Juiz de Fora

domingo, 1 de janeiro de 2012

My best loved 1972 rock albums (1)




Foxtrot
(Genesis)




Gravação do Genesis para um especial de uma tv belga. Imagens raras da banda no início de 1972, turnê de "Nursery Crime".


Gabriel, Banks, Collins, Rutherford e Hackett: a formação clássica do Genesis

Watcher of the skies watcher of all
His is a world alone no world is his own,
He whom life can no longer surprise,
Raising his eyes beholds a planet unknown


(Observador dos céus, observador de tudo
Dele é um mundo solitário, nenhum mundo é dele próprio
Ele a quem a vida já não surpreende mais
Erguendo seus olhos, contempla um planeta desconhecido)

Tony Banks (teclados), Phil Collins (percussão), Peter Gabriel (voz), Mike Rutherford (baixos) e Steve Hackett (guitarras)

O quarto disco do Genesis, Foxtrot, inicia com um acorde de Mellotron que ainda hoje, mais de três décadas após ouvi-lo pela primeira vez, é capaz de arrepiar e encher-me de felicidade. O observador dos céus não é propriamente o deus cristão, tem mais a ver com a forma com que a juventude dos anos sessenta e setenta contemplava o Universo, mas também não lhe é incompatível (os membros do Genesis chegaram a analisar que tinham um grande público nos países católicos, com exceção de Peter Gabriel, que afirmou que o apoio à banda era mais expressivo nos bairros operários ingleses). O título Watcher of the skies vem de um poema de John Keats (1817).


Segundo Tony Banks: "On Foxtrot, the one song we had written beforehand was 'Watcher of the skies' which had grown out of me feeling around with Mellotron. We had hired in a Mellotron for Trespass and then went and bought one. In fact we bought one of the ex-King Crimson Mellotrons and Robert Fripp insisted it was one of they used on In the court of Crimson King"

(Em Foxtrot, a única canção previamente escrita por mim foi Watcher of the skies, quando aprendia a lidar com um mellotron. Nós havíamos alugado um quando fizemos Trespass e agora compramos um de Robert Fripp, que insistia que aquele era o mesmo mellotron utilizado pelo King Crimson em In the court of Crimson King)

O Mellotron usa gravações para produzir sons, não é um instrumento como um piano ou um órgão, e o som resultante  causava um grande impacto devido ao sua orquestralidade, algo original no rock. A letra foi escrita por Banks e Rutherford, vagamente baseado na ficção científica de Arthur Clarke, Childhood's End. Watcher of the skies passou a abrir os shows da banda, com adição de gelo seco e luzes ultravioletas, algo incomum àquela época, era uma forma de avisar à plateia que se tratava de um concerto do Genesis.


"A flower?"

Time Table fala de uma época de reis e rainhas, tem uma introdução intimista de que gosto muito e evolui para algo mais épico. Sim, evolui, porque esta é uma das características do rock progressivo, as músicas têm um desenvolvimento, assim como na música clássica e no jazz, não é algo feito para sacudir o corpo, e na adolescência eu adorava ouvi-las com muita atenção, aproveitando cada detalhe da composição.

A carved oak table,
Tells a tale
Of times when kings and queens sipped wine from goblets gold,
And the brave would lead their ladies from out of the room
to arbours cool.

A time of valour, and legends born
A time when honour meant much more to a man than life
And the days knew only strife to tell right from wrong
Through lance and sword.


(Um tabuleiro esculpido em carvalho
Conta uma história
Dos tempos em que reis e rainhas tragavam vinho de taças de ouro
E os bravos conduziam suas damas para fora da sala, para o frescor das árvores.

Um tempo de heroísmo, e lendas criadas
Um tempo em que a honra significava muito mais para um homem do que a vida
E os dias sabiam apenas disputar em distinguir o certo do errado
Através da lança e da espada).



Get'em out by friday é a primeira faixa que mostra uma preocupação social de Peter Gabriel, narra sobre uma família que foi despejada de sua residência. O Genesis foi uma banda não-militante, a política no sentido mais estreito não foi a preocupação predominante da galera universitária de classe média abastada do sul britânico. A melhor canção que ilustra a postura deles foi Blood on the rooftops, do álbum Wind and Wuthering ("Arabs and jews, boy, too much for me"). Já Peter Gabriel se tornaria o artista mais íntegro de que tenho notícia, alguém vivamente empenhado no bem das populações mais carentes, sem o estrelismo de um Bono.

Get 'em out by Friday!
You don't get paid till the last one's well on his way.
Get 'em out by Friday!
It's important that we keep to schedule, there must be no delay.

I represent a firm of gentlemen who recently purchased this
house and all the others in the road,
In the interest of humanity we've found a better place for you
to go, go-woh, go-woh


(Tire-os de lá até sexta
Você não será pago até que o último saia de lá
Tire-os de lá até sexta
É importante manter o planejamento, não pode haver atrasos

Eu represento uma companhia de cavalheiros que compraram
esta e outras casas desta rua
Pelo interesse humanitário nós encontramos um melhor lugar para vocês
go-woh, go-woh)




Can utility and the coastliners é a faixa de que menos gosto em Foxtrot, nunca me dei o trabalho de traduzi-la, não sei qual é o seu tema. Horizons é uma belíssima composição do guitarrista Steve Hackett, uma exceção na obra da banda, a única vez que o grupo lançou uma faixa solo, ainda que com menos de dois minutos. Hackett é exímio guitarrista, e sabe aproveitar a sonoridade de cada acorde, de cada nota.


O vestido e a máscara de raposa que deram as capas dos semanários musicais  para o Genesis.

E aí vem Supper's Ready, um dos grandes marcos do Genesis, com uma suite de vinte e três minutos, tocada in totum ao vivo até os idos de 1977. É uma das faixas preferidas dos fãs. Dividida em várias partes, tem uma letra meio inacessível, e que só pude compreender lendo (muito) sobre a banda. O ponto alto é Willow Farm, onde o tecladista Tony Banks, o som da banda, se esmera. O final épico, Apocalypse in 9/8, meio que como uma vitória das forças do Bem, seria, de certa forma, inspiradora de The gates of delirium, do Yes (1975).

Tony Banks: The key track on this album was "Supper's Ready", which had started off acoustically, like 'Stagnation' e 'Musical Box'. I'd written a descending chord sequence on the guitar, and, we were playing in somewhere like Cleethorpes, I was in the changing room tuning the guitar and playing these chords. The room has a fantastic acosutic which made this particular chord sequence sound wonderful. Mike walked in and said, 'That sounds great, what's that?' So he learnt the part and we played it together, and then we got the others in and played this sequence to them. I didn't know we wre going to do with it, but it was obsviously something we could use as a starting point.

(A faixa principal do álbum era Supper's ready, que eu comecei a compor no modo acústico, como em Stagnation e Musical Box. Eu compus uma sequência descendente de acordes no violão, e tocávamos em algum lugar como Cleethorpes, eu estava no vestuário afinando a guitarra e tocando estes acordes. A sala tinha uma acústica fantástica que fazia esta sequência de acordes soar maravilhosa, Mike [Rutherford] veio até mim e disse: 'muito legal, o que é?'. Ele aprendeu os acordes, tocamos juntos, chamamos os outros e a tocamos para eles. Eu não sabia até onde chegaríamos com isto, mas era óbvio que podíamos utilizá-la como um ponto de partida.)




Apocalypse in 9/8 foi inicialmente composta por Banks e Rutherford, Steve Hackett e suas guitarras foram o terceiro elemento, e Peter Gabriel acrescentaria as suas letras posteriormente. Mas Gabriel já tinha Willow Farm, a princípio uma canção à parte, mas o grupo decidiu incorporá-la à Supper's Ready. Particularmente, acho que Supper's ready não é de todo harmônica, como em Close to the Edge, lançada no mesmo ano pelo Yes, mas esta minha opinião é muito herética, rs...

Tony Banks tentou evitar que Peter Gabriel cantasse os seguintes versos no final épico de Supper's ready, que pretendia ser tão somente instrumental.

666 is no longer alone,
He's getting out the marrow in your back bone,
And the seven trumpets blowing sweet rock and roll,
Gonna blow right down inside your soul.
Pythagoras with the looking glass reflects the full moon,
In blood, he's writing the lyrics of a HIP brand new tune


(666 não está mais sozinho,
Ele está saindo da medula em sua coluna,
E sete trompetes soprando o doce rock and roll
Vai explodir na sua alma.
Pitágoras com a lente reflete a lua cheia,
Com sangue, ele está escrevendo a letra de uma nova canção).

Mas ele verificou que o resultado final era muito bom, algo que afirmou em entrevistas: isto somente poderia ocorrer coletivamente, em uma banda. Eu sempre acreditei neste ponto-de-vista e é uma das razões pelas quais não gosto de membros de grandes grupos saírem em pobres (musicalmente) carreiras solo.

Steve Hackett: When we finished Supper's ready I wasn´t sure whether anyone would like such a great long piece of music. The world Elgar comes to mind for some reason, Elgar on acid perhaps. We weren't on acid, we weren't on drugs, we were on beer and wine and Earl Grey. I thought the game was up, no one was going to like it, the record company were going to sack us and we would disappear into a black hole. I was proved so wrong and I've never been so happy to be proved so wrong: it ended up becoming the band's anthem.

(Quando terminamos Supper's ready eu não estava seguro se alguém agradaria daquela canção tão extensa. A palavra Elgar [Edward Elgar, compositor inglês, 1857-1934] veio à minha mente por alguma razão, Elgar em ácido, talvez. Nós não tomávamos ácido, não usávamos drogas, nós bebíamos cerveja, vinho e chá. Eu pensei que o jogo estava acabado, a gravadora iria nos demitir e ficaríamos em um beco sem saída. Eu estava tão errado, eu nunca fiquei tão feliz de estar tão comprovadamente equivocado, [Supper's ready] seria a antena do grupo.)




Durante a turnê de Foxtrot, Peter Gabriel, em um concerto em Dublin, decidiu usar um vestido vermelho e uma máscara de raposa ao final de Musical Box. Com a banda apresentando longos trechos instrumentais, Gabriel ou tocaria um bumbo ou sairia de cena, como fazia em Stagnation. Segundo Tony Banks, Peter Gabriel não foi feito para o palco. Mas Gabriel tem outra versão:

I decide it to use in a show in Dublin. I might have told the band my plan, but if so it would have been just beforehead, I certainly wasn't always upfront about everything because you'd end up having these endless debates and I'd think, 'Oh, fuck it, I can'be bothered'. There was a silence when I walked out on the stage in this outfit. I think that very few people had seen a man in a dress at that point and certainly not one wearing a fox's head as well. There was a sense of shock and it was very exciting. And I thought, 'We're on to something'.

(Eu decidi usá-la em um concerto em Dublin. Eu podia ter avisado aos demais membros da banda, mas eu não tomava a frente de tudo porque isto acabaria em um daqueles debates intermináveis, então, eu pensei, dane-se, não vou me aborrecer. Houve um silêncio na plateia quando apareci fantasiado. Eu pensei que poucas pessoas haviam visto um homem usando um vestido, quanto mais com uma máscara de raposa. Houve um choque e foi muito excitante. E eu pensei: fizemos algo)




O então baterista Phil Collins repercute este fato em outros termos: afirmou que não ficou empolgado e nem aborrecido com a fantasia em si, mas que, assim como os demais membros, não gostou da crítica especializada dar mais atenção às roupas de Gabriel do que ao som da banda.

Estas divergências entre Gabriel e os demais provocariam a cisão do grupo dois anos mais tarde, mas ainda renderia duas outras obras primas: Selling England by the pound (1973) e  The lamb lies down on Broadway (1974). Mas isto são outros posts.

Fonte: DODD, Philip (ed.) Genesis. Chapter and Verse. New York: Thomas Dunne Books, 2007. 360p. Pp 98-127.



2 comentários:

  1. It's my favorite too. Better than anything from 60's & 70's.

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  2. Hello there, welcome, thank you for coment e enjoy the blog.

    As you may see, this my most extensive post because Genesis is my most loved band. But this is my favorite of '72, not for the two decades.

    Best wishes,

    Enaldo.

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