Juiz de Fora

quinta-feira, 3 de março de 2011

Às vezes é preciso dizer não



Hoje à tarde houve uma paralisação do magistério da rede municipal. Marcada em cima da hora, não tive como prever e deixar a tarde desocupada para atender clientes. Vi-me de repente com algo valoroso, um "luxo imaterial": uma tarde livre, inteirinha para mim em uma plena quinta-feira útil. Aproveitei para ir ao cinema ver "O discurso do rei" (outro post), na primeira sessão às quatorze horas, com pouca ou nenhuma fila. Assim como o Sheldon (The big band theory) eu tenho um lugar específico de que gosto para cada sala do Alameda, rs. Cheguei primeirão, quinze minutos antes. Uma simpática septuagenária veio logo após. Muito agitada, andando com frequência, me fez a seguinte pergunta: "Você viu Além da vida?" "É o filme com o Matt Damon?" "Isto eu não sei" "Se for, eu devo ver estes dias (e é verdade, tô com ele aqui, além de estrelado por Matt Damon é também dirigido por Clint Eastwood)" "Este filme é maravilhoso: são três histórias bláblábláblábláblá, mas na primeira, no final acontece o seguinte: blábláblábláblá, na segunda são três pessoas e bláblábláblábláblá, tem um atropelamento e bláblábláblábláblá, a terceira mistura com a primeira e blábláblábláblábláblá mas você pensa que aconteceu assim, mas não, blábláblábláblá.....


Eu já tive um sério problema de não saber dizer não às pessoas, a ponto de me deixar bastante aborrecido. Depois de muito esforço, aprendi a fazê-lo, mas eu preciso refletir algum tempo e estabelecer critérios para decidir a melhor hora de agir. Enquanto a gentil senhora ia revelando diversas reviravoltas do filme, eu pensava que compreender a condição dela, provavelmente uma pessoa solitária, seria algo exigível de mim, mais jovem e possivelmente de melhor nível educacional, que, além de tudo, poderia ver outras centenas de filmes e não precisaria bancar o desmancha-prazer, pois ela parecia realmente que estava feliz de poder contá-lo a qualquer pessoa que tivesse o coração aberto a ouvi-la. Ora, é apenas mais um filme.

.....

Não, não é não.

Perguntei-lhe: "A senhora não pretende me contar todo o enredo, não é?! Eu prefiro ver os filmes sabendo pouco sobre eles."



Não sinto orgulho do que fiz. Mas também não sinto vergonha. Fiquei com pena dela, no entanto.

Mas às vezes é preciso dizer não.

4 comentários:

  1. rsrsrs a velhinha se parece até uma personagem do Bukowski. é só ler qualquer conto, aparece uma velhinha desse tipo, tenha ela 12 ou 120.

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  2. eu falo não com uma certa facilidade ainda mais nesses casos, e como falo não rindo, com gestos, pedindo pra q não me contem, então acaba dando certo e sem mágoas, pq a pessoa até ri. beijos, pedrita

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  3. É uma boa dica, Pedrita, as mulheres têm mais tato e habilidade com a linguagem corporal.

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