Trilogia suja de Havana/O rei de Havana/Animal tropical
(Pedro Juan Gutiérrez, 1998-2000)
Nos anos cinquenta o filósofo Raymond Aron publicou O Ópio dos Intelectuais, onde abordava a insistência de boa parte do pensamento crítico em acreditar, ou impostar acreditar, na União Soviética stalinista. E remontava ao próprio Marx, que colecionava estatísticas sobre a péssima situação da classe operária, como prova da crise final do capitalismo, até o momento em que, em meados da década de setenta do século XIX, os dados deixaram de ser favoráveis às suas convicções. Marx parou de exibi-las, mas insistiu na tese revolucionária, mesmo diante de evidências autorizadas em sentido contrário.
As simpatias para com Cuba cegaram, ou impostaram cegar, muita gente boa. Pedro Juan Gutiérrez foi um jornalista do sistema castrista, mas rompeu com ele. Chegou a vender latas usadas de refrigerantes para poder pagar o charuto de cada dia. O que ele narra sobre a vida na ilha pouco ou nada tem a ver com as crenças originais de 1959. Ok, alguém pode dizer que foi apenas uma conjuntura desfavorável de meados dos anos noventa, pelo fim da ajuda soviética ou por culpa dos embargos norteamericanos. Cada um consome o ópio que bem quiser.
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