Juiz de Fora

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

My best loved 1982 rock albums (1)



Songs of the free
(Gang of Four)

1982 foi um dos melhores anos da música pop, aquele que efetivamente estampou a década de oitenta em matéria de cultura e música urbana. O predomìnio do rock inglês era indiscutível, e aqui, no Brasil, São Paulo ultrapassou o Rio como capital cultural alternativa do país. No ano anterior, houve a guerra dos estilos no Reino Unido, o punk havia dado uma dúzia de tendências musicais dentro do cenário do rock. Com o atraso normal, e a enorme resitência (ou burrice) dos diretores das gravadoras nacionais, o jeito era comprar os lançamentos importados, a três vezes o valor do lp nacional, ou, como era o meu caso, apelar para os amigos mais velhos que já trabalhavam. Época das fitas cassettes, não foi fácil acompanhar as dezenas de lançamentos mensais. Para aqueles adolescentes criados na cultura progressiva dos anos setenta havia uma grande desconfiança em relação às novidades, era visível que muitas das novas bandas não durariam mais que dois ou três anos. Mas com dezoito anos de idade a curiosidade e a vontade de curtir o momento pesam bastante. Eu nem achei a década de oitenta o melhor dos tempos e nem fechei os olhos para o que vinha.


Não foi fácil escolher os dez discos que mais gostei daquele ano premiado. Novamente aqui o critério é obviamente afetivo, mas é indiscutível que se tratam de grandes obras, e diversos álbuns que serão aqui comentados tiveram um efetivo impacto na cena roqueira mundial.




O Gang of Four (Camarilha dos Quatro, o grupo de burocratas que desmandaram na China nos últimos anos de Mao) é um grupo de Leeds, norte da Inglaterra. Sua formação original (1977) reunia o cantor Jon King, o guitarrista Andy Gill, o baixista Dave Allen e o baterista Hugo Burham. Seu primeiro álbum, Entertainment!, é muito reverenciado pela crítica especializada britânica, embora eu não o considere tão bom assim. Já este Songs of the free  é outra conversa. É um disco envolvente, com melodias marcantes, pulsante, com forte personalidade, letras em um nível muito acima da média do rock, um disco que empolga e faz pensar.


O disco começa com Call me up, onde a banda aborda a diversão como falta de opção para uma vida sem sentido, à espera da Terra Prometida. O Gang of Four é simultaneamente contemporâneo e herdeiro do punk, mas suas letras oferecem uma crítica sistemática e não apenas uma aspiração adolescente por anarquia e destruição.

Call me up, if I’m home
Don’t say too much, I might be upset
Let us agree to differ
We’re consumed by competition

Having fun is my reason for living
(give me a break)
Having fun is my reason for living
(give me a break)

Call me up, if I’m alone
I don’t like to spend too much time on my own
I need to have diversion
Consume me with a new passion

Having fun is my reason for living
(give me a break)
Having fun is my reason for living
(give me a break)

We are all in competition
Better move fast gobble up your dinner
Take a tip - get hip!
It’s not so bad in the promised land
It’s not so bad in the promised land
It’s not so bad in the promised land
How do I fill my days?
A force called "hard cash" moves my feet




A segunda faixa, I love a man in uniform, é a marca registrada do álbum, a canção de maior apelo. Embora se trate de um hit, na época em que ouvi o que mais me chamou a atenção foram as guitarras e os vocais, não me parecia uma música de pista, mesmo porque 1982 estava bem longe da antiga discoteca e muito antes da explosão dance de '88. Pelo que li na época, a banda criticava a mentalidade militarista de um jovem, e o fascínio do uniforme sobre algumas garotas.

Em Muscle for Brains: "Por razões que não são misteriosas, os mais fracos vão para o paredão. Eles têm reservas no céu, mas aqui não estão na moda". O rock brasileiro ainda estava engatinhando e era pouco crítico, e vivíamos o ínicio da crise do militarismo. As letras em inglês não chamavam a atenção da mídia e sua auto-censura.

For reasons that are not mysterious
The weak are sent to the wall
They have reservations in heaven
Down here they're not so fashionable

Life, it's a shame é uma de minhas preferidas. O instrumental introdutório passa uma noção de imensidão e colisão, é ambiental e angustiante. É, meu (minha) amigo (a), a vida pode ser uma lástima. "Você e eu, nós somos satélites"

To act for the good for congressman is money
The right to get rich is in the constitution
Talk of corruption is to preach insurrection
Elected to power men suspend self-interest

I will be a good boy I é uma canção para quem curte uma guitarra nervosa, monologando, mas em harmonia com o resto da música, não tem a ver com solos autônomos de guitarra. Não capto o tema da canção, mas há uma referência ao fato de dançarmos enquanto o dólar cai, bom, a crise do sistema é uma constante no disco.




The history of the world é tudo de bom, - já não bastasse ter o refrão instrumental mais bonito do disco -, e tem um significado a mais para mim, pois eu estava no início da graduação em História. Os meus colegas de faculdade eram fãs de MPB, o mundo deles ia da serra mineira ao litoral fluminense. O sonho deles era Havana, e o meu, Londres. Eu tinha vontade de dizer para eles: "Olhem, ouçam este disco, os caras falam dos mesmos assuntos que vocês gostam", mas eu sabia que só por ser em inglês já era estrangeiro, imperialista, alienado, burguês, ai que saco. A letra usa o conceito marxista de relações de produção, quer mais o quê?  Life, it's a shame...

Mother had for me an egg
I understood the relations of production
She always provided for me
That's where I lost my naivet
Stability is in my mind
I associate with my kind
Charity, it fills my heart
To help the poor in Africa

Good, yes, you've done well
Here is a small prize
The history of the world


We live as we dream, alone, eu a compreendia numa acepção mais existencial, no sentido de que vivemos e sonhamos solitários, mas a letra tem um conteúdo mais sócio-político. O disco encerra com Of the instant que possui um clima meio de fim de dia, tranquilão, alguém que vai descansar depois de tanto confronto. É uma pena que o disco posterior do Gang of Four, Hard (1983), não manteve o mesmo nível deste Songs of the free.




2 comentários:

  1. E menino, hein?! Panoticum é entretenimento, cultura e informação. Se é que esses três conceitos são dissociáveis...
    ushuahushaushu;D

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  2. Obrigado por comentar, Imaculada, e volte sempre.

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