Juiz de Fora

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (249)



This is England
(2006)



Alguma cidade bocejante do norte inglês, 1983. Shaun Field é um garoto de doze anos vítima de bullying porque a sua mãe sub-hippie não leu jornal por volta de 1976 e não ficou sabendo que a calça boca de sino foi sepultada pelo movimento punk. Órfão de pai devido à guerra das Falklands (eu entendo que neste caso específico o Reino Unido tem mais razão política, jurídica e histórica do que a Argentina, mas isto é outro papo) o menino reage com a linguagem que lhe cabe conhecer, de uma maneira até corajosa já que é pequeno diante dos odiáveis valentões de escola. Topa por acaso com um grupo skinhead light, uns adolescentes e jovens meio sem rumo, sem perspectivas, o que não é culpa deles, e que se viram com pequenos delitos, álcool, drogas, e sexo. Shaun é adotado pelo líder Woody, uma espécie de primo justo da galera.


Fiquei com receio de ser um filme datado sobre um tema recorrente. Mas entra em cena um ex-presidiário: Combo, - a quem Woody deve o fato de não ter ido parar na cadeia-, e meio que assume a liderança de parte do grupo, Shaun incluído, com uma linha mais política, mais próxima do skinhead mundialmente conhecido: iletrado, violento, chauvinista, racista e manipulado pela extrema-direita do National Front com aquela linha de que "nos tomaram o Reino Unido enquanto somos mais de três milhões de desempregados". Por ser mais velho, Combo assume a paternidade do moleque e o leva precocemente para um pálido refúgio.

Gostei do filme à medida que evoluiu. Não é o populismo de que vivo reclamando (e vem mais por aí pelo que estou lendo sobre Cannes), aquela estória de que o autor adotou a perspectiva dos de "baixo", a de que a violência dos explorados é autoexplicativa, este irresponsável discurso tão amado pelos desconstrutivistas. Aqui os skinheads são tratados como vítimas, não são meras caricaturas de nazistas, até a sua ignorância têm atenuantes, mas em nenhum momento o filme lhes dá razão.

Chamou-me também a atenção o talento do garoto Thomas Turgoose, as falas parecem vir do coração, é o perfeito estado de transição entre a infância e a adolescência, e de Stephen Graham (Combo) de quem conhecia apenas o papel secundário de Tommy, um acovardado criminoso de Snatch, porcos e diamantes (2000).

O diretor Shane Meadows me é desconhecido, mas fiquei interessado em Dead Man's shoes, o seu filme anterior. Li que está envolvido em algum projeto televisivo de maior alcance também sobre a situação político-social inglesa.

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