Juiz de Fora

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (257)



A maioria das pessoas vive na China
(2002) 



Lasse é um proprietário de um pequeno posto de gasolina e conveniências em uma estrada da Noruega. Na primeira cena do filme um caminhoneiro puxa assunto sobre as eleições próximas, e afirma que sempre votou nos trabalhistas, mas que agora votará nos conservadores porque acha o nome bonito (?!). A partir daí, assistimos a nove cenas direta ou indiretamente relacionadas ao posto de gasolina, e tendo por título uma metáfora e um nome dos partidos políticos noruegueses: conservadores, progressistas, popular cristão, costeiros, esquerda, esquerda socialista, trabalhistas, vermelhos, etc.



As estórias são bem interessantes: um burguês dirige pela estrada: ele fala de barcos, a esposa fala sobre azulejos, e o filho único está lendo uma revista. O pai resolve parar para dar um mergulho no lago (nu), e tem a sua roupa, o seu carro, e a sua família levada por um ciclista, e, surprendentemente, esposa e filho nem percebem a sua substituição.

Uma executiva telefona, almoça e fuma (!) na direção do carro pela estrada rural. Uma vaca lhe toma o seu celular e o engole, fazendo a moça ficar desesperada correndo inutilmente atrás do ruminante.

Um casal de lésbicas adota em viagem um garoto romeno, ele diz para si que tudo que pede da vida é um pão com chocolate. Quando param no posto, ele entra em outro carro porque lá dentro há um panetone.

Um médico esquizofrênico conversa consigo mesmo quando era um jovem arrogante e com ódio do pai, também médico.


A explicação do título vem de um diálogo forte entre uma menina cega e Lasse, a respeito de uma traquinagem que a garota e seu irmão aprontam em frente ao posto de gasolina. É a melhor cena do filme, fiquei emocionado.



Duas observações importantes: não há como entender todas as sutilezas do filme, eu teria que morar na Noruega ou ler muito sobre o panorama político de lá. Algumas mensagens são claras: os velhos trabalhistas se afundam no brejo para salvar uma jovem, por exemplo.

Assim como todo filme turco tende para o depressivo baixo-astral, os filmes escandinavos tendem para a ironia ácida do tipo todo mundo é sábio à sua maneira em um mundo ridículo. Vivendo nas sociedades que apresentam o melhor nível de vida do planeta, eles meio que pedem desculpa para serem críticos. Dito isto, é um filme muito interessante.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (256)



O cachorro
(2004)


Juan "Coco" Villegas é um mecânico argentino (de uma província próxima à Patagônia) que trabalhou vinte anos como frentista em um posto de gasolina, mas foi demitido quando o estabelecimento mudou de dono. Faz um bico como artesão de facas, mas isto não dá em nada. Mora de favor com a filha que tem um marido desempregado e três filhos e sabe que é um aborrecimento para ela.




Villegas é uma pessoa simples, de boa fé, daquelas que agradecem com um sorriso autêntico, pedem licença para entrar na casa alheia e perguntam se não vão incomodar. Mostra com alegria o seu trabalho, nao fica magoado quando dizem não e não quer passar a perna em ninguém. Não é o herói proletário e nem o feio, sujo e malvado. Procurando emprego nos postos de gasolina das rodovias resolve ajudar uma mulher cujo carro deu pane. Reboca o carro dela até sua residência rural, muito longe dali, na esperança de obter alguma remuneração pelo serviço de soldador dos cabos do automóvel, e também fazer um favor e matar o tempo. Ganha um café da tarde, umas geleias e um dog alemão, do falecido pai francês da moça, cão de raça com certificados e tudo. Leva o animal, Le chien, para casa, e sua filha não quer saber dele. Enquanto não sabe o que fazer com o cachorro, vai a um banco descontar um cheque e o gerente da agência se encanta com o dog, indicando em seguida a Villegas o nome de um tratador especializado.



A partir daí eu fiquei ansioso pelo destino do pobre Villegas, pois o tratador de apelido Gordo, apesar de conhecer bem a espécie, fica o tempo todo falando em prêmios, viagens a Miami, milhões, etc. Em função de Bombón (o verdadeiro nome do cão) Villegas conhece outro universo e muitas pessoas mais espertas do que ele. Não há como não torcer pelo mecânico e seu cão.

Este é o segundo filme que assisto de Carlos Sorin, diretor de A janela, já resenhado aqui. Mais uma vez me felicito com a qualidade do cinema argentino. Vou tentar assistir outros do mesmo diretor.


terça-feira, 29 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (255)

 Skeeter, Minny e Aibleen


Histórias Cruzadas
(2011)




Jackson (Mississipi), 1963. Aibleen (Viola Davis) é uma afroamericana de meia idade que  tem sido empregada doméstica desde os quatorze anos. O filme não revela se ela é mãe solteira, viúva ou divorciada, mas sempre contempla o retrato do único filho tirado na escola de nível médio e que fica na parede de sua sala. Aibleen tem um carinho especial com a filha única de sua patroa, uma garotinha de uns três anos de idade, que aparentemente é rejeitada pela mãe por ser gordinha.

Minny (Octavia Spencer) é empregada como sua amiga Aibleen, possui cinco filhos adolescentes e crianças e apanha do marido alcoólatra. Minny trabalha para Hilly, uma dama caipira de sociedade, preconceituosa e racista, que defende as leis segregacionistas de seu estado. Em um dia de tempestade, Minny se recusa a utilizar o banheiro de empregada do lado externo da residência da patroa, utiliza as dependências internas, é humilhantemente demitida por Hilly, e leva uma surra do marido.

Eugenia Skeeter (Emma Stone) é uma jovem branca recém-formada na universidade, e tida como feia pela colegas e vizinhas, é constantemente pressionada pela mãe a se enquadrar no perfil casadoira.  Skeeter quer é trabalhar, arruma emprego como colunista de conselhos femininos em um jornal local, não entende nada de assuntos domésticos, pede ajuda à Aibleen, e, saudosa de sua antiga babá, Constantine, passa a se interessar pela vida das empregadas domésticas. Destes relatos surgirá um livro.

Skeeter e as bruacas

O filme começa mostrando as donas de casa brancas de classe média como apenas toupeiras fúteis, mas ingênuas na sua ignorância, e também o mundo doméstico como algo mais caricato do que qualquer outra coisa. Mas à medida que a narrativa evolui, a temática, por óbvio, é a do racismo, do preconceito, do apartheid social, da violência. A despeito de diversas situações engraçadas, por trás do belo cenário bucólico das pequenas cidades somos levados a experimentar muito medo.



Volta e meia Hollywood paga alguma espécie de pedágio à opressão racial e social, quero dizer que filmes como A cor púrpura, Mississipi em Chamas, etc., vem como um reconhecimento da elite de que os EUA não foram e não são uma nação igualitária. Menos mal. Independentemente disto, é mais fácil tratar da questão referente aos estados sulistas, anteriores a '64, do que tratar do assunto na contemporaneidade, onde as relações são mais complexas, mais mitigadas, do que o cenário extremista pré-direitos civis.



Quanto às atrizes, é a segunda vez que assisto um filme com Emma Stone, que me impressionou mais bela beleza específica do que pelo talento. Não há dúvida: aqui o maior mérito vai para Viola Davis.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (254)



Valsa com Bashir
(2008)



Boaz é um israelense de quarenta e poucos anos que inicia este longa animado contando sobre um sonho no qual vinte e seis espectros de cães enfurecidos cercam a sua residência. Boaz explica a um amigo em um bar que, ao participar da invasão israelense ao Líbano (1982), por não ter coragem de atirar em pessoas foi lhe dada a missão de matar os cães que alertavam a presença humana próximo à cidade de Sidon. Boaz contou que matou o número acima e que sentia remorso por tê-lo feito. O seu ouvinte também participou das batalhas de 1982, mas diz não recordar nada sobre os eventos.



O ouvinte e amigo de Boaz é Ari Folmon, protagonista e narrador deste documentário. Cineasta, você o vê sentado à direita, enquanto conversa com o amigo Carmi, colega de escola, também da turma militar de '82, o nerd da turma, que todos acreditavam ser um futuro físico nuclear, mas que preferira ganhar muito dinheiro vendendo falafels na Holanda (uma delícia de sanduíche, por sinal, mas é isto é assunto do meu outro blog). Ari quer entender porque não se recorda de muita coisa, e passa a ouvir a percepção dos amigos sobre a guerra. A coisa começa narrada como uma espécie de passeio ou aventura, e há uma paródia de Apocalypse Now para ilustrá-la.


Ari conversa com mais dois amigos, um que banca o seu terapeuta e lhe arrisca a interpretar os bloqueios e sonhos e outro que lhe dá informações mais precisas sobre o contexto da época. A investigação prossegue e fica a pergunta: nenhum destes jovens israelenses desconfiava que invadir países alheios é errado?


Comecei a assistir este desenho sem outras referências e com um pé atrás com este formato de filme desenhado, já havia visto uns trechos de uma série de tv assim e achei-a pobre. Mas aqui a animação cai bem e aproveita os mínimos movimentos e sombras. O tema principal é o massacre de Sabra e Shatila, praticado pelos falangistas cristãos maronitas libaneses contra civis palestinos ao sul de Beirute, após o assassinato do presidente maronita Bashir Gemayel por um carro bomba. O exército israelense ficou responsável pela proteção dos civis palestinos e, bem, veja o documentário.


Eu me recordo da Guerra do Líbano de '82, e pelo que vi e ouvi, se tratava de uma retaliação do Estado de Israel contra bases das organizações palestinas do sul do Líbano, sequer sabia do peso de libaneses cristãos na política local. Gostei demais deste documentário, há uma apuração serena e criteriosa de quem fora o responsável, fica bem claro quem deu as ordens, quem aceitou em obedecê-las, quem poderia ter evitado e lavou as mãos. À História, tal como o Direito, interessa saber o mandante e o executor, as atenuantes e as agravantes.

domingo, 27 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (253)



Enquanto a cidade dorme
(1956)


Nova York, 1956. Um entregador (John Drew Barrymore) assassina uma bela jovem em sua residência, e deixa uma mensagem escrita na parede com o batom da vítima: Ask mother. Um idoso magnata das comunicações em estado terminal vê no homicídio a oportunidade para uma grande manchete e convoca o jornalista Ed Mobley (Dana Andrews) para tomar a frente da investigação jornalística e, simultaneamente, aproveita a ocasião para criticar o seu filho Walter Kine (Vincent Price) por ser mimado, preguiçoso, incompetente, etc. Enquanto acamado, discursa sobre a liberdade de imprensa como bastião da democracia, sofre um infarto e falece. O seu filho agora no poder quer provar a todos que é o maioral e põe os três assessores mais próximos do pai para solucionar o caso do batom e dar ao vencedor a vice-presidência do conglomerado.

 O jornalista, a mocinha, um dos espertalhões e a vamp.


A briga de cachorro grande é quase um vale-tudo pelo poder, e o protagonista Mobley vai tentar sobreviver com dignidade no meio das feras. Dirigido por Fritz Lang (Doutor Mabuse, Metropolis e M, o vampiro de Dusseldorf), este é um filme noir, embora a luta pelo poder aqui chegue a ser até previsível, perto do que eu vi em sindicatos e partidos políticos, mas sem dúvida nenhuma, expor a corrupção e os interesses no meio jornalístico estadunidense em plena Guerra Fria e Macartismo faz desta obra da fase hollywoodiana de Lang um marco. É uma pena, ou uma virtude, que os clássicos em preto e branco não têm o impacto estético e narrativo da posteridade. As reviravoltas do filme quase se aproximam de uma comédia. E é preciso não ser condescendente com o filme e imaginar que o final é feliz. Preste bem atenção e verá que a crítica é ostensiva para além das aparências.




quinta-feira, 24 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (252)




Polisse
(2011)


A Brigada de Proteção aos Menores é uma ramificação da polícia judiciária (equivalente à Civil brasileira) francesa dedicada à repressão dos crimes contra vulneráveis (crianças e adolescentes, aqui no caso) e diferentemente da brasileira e de outros países, pode (a menos que seja um equívoco do filme) estabelecer transações penais com o infrator (o mais comum é isto ser realizado diante do juiz, não do delegado). Com uma tarefa muito delicada, o filme começa com uma policial tentando averiguar com a vítima (uma garotinha de uns quatro anos) se ela sofreu estupro pelo pai, isto sem traumatizá-la ainda mais.

As personagens, uma meia dúzia de policiais e uma funcionária que os fotografa para um futuro documentário estatal sobre a brigada, são analisadas em seu difícil trabalho e no contexto dos seus lares e momentos de lazer. O estado de espírito deles: revolta, impotência, stress, etc. é idêntico aos dos professores das escolas públicas brasileiras, ao ponto de abalar as suas relações familiares (maridos, esposas e filhos não sabem o que se passa com eles, não lhes compreende a angústia permanente).


É um filme que nos entristece, como quando do episódio dos mendigos romenos (um problema bem notório em Paris), mas não é sensacionalista e nem demagógico. Há cenas em que chego a duvidar do excesso de zelo de alguns funcionários públicos, porque, por experiência própria, eu vejo que no serviço público as pessoas evitam de procurar sarna para coçar, o profissional quer executar o que lhe é incumbido e não procurar maiores demandas. Mas, supondo que o sentido de dever do policial francês seja acima da média (só morando lá para saber), deparamo-nos ainda com exemplos de uma ignorância inadmissível em um país tão desenvolvido: uma mãe que masturbava os seus dois filhos (um de três e outro bebê) porque os acalmaria na hora de dormir.

Coincidentemente, neste fim de semana assistimos à lamentável exposição de Xuxa em horário nobre da tv. Eu fiquei pensando: a) da parte da emissora é questão de ibope; b) da parte de Xuxa, não vou dizer o que penso dela desde sempre e neste ato, em particular; c) dois colunistas de importante jornal paulistano teceram elogios à sua decisão; d) por que alguém que sofre tamanha violência vai a público contar isto para todo o país?



Cheguei a pensar que o meu nível crítico estaria se exorbitando, mas, conversando com diversas pessoas, parece que há um senso razoável de que tamanha violência deve ser debatida, combatida, reprimida, mas não um espetáculo de autopromoção.

Polisse é um filme digno.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (251)


OSS 117 Rio não responde mais
(2009)


OSS 117 é um agente secreto francês que vai ao Rio adquirir uma lista, de um ex-oficial nazista, com o nome dos colaboradores franceses à ocupação alemã durante a segunda guerra. OSS 117 é um agente trapalhão (tipo o agente 86), mulherengo, e muito preconceituoso, disparando o tempo todo contra mulheres, judeus, chineses, etc.



Dirigido por Michel Hazanavicious e estrelado por Jean Dujardin, eu não teria conhecido este filme, - na verdade uma sequência de OSS 117 Cairo: nest of spies (2006),- se não fosse o sucesso de O artista. Li nos blogs sobre Paris que OSS 117 fez grande sucesso na França. É uma paródia muito bem feita dos filmes de 007. Passado em 1967, em boa parte no Rio de Janeiro, há uma combinação de reconstituição histórica fiel com bobagens típicas. Assin, há carros reais que circulavam no Brasil, como fuscas e aerowillys, com carros americanos jamais vendidos aqui, mulheres retas e peitudas como as estadunidenses, biquinis mais parecidos com fraldas, música mais caribenha do que carnavalesca, a coadjuvante Carlota é chamada de Carlotá, dado que os franceses põem a tônica na última sílaba, e todo mundo no Rio sabe falar francês, assim como todos falam inglês em qualquer lugar que se vá nos congêneros de 007.



Ao contrário do que imaginava, realmente houve, na literatura e no cinema, uma série OSS 117, com dezenas de obras sobre um agente secreto estadunidense de ascendência francesa, escrita por Jean Bruce no final da década de quarenta e antecipando-se ao 007 de Ian Fleming.
Como filme, no entanto, é apenas uma comédia divertida, não tem a mesma qualidade de O artista.


terça-feira, 22 de maio de 2012

This is the end, beautiful friend.


House (2004-12)

Eu nem acredito que a série House chegou ao fim. Acompanhei-a religiosamente durante sete anos. Fique aqui com a belíssima música-tema, na voz de Elizabeth Fraser, do Cocteau Twins.


O Panótico vê aqui e agora (250)


 A culpa é de Voltaire
(2000)


Paris, 1999. Jallel é um imigrante ilegal tunisiano que vai para Paris tentar faturar uma grana e ajudar a família em casa. Instruído por outros imigrantes magrebinos como ele, Jallel preenche uma requisição de asilo político como argelino, e justifica a sua escolha pela França com base em princípios iluministas. Os amigos acreditam que os franceses seriam suscetíveis ao sentimento de culpa pela repressão à revolução argelina (1959-61) e, simultaneamente, ficariam envaidecidos pelo elogio à pátria dos direitos humanos, daí o título.



O funcionário da imigração claramente não acredita em Jallel, mas segue a legislação e a política em vigor, e concede um visto provisório de trabalho para o tunisiano por três meses. Jallel sobrevive como camelô de abacates e flores, trabalhando irregularmente nas estações de metrô e pelas ruas de Paris. Preocupado com a renovação deste visto, Jallel tenta se casar com uma francesa filha de tunisianos (Nassira) e mantém laços de amizade com outros imigrantes e subempregados como ele. Mais adiante, uma jovem com transtornos mentais (Lucie) se aproximará dele.

É o terceiro filme que assisto com o ator francês Sami Bouajilla, de quem já vi dois ótimos trabalhos dirigidos pelo argelino Rachid Bouchareb: Destinos Cruzados (2009) e Fora da Lei (2010), já resenhados aqui. O tema do imigrante não é tratado como mera questão política, mas abordado no contexto das relações que se estabelecem entre as pessoas e a brutalidade das rupturas. Os imigrantes não são santos e nem fundamentalistas. Usam as brechas do falho sistema de controle de imigração francês para poder se estabelecer. Somos levados a nos sensibilizar por pessoas que têm que tentar se virar com empregos muito ruins, e ainda assim se agarram a eles porque no seu país de origem a situação é pior.



Muito interessante também a abordagem da cidade de Paris, pelo quotidiano das áreas menos nobres ou turísticas. Em um diálogo sintomático, um amigo de Jallel diz que quer voltar para sua Brest natal (na Bretanha) cansado do clima  de Paris (como se lá fosse diferente) e da indifernça das parisienses para com ele. Jallel, por sua vez, defende a cidade, por achá-la bonita, cheia de novidades e de pessoas diferentes. Há uma outra cena em que Jallel tem uma pequena dificuldade em mover a maçaneta do vagão de metrô, e é assim mesmo que acontece com quem a utiliza pela primeira vez, rs...

É o primeiro filme do tunisiano Abdellatif Kechiche (n.1960), premiado por A vênus negra (2010). Vou procurar pelos seus filmes posteriores.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Seleção oficial de Cannes

Like someone in love, de Abbas Kiarostami

Dos diretores abaixo eu gosto de Michael Haneke, Abbas Kiarostami, Ken Loach, Alain Resnais, e Thomas Virtenberg. Os demais eu não os conheço ou apenas respeito. O site traz sinopses dos filmes (em português).

Fonte: http://www.festival-cannes.com/pt/archives/inCompetition.html

O Panótico vê aqui e agora (249)



This is England
(2006)



Alguma cidade bocejante do norte inglês, 1983. Shaun Field é um garoto de doze anos vítima de bullying porque a sua mãe sub-hippie não leu jornal por volta de 1976 e não ficou sabendo que a calça boca de sino foi sepultada pelo movimento punk. Órfão de pai devido à guerra das Falklands (eu entendo que neste caso específico o Reino Unido tem mais razão política, jurídica e histórica do que a Argentina, mas isto é outro papo) o menino reage com a linguagem que lhe cabe conhecer, de uma maneira até corajosa já que é pequeno diante dos odiáveis valentões de escola. Topa por acaso com um grupo skinhead light, uns adolescentes e jovens meio sem rumo, sem perspectivas, o que não é culpa deles, e que se viram com pequenos delitos, álcool, drogas, e sexo. Shaun é adotado pelo líder Woody, uma espécie de primo justo da galera.


Fiquei com receio de ser um filme datado sobre um tema recorrente. Mas entra em cena um ex-presidiário: Combo, - a quem Woody deve o fato de não ter ido parar na cadeia-, e meio que assume a liderança de parte do grupo, Shaun incluído, com uma linha mais política, mais próxima do skinhead mundialmente conhecido: iletrado, violento, chauvinista, racista e manipulado pela extrema-direita do National Front com aquela linha de que "nos tomaram o Reino Unido enquanto somos mais de três milhões de desempregados". Por ser mais velho, Combo assume a paternidade do moleque e o leva precocemente para um pálido refúgio.

Gostei do filme à medida que evoluiu. Não é o populismo de que vivo reclamando (e vem mais por aí pelo que estou lendo sobre Cannes), aquela estória de que o autor adotou a perspectiva dos de "baixo", a de que a violência dos explorados é autoexplicativa, este irresponsável discurso tão amado pelos desconstrutivistas. Aqui os skinheads são tratados como vítimas, não são meras caricaturas de nazistas, até a sua ignorância têm atenuantes, mas em nenhum momento o filme lhes dá razão.

Chamou-me também a atenção o talento do garoto Thomas Turgoose, as falas parecem vir do coração, é o perfeito estado de transição entre a infância e a adolescência, e de Stephen Graham (Combo) de quem conhecia apenas o papel secundário de Tommy, um acovardado criminoso de Snatch, porcos e diamantes (2000).

O diretor Shane Meadows me é desconhecido, mas fiquei interessado em Dead Man's shoes, o seu filme anterior. Li que está envolvido em algum projeto televisivo de maior alcance também sobre a situação político-social inglesa.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Panótico (finalmente) vê aqui e agora (248)



Psicose
(1960)



Lá nos idos de mil e novecentos  e setenta e seis eu assisti um Globo Repórter com Sérgio Chapelin, em uma sexta-feira, dedicado ao recém-falecido mestre britânico do cinema Alfred Hitchcock, e a imagem do mocinho morto pelo bandido do filme Psicose ficou na minha mente, a famosa cena da escada em que Norman Bates mata o detetive particular. Criança, pensei: que filme ruim, como pode o  mocinho morrer no final? Depois disto, claro, já vi a outra cena famosa, - a da mocinha morta no chuveiro - em muitas ocasiões, e pensei: não vou assistir este filme apenas para cumprir um dever de casa, como obrigação de cinéfilo que se preze.

Mas, após assistir O guia pervertido do cinema, a análise psicanalítica da obra por Slavoj Zizek me despertou a curiosidade por ver este clássico, já exibido na tv dezenas de vezes. Não vou ficar aqui comentando o filme como marco do cinema, todo mundo sabe disto, mas apenas algumas observações sobre o que me chamou a atenção:




a) gostei do tom realista das personagens e da maioria das falas, guarda algo do cinema noir.

b) Anthony Perkins não me pareceu um canastrão como normalmente se diz, mas um rosto versátil.

c) Acho um barato a mãe de Howard Holowitz (The big band theory) ser uma paródia da sra.Bates.

d) A captura de Bates poderia ser mais complexa, mais desenvolvida, mais espetacular, neste sentido os filmes de suspense posteriores me parecem mais impactantes.

e) a casa estilo família Adams é bem legal.

f) a fala do psiquiatra é cheia de poses e caras, como alguém que exerce uma profissão não muito levada a sério - pelo ser humano médio da época -, necessitando de dramatizar para adquirir autoridade.

g) Comparativamente, de Hitchcock, gostei mais de Janela Indiscreta, Vertigo, Festim Diabólico, Os Pássaros e Intriga Internacional.

h) Psicose 2?  Sem chance.


terça-feira, 15 de maio de 2012

O Panótico vê aqui e agora (247)



Mickybo e eu
(2004)


Belfast, 1970. Mickybo é um garoto católico, oito anos, filho caçula de um pai omisso e de uma mãe dona de casa que mantém o bom humor enquanto cuida de seus seis filhos. Mickybo é o autêntico menino de rua proletário, às voltas com encrencas e vítima da ameaça de outros garotos como ele. Jonjo mora do outro lado da ponte que separa católicos e anglicanos, nove anos de idade, e filho único de uma família de classe média. Incidentalmente, Jonjo e Mickybo se aliam, vão ao cinema assistir Butch Cassisdy & Sundance Kid, com Paul Newman e Robert Redford, e o peralta garoto ruivo propõe ao mais velho e comportado que formem uma gang. Mickybo vai ensinar a Jonjo a furtar e outras traquinagens.



Este é um filme muito charmoso. As aventuras dos dois garotos e a esperteza do pobre Mickey Boyle ganham o espectador. Tudo funciona bem: os atores, a trilha sonora, o enredo, a narrativa, o sotaque irlandês, o contexto político, a inserção constante do universo de Dois homens e um destino, e principalmente as fantasias do universo infantil. Fiquei com a impressão de já ter visto este tipo de filme muitas vezes, mas sempre em obras estadunidenses. Mas não importa, é diversão garantida.