Juiz de Fora

segunda-feira, 5 de março de 2012

O Panótico vê aqui e agora (222)


Borboletas Negras
(2011)


Eu fiquei interessado em ver este filme graças à excelente atriz principal Carice Van Houten, que estrelou The black book (2006), filme no qual protagonizava uma agente dupla judia na Holanda ocupada durante a segunda guerra mundial.

Cidade do Cabo, 1960. Ingrid Jonker (1933-65) passou a infância criada pela mãe divorciada, e após o seu falecimento, pelos avós maternos. Com cerca de seis anos, após o também falecimento da avó, foi para a casa do pai, casado pela terceira vez, um homem que ela jamais havia visto. O pai colocou-a e à sua irmã mais velha, em um quarto afastado da residência da nova família, e Ingrid era tratada como uma estranha.


O pai (Rutger Hauer) era um ministro fundamentalista do governo sulafricano, e acreditava que o apartheid era uma decorrência do fato de que Deus teria escolhido os africânderes (descendentes dos holandeses) para dominar o país. Ingrid cresceu querendo a admiração e atenção paterna, e o faz por meio de uma postura autodestrutiva, envolvendo-se com paixão e possessividade pelos homens que lhe passam pelo caminho. Um destes homens foi o escritor e militante anti-apartheid Jack Cope (1913-91). Ingrid se apaixona de imediato pelo escritor mais velho e lhe exige absoluta atenção. Como o cara está em outras, tem que lidar com as crises da poeta.


Por questão meramente pessoal, pouco ou nada tendo a ver com cinema, tenho pouquíssima afeição por pessoas dispersivas, confusas, autodestrutivas, posso compreendê-las, mas meus heróis jamais morreriam de overdose, eles têm mais o que fazer além de celebrar a própria autopiedade.  E esta coisa do desorientado se revestir do papel de artista, meio que dizendo: "Olhem, vocês tem que relevar as minhas zuretices porque sou um poeta, um artista, não me cobrem estabilidade, juízo ou coerência", acho uma certa estratégia pessoal para viver do favor alheio, do amparo do Estado, me cheira à esperteza. Então, o drama da poetisa não me seduziu.





Ingrid Jonker (1933-65)


Jack Cope (1913-1991)


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