Juiz de Fora

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O Panótico lê aqui e agora (23)



Em 1983 eu prestei o vestibular para História e na época as federais já exigiam a leitura de alguns livros para as questões fechadas de literatura. Uma destas leituras foi O cobrador de Rubem Fonseca (1925-     ). Por ser apenas um conto não li o resumo, li o texto na íntegra. Fiquei impressionado com o estilo "Carga Pesada" (seriado global) aquela coisa mundo-cão, um marginal que fazia "justiça" com as próprias mãos, executando pessoas de classe média e ricos com requintes de crueldade e poupando outros tão ou mais miseráveis do que ele. Cursando História manjei o por quê desse tipo de leitura ser impingido à vestibulandos de dezessete anos de idade: eram os professores universitários de esquerda despejando o seu desprezo para a classe média que até então não se rebelava com o regime militar, algo tipo: "olhem, seus burgueses, a podridão do capitalismo, se vocês não mudarem de lado vão experimentar a navalha afiada do cobrador". Como nunca gostei de ser cobaia da utopia alheia tomei antipatia brutal de todo escritor amado pela esquerda latinoamericana: Jorge Amado, Gabriel Garcia Marquez, etc., etc., e também do moralismo às avessas de Rubem Fonseca.

Bom, mas perdemos todos com estes estereótipos, os leitores e os escritores. Agora, em outro contexto, tive curiosidade de ter mais algum contato com este autor, até em função do mestrado em literatura, ou principalmente em função dele, para ser honesto. Peguei este volume de Contos Reunidos na biblioteca de uma das escolas municipais em que trabalho, um livro que dificilmente eu compraria, a obra estava lá, pegando poeira, há sete longos anos, e está bem visível que jamais foi folheado. Reúne seis livros do autor: Os prisioneiros, A coleira do cão, Lúcia McCartney, Feliz Ano Novo, O cobrador e Romance Negro, escritos entre 1963 e 1992. Já li os quatro primeiro contos, e, com exceção de um que descreve uma autópsia, - algo para o qual não tenho estômago e que me fez abandonar um romance policial de Patricia Cornwell -, achei-os uma leitura curta, estimulante, e, não há dúvida, o homem já era cru antes do período militar, e então posso concluir que a sua obra não foi uma das muitas bobagens escritas neste país apenas para provocar a censura do autoritarismo, coisa mais adolescente. Não vou dizer aqui que vou ler o livro inteiro, como normalmente faço com os demais, mas é mais um escritor com que estabeleço as pazes.


Um comentário:

  1. eu gosto de rubem fonseca, jorge amado e gabriel garcía marquez. beijos, pedrita

    ResponderExcluir