(2010)
No final da década de setenta quando alguém queria manifestar interesse por música erudita afirmava que gostava de Tchaikovsky (na seguinte, anos oitenta, o sintoma de erudição era se afirmar como ouvinte de Phillip Glass). Era batata. E em quase toda residência havia uma caixinha de música que tocava O lago dos cisnes, do compositor russo. A forma como uma cultura escolhe seus ícones de status dá uma boa dissertação de mestrado. Há uns trinta anos atrás assisti, com muito esforço, o balé Quebra-Nozes, também de Tchaikovsky. Não gostei, nunca gostei de balé clássico. Não conheço ninguém do sexo masculino que realmente goste.
Esta combinação balé clássico/lago dos cisnes já seria suficiente para que eu dormisse assistindo a este filme. Mas a Natalie Portmann pode fazer valer a pena. No papel de uma bailarina de vinte e oito anos, mimada e dominada pela frustrada mãe solteira e ex-bailarina (ou divorciada?), pressionada e assediada pelo seu diretor (o franco-carioca Vincent Cassel), pelas colegas rivais e por si mesma, a protagonista tem a oportunidade de sua vida ao substituir a bailarina principal em sua companhia de dança. Muito travada, não consegue interpretar a contento a personagem do ousado cisne negro, irmã gêmea do tímido cisne branco. A pobre moça vai pirando com tanta pressão, e o filme vai ficando empolgante. O final, no entanto, transforma tudo no mais surrado clichê sobre a identificação do artista com a sua arte (irch!).
Natalie Portmann já provou que é ótima atriz em Sombras de Goya, e já podia estar saindo da fase eu-tenho-talento-mas-vocês-me-pagam-pela-minha-beleza, quem sabe a próxima é a Scarlett Johanson?!
Este filme tem tudo para ganhar muitos oscars: clichês em demasia, psicologia de butequim, tema apolítico, coadjuvante francês para dar um ar de luxo, diretor-cabeça de Pi (Daren Aranofsky), beijo lésbico de Portmann com Mila Kunis (ah, que sono...), quem sabe ganhando várias estatuetas fique carimbado como um filme ruim.
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