Juiz de Fora

segunda-feira, 5 de março de 2012

O Panótico vê aqui e agora (220)


A dama de ferro
(2011)



Filmes de reabilitação de políticos cheiram a bajulação, a encomenda, a suborno. Mas há alguns que são muitos bons: eu citaria aqui Nixon, de Oliver Stone, que vale por mostrar como um político anticomunista pode se aproximar tranquilamente dos comunistas, sem levantar suspeitas (e no nosso caso, um líder sindical fazer um governo totalmente favorável aos bancos, pelas mesmas razões); A rainha, de Stephen Frears, embora eu ache que ele foi bajulador da pessoa da soberana, ainda que não da instituição da monarquia; e W, também de Oliver Stone, nada favorável a Bush, mas com uma atuação marcante de Josh Brolin, e uma interpretação psicanalítica do cowboy, preocupado em impressionar o pai modelo e repressor.



Li que este A dama de ferro seria um filme frustrante e o Oscar de Meryl Streep imerecido se comparado à atuação de Glen Close em Albert Nobbs. Bom, mas Oscar não é critério idôneo para mim. O filme começa bem, e Meryl Streep está ótima, quase tão boa quanto Helen Mirren como Elizabeth II. Há momentos em que ela tem olhares e dicções de Meryl Streep, perde a personagem, mas no mais a maquiagem e a forma de falar são idênticas. Margareth Thatcher, para os mais jovens que não a conhecem, foi a "Dama de Ferro" (Iron Maiden), primeira ministra do Reino Unido por longos onze anos. (1979-1990). Da minha juventude, foi a líder de país democrático mais repugnante e odiável que eu me recordo, ainda mais detestável do que o governo do presidente estadunidense Ronald Reagan (1981-9).



Líder do Partido Conservador, era particularmente antipática por duas razões: intelectualmente limitada e dona de arrogância destas comadres de subúrbio que falam com pretensa autoridade sobre qualquer assunto sem aparentemente ter lido um único livro ou resenha sobre o tema. Dada a sermões, se sentia no direito de admoestar quem quer que fosse. Muita apegada ao poder, marcou o seu governo por alguns princípios ostensivos: privatização, redução de direitos trabalhistas e sociais, linha dura com sindicatos, enfrentamento com o IRA (com este último eu concordo). Mais do que o governo de Ronald Reagan, o seu governo cristalizou a imagem do que vem a ser "neoliberalismo", embora "thatcherismo" realmente seja mais correto, a ministra tinha mais uma mentalidade udenista de baixa classe média do que propriamente liberal de economistas de origem nobre ou burguesa.




Iniciou o seu governo com dois problemões: uma greve de mineiros, com pouco mais de cinquenta por cento de adesão, ao longo de um ano, que foi derrotada por meio das privatizações do setor minerífero. E a greve de fome dos militantes sentenciados do IRA, que queriam ser tratados como prisioneiros políticos nos presídios ingleses, mas foram tratados como criminosos comuns, causando a morte de dez terroristas. Em 1982 ela ganhou um presente da ditadura argentina de Leopoldo Galtieri: a invasão das Falklands (Malvinas). Com apoio dos EUA e do Brasil (governo Figueiredo), os ingleses deram uma coça nos argentinos e a popularidade de Thatcher chegou ao auge. Após isto, só se relegeu devido ao sistema eleitoral britânico: peso eleitoral maior para as áreas rurais e pequenos municípios, onde os tories (conservadores) são tradicionalmente mais fortes do que os  labours (trabalhistas). A escolha da primeira ministra era, e é, indireta, pelo princípio de maioria simples, o partido mais votado indica o seu líder que é convidado pela rainha para administrar o país. Assim, os pouco mais de trinta por cento dos votos dos conservadores deram três mandatos para a Dama de Ferro.

O fim do socialismo do leste europeu trouxe a necessidade de unificar economicamente a Europa, e Thatcher previu que isto reduziria o seu poder pessoal em favor de uma Europa federada, com a Alemanha reunificada e mais forte. Opôs-se à criação da União europeia e apareceu com uma bobagem descomunal: a poll tax, um imposto único igual para todos os cidadãos do Reino Unido: mesmo valor para desempregados e multimilionários. Veio uma onda gigantesca de protestos e seus colegas do Partido Conservador puxaram-lhe o tapete. Em 1992 Margareth Thatcher não tinha voto nem para se reeleger deputada, caiu fora, e foi a Câmara dos Lordes como baronesa. Desde então, somente aparece em celebrações da elite do capitalismo: enterros de presidentes, casamentos reais, etc.
Há cerca de dez anos que vem apresentando sinais de demência mental.



Este filme baba ovo a trata como uma mulher destemida, incompreendida, traída pelos colegas de partido e solitária após a morte do fiel marido. Não cola. Quem tem mais idade e nunca gostou dela não vai sentir muita pena. Quem é jovem, bem, por razões biológicas, os jovens não sentem muita atração por pessoas idosas. Para mim, mais do que uma campeã do neoliberalismo, Margareth Thatcher representa a mulher implicante, a pessoa física e intelectualmente pouco atraente e que marca a sua presença na sociedade enchendo o saco dos outros. Há filmes melhores por aí. Não vale a pena ir ao cinema por causa deste.


2 comentários:

  1. depois da crise econômica, a inglaterra resolveu fazer marketing. primeiro fizeram aquele show com o casamento real e o marketing continua. eu tenho vontade de ver, mas devo ver só qd chegar na tv a cabo. não me sinto confortável de dar bilheteria para esse filme mesmo adorando merryl streep. beijos, pedrita

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