Juiz de Fora

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O Panótico vê aqui e agora (159)


Submarino
(2010)





Se o leitor(a) não está interessado (a) nas minhas memórias pode pular para o último parágrafo e se informar sobre a sinopse deste filme. Do contrário, convido-o(a) a continuar a ler o que se segue. Quando eu era menino pequeno lá em Belo Horizonte, perto de Barbacena, as escolas faziam concursos nacionais de redação com o objetivo de, após uma longa seleção, selecionar três garotos (as) do primário para serem convidados, com tudo pago, a almoçarem com o presidente da república, o general Emílio Médici (1969-74). Era muito criterioso: escolhia-se a melhor redação da sala, depois a do colégio, em seguida a do município, a do estado, e depois três filhos de políticos do partido governista, a ARENA, eram enviados a Brasília porque o regime militar não era besta de dar o azar dos estudantes escolhidos serem filhos de oposicionistas ou de intelectuais comunistas, rs... Pois então: lá no longínquo ano de 1973, eu cursando a antiga segunda série primária, redigi uma redação em que afirmava que os EUA eram o melhor país do mundo, por serem os mais ricos. A maioria dos meus colegas, ao contrário, escreveram que o Brasil era o melhor país para se viver, pois aqui não há terremoto e nem vulcão e somos geograficamente maiores do que a Europa com exceção da Rússia. Um coleguinha me perguntou de que adiantava os EUA serem o país mais desenvolvido do mundo se não eram tricampeões de futebol como nós, rs...

No ano seguinte eu assisti um videoclip do ABBA, Mamma Mia, e perguntava aos adultos como era na Suécia: ouvi que lá era o país dos loiros, onde não havia pobreza, não havia mendigos nas ruas, quase não havia crime. Nos anos seguintes, nas antigas quinta à oitava séries, eu rapidamente me interessei por política, desencantei com os EUA, mas também nunca nutri quaisquer amores pelo mundo "socialista". Lendo sobre a Europa em enciclopédias ouvi pela primeira vez a palavra social-democracia e algum professor descreveu que o que se passava na social-democracia era o que se verificava nos países escandinavos. Também não me iludi, dado que todos falavam sobre o alto índice de suicídios entre os suecos. Perguntei ao professor da antiga disciplina de Educação Moral e Cívica por que suecos, japoneses e alemães eram recordistas em matéria de por um fim à própria vida e ele me disse: "é por que lá não há grandes problemas, as pessoas ficam muito entendiadas"...




E aí eu fui estudar História, você vê que tudo é capitalismo e descobre que não há exatamente um país que você poderia escolher viver sem possuir algumas dúvidas. Mas independentemente de tudo que ouvi e imaginei, a leitura de Smilla e o sentido da neve me deu uma noção bem concreta de como as coisas funcionam na Dinamarca. Nos anos seguintes li alguns romances policiais de Henning Mankell dando uma impressão bem negativa das sociedade e política suecas. E nos últimos anos os romances de Stieg Larsson têm a mesma tônica. Mas, ainda sim, é forte a impressão de que eu tenho de que o Velho Mundo ainda é uma melhor sociedade do que as do Novo Mundo. Mas este Submarino quer mostrar que há muita coisa podre no reino da Dinamarca.
.




Na Copenhaguen contemporânea, dois adolescentes (Nick e sem nome) cuidam do irmão caçula com poucos meses de vida dado que a mãe é alcoólatra e vive apenas em função da bebida. O bebê vem a falecer por falta de cuidados e o filme dá um salto para os protagonistas já na idade adulta. Nick bebe com frequência e é dado a resolver tudo na base da violência, e o seu irmão do meio é viúvo, possui um filho de uns seis anos e dele tenta dar amor e carinho o suficiente, mas é viciado em drogas injetáveis. O tema é surrado, mas dos mais relevantes: a importância de uma família estruturada na vida das pessoas. Esta obra se enquadra no cinema "realista" e me lembra os filmes ingleses de uns quinze anos atrás, - aquela coisa de famílias proletárias em que ninguém dá uma dentro, a falta de oportunidades potencializada pela falta de esclarecimento dos atores sociais-, mas sem o humor pós-punk dos britânicos e sem humor pastelão dos italianos que são a fonte disto tudo. O diretor Thomas Vintenberg é colega de cinema de Lars von Trier.  O ator principal (Jacob Cedergreen) faz uma atuação marcante, sem ser brilhante, mas que dá a medida certa a uma personagem que nada "quer daquela mulher" (a própria mãe).


2 comentários:

  1. eu não li em detalhes pq ainda não vi esse filme. só costumo ler resenhas depois. eu fui no imdb para ver os filmes da mira sorvino e ele está em vários por ano http://www.imdb.com/name/nm0000227/

    ResponderExcluir
  2. Submarino, por coincidência, começa a passar hoje aqui em JF.

    Obrigado pela informação, para mim ela estava desempregada,rs...

    ResponderExcluir