Polisse
(2011)
A Brigada de Proteção aos Menores é uma ramificação da polícia judiciária (equivalente à Civil brasileira) francesa dedicada à repressão dos crimes contra vulneráveis (crianças e adolescentes, aqui no caso) e diferentemente da brasileira e de outros países, pode (a menos que seja um equívoco do filme) estabelecer transações penais com o infrator (o mais comum é isto ser realizado diante do juiz, não do delegado). Com uma tarefa muito delicada, o filme começa com uma policial tentando averiguar com a vítima (uma garotinha de uns quatro anos) se ela sofreu estupro pelo pai, isto sem traumatizá-la ainda mais.
As personagens, uma meia dúzia de policiais e uma funcionária que os fotografa para um futuro documentário estatal sobre a brigada, são analisadas em seu difícil trabalho e no contexto dos seus lares e momentos de lazer. O estado de espírito deles: revolta, impotência, stress, etc. é idêntico aos dos professores das escolas públicas brasileiras, ao ponto de abalar as suas relações familiares (maridos, esposas e filhos não sabem o que se passa com eles, não lhes compreende a angústia permanente).
É um filme que nos entristece, como quando do episódio dos mendigos romenos (um problema bem notório em Paris), mas não é sensacionalista e nem demagógico. Há cenas em que chego a duvidar do excesso de zelo de alguns funcionários públicos, porque, por experiência própria, eu vejo que no serviço público as pessoas evitam de procurar sarna para coçar, o profissional quer executar o que lhe é incumbido e não procurar maiores demandas. Mas, supondo que o sentido de dever do policial francês seja acima da média (só morando lá para saber), deparamo-nos ainda com exemplos de uma ignorância inadmissível em um país tão desenvolvido: uma mãe que masturbava os seus dois filhos (um de três e outro bebê) porque os acalmaria na hora de dormir.
Coincidentemente, neste fim de semana assistimos à lamentável exposição de Xuxa em horário nobre da tv. Eu fiquei pensando: a) da parte da emissora é questão de ibope; b) da parte de Xuxa, não vou dizer o que penso dela desde sempre e neste ato, em particular; c) dois colunistas de importante jornal paulistano teceram elogios à sua decisão; d) por que alguém que sofre tamanha violência vai a público contar isto para todo o país?
Cheguei a pensar que o meu nível crítico estaria se exorbitando, mas, conversando com diversas pessoas, parece que há um senso razoável de que tamanha violência deve ser debatida, combatida, reprimida, mas não um espetáculo de autopromoção.
Polisse é um filme digno.
Parece ser interessante e fiquei curiosa, mas confesso que tenho evitado ver filmes que me deixem down. Já vivi down por muitos anos da minha vida. Beijos
ResponderExcluirBom, concordo com você, mas a maior produção do cinema não fast-food é muito reflexiva, já que o objetivo é exatamente evitar os filmes que são apenas entretenimento.
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