Juiz de Fora

domingo, 11 de setembro de 2011

O Panótico vê aqui e agora (161)


W.
(2008)




Oliver Stone já foi um dos meus cineastas preferidos e JFK é um dos grandes filmes políticos de que me recordo, já tendo o exibido para os meus alunos por seguidos anos. Também gostei bastante de uma sutileza política de Nixon: por ter sido um político assumidamente de direita Nixon pôde restabelecer relações com a China e com a URSS, algo que um presidente democrata teria enorme dificuldade em fazê-lo por que ficaria na berlinda diante da imprensa e do poder econômico dos EUA. Há mais uma meia dúzia de bons filmes de Oliver Stone: Salvador, Platoon, The Doors, Wall Street e Nascido em 4 de julho, todos da segunda metade da década de oitenta. Nos anos seguintes o homem parece que perdeu a força, e há alguns anos atrás parecia estar encantado com o ditador venezuelano Hugo Chávez, o que me desapontou um pouco.




Quando este W. foi lançado George W. Bush ainda era presidente, e o pouco que ouvi falar do filme era de que Oliver Stone havia realizado uma obra em seu favor, e eu pensei: duvido muito, alguém que se ilude com Chávez é certamente de esquerda, não vai bajular um presidente republicano em fim de governo com baixíssima popularidade.




Basicamente, o cinema trata de biografias de chefes de Estado sob quatro enfoques, do mais ingênuo ao mais realista: os chefes de Estado são uns iluminados que agem sob os mais altos desígnios, tipo os reis de estórias como o Senhor dos Anéis; os chefes de Estado quando erram, o fazem pensando no bem do povo, tipo o que os leitores brasileiros pensam de Lula; os chefes de Estado erram por suas próprias falibilidades: inveja, recalques, traumas, limitações intelectuais, somos todos humanos, não é mesmo?; os chefes de Estado erram porque são meros agentes das classes dominantes, dos lobbies, de grupos de pressão ou pelas condições objetivas da realidade, é o enfoque de qualquer filme marxista; W. se enquadra no terceiro grupo.


George W. Bush é apresentado como um filhinho de papai texano bronco, alcoólatra, farrista, que possui um pai das antigas que a todo momento demonstra a sua decepção para com o filho que não aproveita o berço de ouro e faz algo de valor. Junior quer o tempo todo convencer a si e ao próprio pai de que é capaz de grandes feitos.

Além da brilhante atuação de Josh Brolin, este filme traz outras caracterizações que buscam uma aproximação histórica com os agentes da trapalhada da invasão do Iraque, em 2003: Condoleezza Rice é a carreirista que nunca perde a oportunidade de puxar o saco do chefe; o vice Dick Chenney é o manda-chuva que compreende melhor do que ninguém o interesse econômico do conflito; Donald Rumsfeld o arrivista que não assume o que faz; o comandante Colin Powell foi o que mais se opôs à invasão do Iraque, mas confrontado com a possibilidade de perder o poder marcou um golaço em favor de Bush, diante do Congresso; a esposa Laura Bush é uma democrata que gosta de alfabetizar e participar do poder; e os senadores Hillary Clinton e Edward Kennedy aplaudiram a invasão do Iraque, pois a memória do povo dura pouco e perde-se votos ao remar contra uma maré muito forte. No, this is not a love story.


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