Juiz de Fora

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Panótico vê aqui e agora (237)


Frango com ameixas
(2011)



Já disse aqui o quanto gostei de Persépolis, tanto os quadrinhos em quatro volumes como o fidelíssimo longa metragem animado. Assim, fiquei esperando por Frango com Ameixas, que eu não gostei tanto quanto de Persépolis, mas me permitiu conhecer a poesia de Khayyám, um poeta persa do século XII, cujos versos me atingiram em cheio na sequência abaixo, e eu peço permissão ao leitor(a) para reproduzi-los pois é o único poema que eu decorei de tanto sorvê-lo:

Os astros nada ganharam com a minha presença neste mundo
Sua glória não aumentará com a minha derrocada
E meus ouvidos são testemunhas: ninguém jamais foi capaz de me dizer...
por que me fizeram vir e por que me fazem ir embora.




Há variadas traduções, esta é a que eu acho mais bela. Este poema sobre a vida me faz gostar desta obra em particular (e me fez ler de imediato toda a poesia de Khayyám publicada no Brasil).


Isto posto, quando dei de cara com um filme, ao invés de uma animação, me perguntei: pour quoi? Duas hipóteses vem à mente: o vil metal ou o fato de Frango com ameixas ser uma obra de pouca extensão, dá para lê-la em meia hora, seria difícil reproduzi-lo em um longa animado de cem minutos.


Não muito convencido disto, fui assisti-lo com grande prazer ainda assim: mas aí aparece Mathieu Amalric (gostei muito dele em Munique) e não o associo com a personagem Nasser Ali Khan (1908-58), o tio-avô de Marjane Satrapi, protagonista da história. Pensei, por que não um ator iraniano, ou mesmo um francês que fosse, mas alguém mais adequado ao papel? Pour quoi?


Nasser Ali Khan foi um músico iraniano, um tocador de tar. Mau estudante, adolescente mimado e rebelde, resolveu estudar o instrumento para ganhar um tempo, apaixonou-se por Irane, filha de um joalheiro, teve o amor repentino correspondido pela moça, mas o pai disse não (eram os anos trinta). Infeliz, tornou-se um músico talentoso, exprimindo a sua dor por meio do tar (eu acho legal esta combinação de mito grego numa sociedade oriental). Casou-se sem amor e por pressão da mãe e também por comodismo. Teve quatro filhos, sua esposa quebra-lhe o tar yahya, não encontra outro igual ou equivalente e decide morrer aos poucos.

Tar? Olhe lá em cima, o que Amalric está tocando? Um violino Stradivarius? Pour quoi, mon Dieu? Para mim isto é ocidentalismo. E que história é esta de Nasser passar uns tempos em Paris? Estou com os quadrinhos na minha perna enquanto escrevo e verifico que não há nada próximo disto. Se fosse uma produção estadunidense, Nasser tocaria guitarra Gibson Les Paul e passaria férias em Nova York?!


Isto é um tar

Bem, ainda assim fiquei aguardando a cena do poema, e o filme passa batido sobre ele, numa tradução simplificadora, péssima,  fora de contexto e que Amalric declama burocraticamente. A cena de Sophia Loren? Uma moça com seios modestos, cadê aquela fartura napolitana, importem uma mulher-fruta do Brasil, dá uma chamada na Laetitia Casta, a Monica Belucci, sei lá, respeitem a nossa testosterona.

Por último, pensei, por que não fizeram uma animação como em Persépolis, mesmo colorido ficaria bonito. E aí vem a melhor cena, a animação do anjo da morte, Azrael, levando a vida do senhor Ashur, que fugira da Jerusalém de Salomão para a Índia, na vã esperança de escapar à morte, deixando claro para mim que o filme não funciona, não há como ser tão envolvente como uma animação.

Deveria ser um desenho. Magoei.

2 comentários:

  1. ah, tb não gostei tanto desse qt persépolis. a parte da música é um equívoco completo. detestei esse equívoco de q músico não trabalha. retrocesso, preconceito. fora q um dos melhores violinistas do seu tempo seria riquíssimo. beijos, pedrita

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