Juiz de Fora

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O Panótico vê aqui e agora (155)



Café Lumière
(2003)

Uma jovem japonesa está pesquisando, sabe-se lá por que motivo, sobre a vida e obra de um músico de Taiwan que morou no Japão durante a década de trinta, aproximadamente. Soma-se a isto o fato de que está grávida do noivo, mas não pretende com ele se casar (?!) Deixa eu perguntar bem baixinho: ficou noiva, para quê?





Este filme do chinês Hou Hsiao-Hsien (Flores de Xangai e A viagem do balão vermelho) tem como referência explícita a obra do realizador japonês Yasujiro Ozu (1903-63), alguém de que nunca tinha ouvido falar até este ano, e daqui a alguns dias farei o post sobre o seu filme Bom dia. Para mim, cinema clássico japonês se resumia a Kurosawa. O cinema de Ozu é como Ulysses, de James Joyce: o quotidiano e os seus microacontecimentos prevalecem sobre a narrativa, salvo melhor juízo.. Aqui em Café Lumière as cenas concentram-se sobre os cômodos das residências, a rotina dos transportes públicos, a luz do quarto sendo acesa, o marido aguardando o pepino da esposa enquanto toma uma cerveja, etc. A proposta me parece válida, e não chega a ser um filme apenas para cinéfilos e intelectuais, mas também não é o suprassumo da originalidade, mesmo porque se trata de uma homenagem a outro cineasta de meio século atrás.





Agora, independentemente disto, os poucos elementos convencionais do filme não despertam grande interesse: a moça se assemelha a centenas de milhares de estudantes universitários das Humanidades: aqueles bichos-grilos típicos de História, Letras, Ciências Sociais, etc, que buscam na seara acadêmica algum tipo de compensação para a falta de carisma, algo do tipo "não sou bonita e nem gostosa, mas sou inteligente e estudiosa". Embora eu tenha dito anteriormente que não vejo filmes atrás de gente bonita, também não fico indiferente à total falta de apelo da protagonista. O marmanjo que faz de amigo e quer substituir o noivo também não fica atrás, sentado no seu sebo tomando o café enquanto diz coisas como "quando se perdeu a noção de infância na Europa", rs... O músico que é objeto da pesquisa também não me seduz. Eu queria poder elogiar mais este filme, mas peguei no sono duas vezes.


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