Juiz de Fora

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (254)



Valsa com Bashir
(2008)



Boaz é um israelense de quarenta e poucos anos que inicia este longa animado contando sobre um sonho no qual vinte e seis espectros de cães enfurecidos cercam a sua residência. Boaz explica a um amigo em um bar que, ao participar da invasão israelense ao Líbano (1982), por não ter coragem de atirar em pessoas foi lhe dada a missão de matar os cães que alertavam a presença humana próximo à cidade de Sidon. Boaz contou que matou o número acima e que sentia remorso por tê-lo feito. O seu ouvinte também participou das batalhas de 1982, mas diz não recordar nada sobre os eventos.



O ouvinte e amigo de Boaz é Ari Folmon, protagonista e narrador deste documentário. Cineasta, você o vê sentado à direita, enquanto conversa com o amigo Carmi, colega de escola, também da turma militar de '82, o nerd da turma, que todos acreditavam ser um futuro físico nuclear, mas que preferira ganhar muito dinheiro vendendo falafels na Holanda (uma delícia de sanduíche, por sinal, mas é isto é assunto do meu outro blog). Ari quer entender porque não se recorda de muita coisa, e passa a ouvir a percepção dos amigos sobre a guerra. A coisa começa narrada como uma espécie de passeio ou aventura, e há uma paródia de Apocalypse Now para ilustrá-la.


Ari conversa com mais dois amigos, um que banca o seu terapeuta e lhe arrisca a interpretar os bloqueios e sonhos e outro que lhe dá informações mais precisas sobre o contexto da época. A investigação prossegue e fica a pergunta: nenhum destes jovens israelenses desconfiava que invadir países alheios é errado?


Comecei a assistir este desenho sem outras referências e com um pé atrás com este formato de filme desenhado, já havia visto uns trechos de uma série de tv assim e achei-a pobre. Mas aqui a animação cai bem e aproveita os mínimos movimentos e sombras. O tema principal é o massacre de Sabra e Shatila, praticado pelos falangistas cristãos maronitas libaneses contra civis palestinos ao sul de Beirute, após o assassinato do presidente maronita Bashir Gemayel por um carro bomba. O exército israelense ficou responsável pela proteção dos civis palestinos e, bem, veja o documentário.


Eu me recordo da Guerra do Líbano de '82, e pelo que vi e ouvi, se tratava de uma retaliação do Estado de Israel contra bases das organizações palestinas do sul do Líbano, sequer sabia do peso de libaneses cristãos na política local. Gostei demais deste documentário, há uma apuração serena e criteriosa de quem fora o responsável, fica bem claro quem deu as ordens, quem aceitou em obedecê-las, quem poderia ter evitado e lavou as mãos. À História, tal como o Direito, interessa saber o mandante e o executor, as atenuantes e as agravantes.

2 comentários:

  1. esse documentário é muito impactante e eu gostei da animação, até pq viabiliza o projeto. beijos, pedrita

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  2. Também penso assim. A animação cria uma espécie de ficção, pois é como se a guerra fosse uma fantasia e gradativamente chega ao realismo da cena final.

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