Cópia Fiel
(2010)
O primeiro filme do diretor iraniano Abbas Kiarostami a que assisti foi Através das Oliveiras (1994) cujo tema repousa na insistente tentativa de um jovem camponês em convencer uma tímida e reprimida jovem camponesa a namorar com ele. Foi um pouco chato, mas é um filme que tem a sua beleza. Dois anos depois assisti O Balão Branco, este sim um filmaço, vitorioso de público em São Paulo, entre outros prêmios, sobre uma menininha iraniana que quer comprar um peixinho. Cinema grande, de primeira.
Juliette Binoche a vi pela primeira vez em A Insustentável Beleza do Ser (1988), mas ela coadjuvava Daniel Day Lewis, nesta filmagem da obra-prima do escritor tcheco Milan Kundera. Depois veio a série de Kieslowski (marido de Binoche) sobre os temas da revolução francesa, o tipo de série que me faz duvidar de quem realmente gosta de cinema e de quem é apenas afetado. Com exceção das locações em Praga tudo me pareceu pretexto para promover a esposa (esta coisa de musa de diretor, compositor, etc., eu nunca engoli).
Bem, muito tempo depois, um diretor que corre o risco de ser chato e uma atriz intelectualizada que corre o risco de me levar a crer que fatura mesmo é em cima dos big boobs estão juntos neste Cópia Fiel. A protagonista é uma mulher de meia-idade, mãe de um típico adolescente de classe média com pais de formação universitária (ele faz o que quer com a mãe, que a todo momento expõe a própria impotência), se joga para um escritor inglês que vai até uma cidade italiana onde a francesa possui uma loja de artesanato e obras de arte. Usando como pretexto discutir o livro do britânico, e dá-lhe big boobs para cima do cara (há uma cena em que exibe o sutiã retirado em uma igreja) o que Binoche quer mesmo é empurrar para a pobre vítima todas as suas frustrações de seu casamento anterior, e, quem sabe, provar um pouco de fish and cheaps. O inglês, porque não tinha nada mesmo para fazer até o horário do trem, topa passear com a dona pela bonita Toscana. E, à moda de Persona, de Bergman, o cara embarca na encenação da protagonista que passa a tratá-lo como se fosse o verdadeiro ex-marido.
Há um interessante diálogo, o melhor do filme, entre uma septuagenária italiana, pré-feminista e Binoche. A nona fazendo uma fala tipo: "filha, os homens não prestam, só têm atenção para o trabalho, mas não fique sem eles", e a cópia fiel lá: "Nona, eu sou francesa e pós-feminista, eu gosto de complicar e quero um homem com a maturidade emocional da mulher"
Mademoiselles et madames, vocês podem achar este filme muito romântico e bonito. Mas se estiver à perigo, rs, como a personagem de Binoche, este papo de "sou-uma-mulher-abandonada-e-com-filho" não vai fazer chover na sua horta. Ah, não? Veja o fim e conclua.
P.S. Ah, sim, Juliette Binoche deu um show, o melhor trabalho dela, creio eu.
P.S. II. Um casalzinho de seus vinte e cinco anos pôs-se a conversar em alto e bom som durante os primeiros vinte minutos do filme. Como ninguém próximo reclamava eu lhes disse: "Pessoal, vocês estão prejudicando o meu filme".
Funcionou.