Um gosto e nem tantos vinténs assim

Como todo ser humano sujeito a tristezas eu também fico meio que fragilizado às vezes e por isto mais propenso a compensar frustrações com novas aquisições. Mas jamais perdi a cabeça em uma compra, não faço dívidas com bens de consumo, não levo o que não preciso ou não me vai ser útil, e as pessoas que vão para tv dizer que estão penduradas pelo cartão de crédito com compras exageradas não me causam o menor sentimento de piedade. Sonseira deve ser punida com dor excrusciante.

Dito isto, hoje extrapolei.

Mas extrapolei dentro do meu padrão enaldiano de extrapolamento. Comprei dez livros. Já houve época em minha vida, bem distante cronologicamente, mas bem viva no meu subconsciente, que a aquisição de um único exemplar me demandava uma boa hora para tomar uma decisão. Não vai acontecer em minha vida que eu vá algum dia mandar embrulhar a livraria e entregá-la em casa. Mesmo na hipótese exígua de vir a enriquecer não gastaria a esmo; o desperdício puro e simples não me desce.

O prazer de tê-los comprado é intenso, pois maior do que a fatura é o benefício que me aguarda. A aquisição de livros, no entanto, é um desprazer para boa parte das pessoas, mesmo as de formação universitária. Pode incluir aí mestres e doutores, e mesmo professores universitários. O prazer da leitura não exige currículo Lattes e nem é propiciado por sua ostentação.

Aos leitores fictícios deste blog que abominam estes seres de celulose fica aí um consolo: a grana que torrei hoje (à vista, com desconto, sou um consumidor racional) equivale ao seu par de sapatos que lhe dói o pé ou vestido que você comprou mas só vai usar uma vez, ou, se preferir um exemplo masculino, a saidinha com os seus colegas de trabalho que não valeu muito a pena.

E termino por aqui parafraseando Morrissey:

Shoes and gowns are on your side,

while books are on mine.