Juiz de Fora

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Panótico vê aqui e agora (153)



Acossado/1960





Antes de comentar um clássico (sim, porque os meus posts sobre cinema são pouco mais do que comentários) vou contar uma historinha para que o(a) leitor(a) possa me perdoar por não acompanhar a opinião da maioria esclarecida.


Em 1979, meio que por acaso, eu me matriculei em aulas particulares de francês na minha monótona Santos Dumont. Naquele tempo aulas particulares de idiomas eram ridiculamente baratas, então não valia a pena o meu pai me recusar este estudo aparentemente inútil. Os professores particulares usavam a própria residência, uma garagem ou salinha, tinham poucos alunos, e a graninha que faturavam apenas servia para ajudar a custear os estudos nas universidades federais, despesas básicas como transporte e fotocópias. Mas isto não queria dizer que as aulas eram ruins, muito pelo contrário. O meu professor usava material da Aliança Francesa, tinha sólida formação e era uma pessoa interessada em literatura e ...cinema. Foi nessas aulas que ouvi pela primeira vez a expressão "Nouvelle Vague".



Do que pesquisei sobre o tema em uma daquelas enciclopédias, tipo Barsa ou Século XX, Nouvelle Vague significava algo bem simples, tipo: o cinema francês da primeira metade da década de sessenta, com temas mais adultos e uma maneira diferente de narrar estórias. Três estereótipos se formaram na minha mente: François Truffaut, o cineasta das emoções e da infância; Alain Resnais, o cineasta da década anterior, meio fora de lugar e mais convencional; e Jean-Luc Godard, o cineasta político e cabeça.



Durante a universidade a minha opinião manteve-se a mesma, e apesar de ver mais filmes da Nouvelle Vague (pouquíssimos) não tive maiores esclarecimentos por parte das minhas cinco professoras de francês - nenhuma delas com interesse especial por cinema, apenas o protocolar interesse pelo cinema do país de sua disciplina - e os meus colegas de História torciam o nariz para a Nouvelle Vague, um cinema apenas meio de esquerda, e eles, claro, preferiam o cinema brasileiro. Eu me via na posição de ter que me simpatizar por um cinema que desconhecia, e ficava no meio caminho entre os fãs de blockbusters e os fãs de Glauber Rocha.



Em 1985 houve um grande interesse pelo filme Je vous salue, Marie, de Godard, principalmente porque Don José Sarney, como presidente de Pindorama, proibiu a sua exibição, a pedido da Santa Madre Igreja e justamente no primeiro ano de democratização do país e, ainda por cima, logo após o anúncio do fim da censura. Os estudantes adoraram exibi-lo nos dces das federais... Mas todo mundo dizia que o filme era chato e aí Godard fixou o seu cantinho: um cara chato, que faz filmes chatos, mas que é útil por ser de esquerda.

Bom, continuo conhecendo quase nada de Nouvelle Vague, pois a década de oitenta trouxe o cinema britânico e alemão, e a década de noventa trouxe o cinema oriental, e eu não corri atrás do que era inacessível e menos empolgante. E a primeira década deste século trouxe o cinema mundial, valha-me Deus, até o Zimbábue deve ter cinema!


E o que posso dizer deste Acossado, filme que conheço de nome há uns vinte e cinco anos e apenas o vi por indicação recente de um professor?

a) a defesa do ponto de vista de um criminoso homicida não me ganha como espectador;
b) Jean-Paul Belmondo não me parece grande coisa e o seu tom de voz é metálico e contínuo ao longo do filme. Salva-se o seu bom humor;
c) Jean Seberg não me deslumbra e eu não vejo filme por causa de gente bonita, a beleza das atrizes é tão somente um bônus;
d) dilemas existenciais tratados de forma caricata não me fazem rir e nem suspirar;
e) foi bem legal ver Paris há cinquenta anos atrás, foi o ponto de maior interesse no filme para mim;
f) as falas entrecortadas são interessantes, originais ao que parece, não tenho como saber, mas não me parece coisa de gênio fazê-las.
g) a delação ser considerada uma falta mais grave do que tirar a vida de alguém é uma ótica de criminoso que não dá para engolir nem como cinema experimental.


Enfim, foi bom vê-lo, mas não vê-lo também não faria diferença.




Um comentário:

  1. esse filme é bárbaro. eu estudei um pouco de francês com minha mãe. até aprendi alguma coisinha. mas nada significativo. adoro acossado. beijos, pedrita

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