Juiz de Fora

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (257)



A maioria das pessoas vive na China
(2002) 



Lasse é um proprietário de um pequeno posto de gasolina e conveniências em uma estrada da Noruega. Na primeira cena do filme um caminhoneiro puxa assunto sobre as eleições próximas, e afirma que sempre votou nos trabalhistas, mas que agora votará nos conservadores porque acha o nome bonito (?!). A partir daí, assistimos a nove cenas direta ou indiretamente relacionadas ao posto de gasolina, e tendo por título uma metáfora e um nome dos partidos políticos noruegueses: conservadores, progressistas, popular cristão, costeiros, esquerda, esquerda socialista, trabalhistas, vermelhos, etc.



As estórias são bem interessantes: um burguês dirige pela estrada: ele fala de barcos, a esposa fala sobre azulejos, e o filho único está lendo uma revista. O pai resolve parar para dar um mergulho no lago (nu), e tem a sua roupa, o seu carro, e a sua família levada por um ciclista, e, surprendentemente, esposa e filho nem percebem a sua substituição.

Uma executiva telefona, almoça e fuma (!) na direção do carro pela estrada rural. Uma vaca lhe toma o seu celular e o engole, fazendo a moça ficar desesperada correndo inutilmente atrás do ruminante.

Um casal de lésbicas adota em viagem um garoto romeno, ele diz para si que tudo que pede da vida é um pão com chocolate. Quando param no posto, ele entra em outro carro porque lá dentro há um panetone.

Um médico esquizofrênico conversa consigo mesmo quando era um jovem arrogante e com ódio do pai, também médico.


A explicação do título vem de um diálogo forte entre uma menina cega e Lasse, a respeito de uma traquinagem que a garota e seu irmão aprontam em frente ao posto de gasolina. É a melhor cena do filme, fiquei emocionado.



Duas observações importantes: não há como entender todas as sutilezas do filme, eu teria que morar na Noruega ou ler muito sobre o panorama político de lá. Algumas mensagens são claras: os velhos trabalhistas se afundam no brejo para salvar uma jovem, por exemplo.

Assim como todo filme turco tende para o depressivo baixo-astral, os filmes escandinavos tendem para a ironia ácida do tipo todo mundo é sábio à sua maneira em um mundo ridículo. Vivendo nas sociedades que apresentam o melhor nível de vida do planeta, eles meio que pedem desculpa para serem críticos. Dito isto, é um filme muito interessante.

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