Power, corruption & lies
(New Order)
Em 1985 a minha fonte de informação sobre rock era a horripilante revista Bizz, que adorava irritar os fãs de rock progressivo e simultaneamente promover qualquer bandinha inglesa independente, ou qualquer rapper estadunidense, como se fossem o que há de melhor no mundo. Tudo isto para na publicação do mês seguinte nos revelarem que estas bandas ou rappers não eram, na verdade, tão bons assim, mas que os indicados deste mês, estes sim, eram o suprassumo do que haveria de inovador dali em diante. Apesar disto, a Bizz era a única fonte de informação disponível, e nela escrevia Pepe Escobar, um ex-jornalista da Folha de São Paulo que àquela época residia em Londres e costumava acertar em cheio nas suas dicas, ainda que gostasse de escrever sobre as bandas de uma forma um tanto elíptica.
Pois bem, Pepe Escobar fez uma excelente matéria sobre duas bandas de Manchester, sendo uma continuidade da outra: Joy Division e New Order. Joy Division contva com o cantor Ian Curtis, um poeta um tanto deprimido, para dizer o mínimo, com letras sobre angústia e solidão. Ian Curtis dançava no palco como se estivesse sob efeito algo parecido com um ataque epilético, e sua figura magra, muito branca e com olhos esbugalhados, parecia uma boa personificação do que cantava. O Joy Division durou entre 1978-80, fez três excelentes álbuns, e após o suicídio de Ian Curtis, tema que já foi às telas em ótimo filme, os três membros remanescentes, o guitarrista Bernard Sumner, o tecladista Peter Hook e o baterista Stephen Morris convidaram a tecladista Gillian Gilbert e formaram o New Order.
Algumas meses depois fui à Belo Horizonte e lá assisti, em um anfiteatro da UFMG utilizado pelo DCE, a dois documentários: Here are the young men, com shows do Joy Division em Manchester e Eindhoven (Holanda), em 79-80, e a Taras Schevchenko, um show do New Order em uma casa cultural ucraniana em Nova York. Gostei muito de ambos e fui atrás dos discos das duas bandas. Adquiri o vinil nacional Closer (1980) do Joy Division, mas somente havia cds importados caríssimos do New Order, e mesmo assim, sob encomenda. Universitário de tempo integral, sem mesada, e cujos únicos recursos para lazer provinham de uma bolsa de monitoria em História da Arte da UFJF, fiz o que os jovens duros de classe média faziam à época de cds importados a quarenta dólares: comprei uma fita gravada com dois álbuns do New Order: Power, corruptions and lies, e Brotherhood (1985).
O show do New Order a que assisti era mais mais fundamentado no primeiro álbum do grupo: Movement (1981), mas deu para sentir qual era a do grupo. Muito intimistas (o que mais tarde eu iria concluir que tinha mais a ver com a bronquice de jovens suburbanos semi-letrados), o guitarrista Bernard Sumner (na realidade, um sujeito semi-analfabeto conforme revelado em várias entrevistas dadas por ele e por Peter Hook) mal cantava, e chegava às vezes a tocar de costas para a plateia. Nenhum sorriso ou comunicação com o público, uma atitude que era vista como algo do tipo: "somos artistas, fazemos o que fazemos, gostem ou não, não estamos aqui para divertir". Com o tempo, fui perdendo interesse no New Order, apenas mais uma banda que toca para públicos consumidores de ácidos em raves.
Mas Power,corruption and lies é muito bom. Muito diferente do Joy Division, é um som em que os sintetizadores predominam sobre a guitarra desafinada de Sumner. Se o Joy Division era mais angustiante e reprimido, o som do New Order é mais... químico. A minha preferida é Your silent face.
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