todo mundo é afetado, pedante e espertalhão. O bronco protagonista entra mudo e sai calado das entrevistas e vernissages e isto somente o torna ainda mais genial aos olhos da galera. 

O filme também vale pela fotografia.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Um toque de pecado (412)


Um toque de pecado
(2013)



Grandes cidades do sudeste e da China central na atualidade. Quatro estórias baseadas em fatos reais: um operário que quer protestar contra a privatização de uma mina estatal que beneficiou apenas o novo proprietário e políticos e burocratas corruptos; uma recepcionista que exige do amante casado que faça uma escolha; um ladrão que sustenta a sua família e raramente a vê; um empregado que muda de emprego e passa por dificuldades financeiras.



Nunca tinha ouvido falar do diretor Jia Zhang-Ke, que foi muito premiado por este filme. Não me espanta que Um toque de pecado tenha sido proibido na China, eu me pergunto como foi que ele sequer o produziu. É, sem dúvida, a melhor e mais frontal crítica ao capitalismo de Estado chinês. Nada daquela coisa venerável orientalista de cineastas tolerados ou oficiais que estamos acostumados a ver nos filmes chineses. Aqui é a violência do sistema se traduzindo em violência física. É o filme que os brasileiros gostariam de ter feito sobre o Brasil, mas estão entorpecidos pelo financiamento semi-oficial das empresas públicas.