Juiz de Fora

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Quadrinhos (18)


Tintin in the land of the soviets (1930)/Tintin in the Congo(1931,rev.1946)/
(Vol 1, ed.2007, £15)




Quando eu tinha uns cinco anos de idade tive que tomar uma série de injeções por complicações de doença respiratória. Meu pai ficava com pena de mim e me dava uma revistinha para cada injeção. A partir daí virou um hábito eu ganhar e ler quadrinhos, era muito barato na época. Quando eu estava na pré-adolescência peguei uma aventura de Asterix com um tio meu e fiquei apaixonado e passei a colecioná-las.



Toda vez que eu ganhava um volume de Asterix meu irmão do meio ganhava alguma revista por compensação. Numa destas ocasiões, no final dos anos setenta, ele escolheu Tintin e a estrela misteriosa. Eu gostei demais daquela coisa de mares do Norte, viajar até a Islândia. Mas continuei preferindo e colecionando Asterix, deixei Tintin para o futuro.



O futuro chegou e o máximo que eu fiz foi encomendar uma barata edição tripla na Amazon, nos idos da paridade do real com o dólar, e gostei bastante da viagem de Tintin à Lua e o seu envolvimento com uma guerra por petróleo na África. Há uns cinco anos atrás vi toda a coleção de Tintin em português, pensei em adquiri-la, mas a soma final ultrapassava oitocentos reais.



Eu já havia lido sobre o fato de o primeiro Tintin ser inquestionavelmente uma obra racista. Achei que era exagero típico de quem gosta de implicar com os outros e fiquei na minha. Mas não restam dúvidas, Tintin e as aventuras no Congo fazem uma caricatura grotesca dos súditos africanos do rei belga (de onde vem Hergé e Tintin). Supersticiosos, acovardados, incrivelmente tapados, Tintin é saudado como o libertador sábio homem branco, a quem os nativos entregam o poder com prazer e alívio. O tratameto dado aos animais é incompatível com uma história infanto-juvenil, o (a) leitor(a) pode observar nos quadrinhos que eu selecionei. Achei legal que esta edição não sai em defesa do autor e assume que a obra traz nítidos elementos do imperialismo em voga.

Independentemente disto, a narrativa é meio sem graça, as soluções e peripécias de Tintin ultrapassam largamente os limites da fantasia. Somente criancinhas muito tolas aceitariam que Tintin derrotava os bandidos porque estes se encontravam distraídos, de costas. É muito bobo, Hergé demorou a demonstrar talento.


Tintin no país dos sovietes não fica atrás. Hergé estava mesmo preocupado em combater o comunismo. Não vejo problemas em ele querer denunciar o stalinismo vigente, mas inventar coisas como fábricas de mentira e eleições em que os dirigentes apontam armas para o eleitorado é ridículo, a União Soviética já dava pano para mangas de uma crítica inteligente. Criticar caricaturalmente os comunistas ingleses está fora do alcance do leitor médio, é maçante para adolescentes e crianças. O traço original em preto e branco é muito feio - a edição deste Congo é posterior à original e reeditada pela segunda vez-, a trama e a narrativa pecam pelas mesmas razões. Eu não sei a partir de que volume Tintin passou a ser uma série cativante. Na próxima viagem ao exterior eu compro o vol.2, com três estórias, quem sabe.




2 comentários:

  1. há um certo tempo eu li alguns q passaram pela minha casa, gosto de ver e rever os desenhos na tv, ainda não vi o filme. beijos, pedrita

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  2. Os desenhos são fiéis aos livros, ao contrário dos desenhos de Asterix, muito pobres. O filme é muito barulhento, muito agitado, muito gritado.

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