Juiz de Fora

sábado, 17 de março de 2012

O Panótico vê aqui e agora (227)


Carnage
(2011)



Em um parque novaiorquino um adolescente bate no rosto de outro com um pedaço de madeira (a cena é vista à distância e não sabemos o motivo  do confronto. Em seguida, dois casais redigem um acordo informal: Alan (Christoph Waltz) e Nancy (Kate Winslet), pais do ofensor Zachary, e Michael e Penelope (Jodie Foster) pais da vítima Ethan, que perdeu dois dentes com a pancada. Os dois casais, muito civilizadamente, acordam que o menor ofensor Zachary, na companhia dos pais, irá se desculpar diante do ofendido Ethan, na companhia de seus genitores, em uma ocasião próxima, além das indenizações materiais devidas. Em razão de compromissos profissionais inadiáveis, Alan não poderá estar no evento, e aí começa um mal-estar que desembocará em uma acalorada discussão.

Filmes que tratam das animosidades entre ricos e pobres existem aos montes (e das mais variadas qualidades), mas este filme trata de algo mais sutil: a animosidade entre a alta classe média e a média classe média. Jamais vi um filme que toque neste ponto. Senão, vejamos:



Alan (o brilhante Christoph Waltz, o Coronel Landa de Bastardos Inglórios) é um bem sucedido advogado da indústria farmacêutica que a todo momento interrompe a conversa para atender ao celular no qual clientes e sócios ligam sobre o polêmico remédio da empresa para o qual trabalha. Alan é pragmático, não está muito emocionado pelo que o filho fez, nao lhe dá razão, mas também não se assusta com o fato de que adolescentes caem nos tapas. A sua esposa lhe cobra falta de atenção, Michael tem ciúmes do seu sucesso, e Penelope lhe recrimina dar mais importância aos negócios do que aos princípios de uma educação ética.

Nancy (Kate Winslet) é corretora financeira, mas parece que vive mesmo é às custas do marido, quer aproveitar a grave ocasião para cobrar mais dedicação do marido. Alan acha suas reclamações injustas, Penelope sente inveja da dondoquice de Nancy, e Michael lhe é indiferente.

Penelope é a mulher de princípios, escreveu um livro sobre a África, segue a agenda liberal (é uma esquerdista como professoras sulamericanas, por exemplo) reprime a própria vaidade, prende os cabelos, não se maqueia, não usa roupas elegantes. Penelope acha que Nancy é falsa e que o seu marido Alan é um porco capitalista, e o próprio marido Michael, um banana, um conformista.

Michael é revendedor de materiais de construção, e finge aceitar a postura riponga da esposa, mas tudo o que quer é poder tomar uma cerveja em paz. Banca o gente boa até não mais aguentar, mas depois explode, e da sua explosão vem uma bebedeira na qual todos abrem o jogo.

Jodie Foster deu um show, é a melhor caracterização de um personagem, é o seu filme. Os demais atores estão ótimos, mas, infelizemnte, ainda não vi uma atuação de Christoph Waltz de arrasar, como em Bastardos Inglórios. Falta-lhe melhores papéis.



Este filme de Roman Polanski é excelente, do mesmo nível de filmes como A separação. Ele é todo realizado em uma sala, corredor e banheiro de um apartamento, não deve ter custado caro. Mais uma produção que demonstra por onde vai o bom cinema, quando se quer fazê-lo.

Carnage é um filme contra a hipocrisia do politicamente correto. Aqui não há máscaras, pouquíssimas pessoas na realidade tem vocação para ser como Bono, George Clooney, Peter Gabriel, etc, sair por aí em prol do semelhante. A fala síntese do filme é: "Quem é que se importa com os outros?"



Ah, e se for assisti-lo não perca a cena dos créditos finais que é fundamental como conclusão.


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