Juiz de Fora

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Panótico lê aqui e agora (25)



Nômade
(Ayaan Hirsi Ali, 2011)


Já resenhei aqui a obra Infiel (2007), de Ayaan Hirsi Ali. Para quem não a conhece, a escritora somali nascida em 1970, foi criada em Mogadíscio, Nairóbi (Quênia), Addis-Adeba (Etiópia), Meca e Riad (Arábia Saudita), dentro do rigor do islamismo na sua versão tribal e clânica. Aos seis anos teve o seu clitóris excruciado pela avó materna. O pai era um líder rebelde que combatia a ditadura somali e chegou a passar uma década fora de casa. Ayaan apanhava da avó, da mãe, do irmão, na escola, etc. Aos vinte e quatro anos foi forçada a se casar com um somali que vivia no Canadá, o voo fez uma escala em Düsseldorf, Ayaan atravessou a fronteira e pediu refúgio político na Holanda. Estudou em Leiden, fez mestrado em Ciência Política, tornou-se uma pessoa reconhecida após fazer um filme com o diretor Theo Van Gogh - Submissão, que lhe custou a vida - passou a sofrer ameaças de morte e a ter proteção da ONU. Foi eleita deputada por um partido de centro-direita (VVD) e defendeu o fim do subsídio integral aos imigrantes.

Numa linguagem franca, autobiográfica, mas que inclui importantes análises sobre os temas que lhe são caros: iluminismo, opressão e emancipação feminina, direitos humanos, imigração, Estado do bem-estar, multiculturalismo, Ayaan nos conta sobre o que rolou na sua vida, - as difíceis relações familiares, em particular-, após a publicação de Infiel e da morte de seu pai (2008). É uma leitura agradabillíssima, comecei ontem e li quase duzentas páginas (o meu limite diário é de pouco mais de cem). Há repetições (o capítulo sobre o irmão Mahad) e detalhes de um confronto intrapartidário (com a deputada holandesa Rita Verdonk) que beira à inconfidência, e acredito que é melhor lê-lo após o anterior Infiel. Não li o seu segundo livro, A virgem na jaula (2008)

O feminismo de Ayaan Hirsi Ali não irrita e não faz os homens bocejarem. Não é o feminismo de mulheres poderosas, ultra bem-sucedidas, criadas com liberdade em famílias de alta classe média, que eventualmente perdem uma disputa corporativa e vem a público dizer que foram preteridas por serem do sexo feminino .A moça aqui sofreu o pão que o diabo amassou com a traseira suja. O seu feminismo, assim como a sua postura diante dos próprios compatriotas, pode ser sintetizado na seguinte fala sobre sua mãe:

"Tive vontade de dizer: Mãe, abeh [pai] foi embora porque vocês dois eram incompatíveis. Você mimou Mahad [irmão] até transformá-lo num covarde filhinho da mamãe; ele cresceu assustado por abeh, e você bateu em Haweya e a xingou sistematicamente.Foi dogmática e indiferente. A fé em Alah nada teve a ver com isso.Você fez escolhas que lhe deram uma vida infeliz e culpa os outros por isso." (grifos meus) (p.71)



2 comentários:

  1. eu quero ler esse também. eu sou feminista, mas esse termo ficou tão pejorativo, claro, algo que fosse defender as mulheres precisaria ser destruído. mas não de forma patética, mas de forma bem consciente de buscar o mesmo respeito e condições de trabalho, inclusive financeiras, q os homens. beijos, pedrita

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