Juiz de Fora

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Já o era assim, desde então (26)


Os homens dificilmente adquirem algum novo conhecimento sem perder alguma ilusão prazeirosa, e nosso esclarecimento se dá quase sempre à custa de nossos prazeres. Nossos ancestrais simplórios se deixavam impressionar mais intensamente pela atuação rústica de atores primários do que nós nos comovemos com as mais refinadas peças de nosso teatro dramático. As nações menos instruídas que nós não são menos felizes, pois, tendo menos desejos, elas possuem também menos necessidades, ao passo que prazeres grosseiros ou menos refinados bastam para satisfazê-las. Ainda assim, contudo, não trocaríamos o nosso esclarecimento pela ignorância daquelas nações ou pela ignorância de nossos ancestrais. Se tal esclarecimento reduz nossos prazeres, ele deleita nossa vaidade e nos leva a encarar nossa sofisticação como se fosse uma virtude. 

(D'Alembert, 1759)

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