Juiz de Fora

sexta-feira, 4 de março de 2011

O Panótico vê aqui e agora (86)




O discurso do rei
(2010)

Não vou aqui repetir o que todo mundo já sabe: o filme ganhou vários Oscars (êêêêêêêê), Colin Firth vai se tornar lorde (êêêêêêêê), o filme é uma propaganda de uma instituição cara e inútil (êêê...what?!).



Eu pergunto: por que alguém precisaria de monarcas? Não obstante as qualidades dramáticas de Firth e de Helena Bonham Carter [em uma rara personagem conservadora, como a rainha-mãe Elizabeth (1900-2002)], O discurso do rei faz um esforço medonho em compatibilizar duas crenças tão opostas a ponto de cabeças rolarem: o republicanismo, que se fundamenta na convicção de que as distinções de berço são irrelevantes, e de que a relação entre povo e Estado se baseia na cidadania; e a monarquia, por outro lado, que se fundamenta na convicção de que algumas pessoas, sem mérito ou esforço pessoal, possuem um traço distintivo: a nobilitas, o que demanda uma relação entre povo e soberano baseada na fidelidade.



Isto explica, por um lado, que o príncipe Albert (futuro rei George VI) é exposto na sua condição humana, particularmente na cena em que fala repetidos palavrões, e o seu esforço pessoal em vencer a própria gagueira lhe dá o mérito de ser um rei respeitado durante a guerra. E aí, eu pergunto: que diferença isto faz? O Reino Unido teria perdido a guerra por ter um rei gago? A Alemanha, por acaso, venceu o mesmo conflito porque tinha um líder eloquente? O resultado final do filme é óbvio: uma tremenda babação de ovo em prol de privilegiados. O Reino Unido merece uma república.




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