Poesia Completa e Prosa I
(Murilo Mendes, 1993)
Certa vez perguntaram a Jimmy Page (guitarrista do Led Zeppelin) por que havia decidido tocar guitarra: porque não é chato como dever de casa. Dever de casa, taí. Cheguei ao ensino superior sem ter ouvido falar do homem (o escritor, imagina se eu não sabia quem era o guitarrista). Havia na Letras uma professora que estava sempre relacionada à divulgação de sua obra. Para mim isto tudo era misto de bairrismo e busca de algo com que se destacar no meio acadêmico (não comentava isto com ninguém, para quê?). Só ouvia falar que o escritor era juizforano. Eu pensava: desde quando a procedência revela a importância do trabalho de alguém?
É comum as pessoas adquirirem cultura por círculos concêntricos, algo do tipo: primeiro eu conheço o povo da terra e depois vou atrás dos estrangeiros, algo similar a: primeiramente eu conheço o Brasil e depois o mundo. Neeeh, eu sempre quis primeiro o mundo e depois o habitat da minhoca. Depois fui sabendo que Murilo Mendes, apesar de juizforano, gostava mesmo era de um rio de janeiro, e depois, mesmo sendo brasileiro, foi morar mesmo - e falecer - em Roma. A declaração de sua viúva de que o poeta era carioca de coração só fez o meu rir, mais uma vez, do bairrismo paraibunense.
Mas o homem era credenciado: a gente lê um cartaz escolar aqui, vê uma matéria de tv ali, uma publicidade acolá, e fica clara a envergadura do mérito que é objeto da admiração alheia.
É Jimmy, dever de casa pode ser chato. Mas eu tenho que fazer o meu.
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