Juiz de Fora

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O Panótico vê aqui e agora (273)


Jean Charles
(2009)
 
 
Este filme não demandaria longa sinopse. Jean Charles foi um dos cerca de oitenta mil brasileiros que tentaram e tentam uma vida nova e decente em uma cidade que valha a pena viver, como Londres. Confundido com um suposto terrorista, Jean Charles de Menezes (1978-2005) foi sumariamente executado por policiais londrinos, num erro profissional e numa tragédia humana que fica para a história, duas semanas (22 de julho) após os atentados suicidas de 7 de julho, tema de outro filme recentemente revisto por mim, London River.



Há três motivos para eu ter assistido este filme agora. Primeiro, que toda vez que ele passa na tv paga eu somente vejo pedaços. Segundo, porque eu gosto muito do Selton Mello, o cara é muito talentoso e carismático. Terceiro, porque todo e qualquer filme londrino agora me interessa muitíssimo mais, porque eu mato saudades e reconheço alguns lugares que estive nas férias passadas.
 
Ah, o  leitor não sabe disso? Dê um pulinho no meu outro blog, tem mais de mil fotos e quarenta vídeos (por enquanto) por lá, eu duvido que qualquer blog sobre a capital inglesa tenha mais fotos que o meu, rs...
 
Voltando ao assunto: Não sei o grau de fidelidade da estória com a vida de Jean Charles de Menezes. Narra o filme que o protagonista era um eletricista vivendo definitivamente em Londres por conta de saber passar a perna no controle de imigração. Logo na primeira cena ele mente que possui visto permanente por estar casado com uma cidadã britânica, e facilita a entrada de sua prima, Vivi, que para a capital inglesa teria ido como turista e babá do filho de Jean. Logo após saírem da alçada policial Jean debocha com a prima: - pô, esses ingleses são muito burros, acreditam em qualquer mentira.

Jean é mostrado como um cara de nível médio, envolvido com a emissão ilegal de vistos de permanência, nem santo e nem demônio, mas capaz de compreender a oportunidade que tem diante da vida. Há um momento em que afirma: os brasileiros vêm para cá, só trabalham, não aproveitam a cidade, não aprendem inglês, só querem juntar dinheiro.

Aos poucos a gente vai se solidarizando com ele e com outros brasileiros, não é moleza ir ao exterior, quanto mais sobreviver por lá. Por outro lado, não dá para deixar de sentir admiração por um país tolerante, aberto e com tanta gente interessante. Há um momento em que Vivi recusa o assédio de um colega de trabalho, oriundo do leste europeu, e o cara reage numa boa, com o maior respeito, sem nenhum traço de possessividade, compreendendo bem o direito de escolha da outra. Este forte sentimento liberal dos europeus deveria ser compartilhado por nossa civilização.




Achei Jean Charles um baita filme, dá para reconhecer que os ingleses aprontaram uma tremenda de uma ...lenha, que eles (ou suas instituições) precisam ser menos racistas, mas que há uma grandeza na alma do povo inglês. Esta grandeza também existe na alma do povo brasileiro, principalmente na reação da personagem Alex, quando recebem uma delegação da Scotland Yard na residência dos Menezes, no interior de Minas.

É uma pena. Se eu tivesse visto este filme antes teria ido à estação de Stockwell no dia 22 passado, eu  estava bem perto de lá.

Argentina 4 x Brasil 3. A gente chega lá.

2 comentários:

  1. adoro essa primeira foto e adorei esse filme. tb gosto muito do selton mello e gosto muito da vanessa giácomo. algo q me chamou a atenção é q o jean dá aquele jeitinho pra se virar. mas convenhamos, muitos países europeus fazem vista grossa com a imigração, já q são eles q fazem o serviço q eles não fazem. interessante q o filme sem levantar bandeira, coloca essa questão nos diálogos. achei um horror a forma como tenta reparar em mg o irreparável. beijos, pedrita

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  2. É mesmo, Pedrita, até porque parte dos controladores também são imigrantes, como o policial hindu e a intérprete. Já com relação à tentativa de reparação penso que houve um misto de pragmatismo, de salvar as aparências, mas não duvido que os policiais que puxaram os gatilhos tenham sentido algum remorso.

    De qualquer maneira quantificar a dor é complicado.

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