Juiz de Fora

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A importância de ser "chato"



Outro dia me perguntaram qual é a "lei" brasileira mais "forte". Em termos apropriados, a pessoa queria saber qual é a norma jurídica mais efetiva em todo o ordenamento brasileiro. Eu respondi: é um artigo que não está escrito em nenhum lugar, nem na Constituição, mas entranhado na mente de cada brasileiro: a obrigação de ser "simpático". O brasileiro não se importa de levar vantagem em tudo (muito pelo contrário, ele muito assim o deseja), de sonegar impostos, jogar guimbas de cigarro e papel de bala no asfalto, estacionar em lugar proibido, falar bombasticamente no celular, avançar sinal vermelho, esquecer as luzes acesas na garagem do condomínio, etc., mas existe algo do qual ele não pode ser questionado: a sua simpatia. Para garantir ser reconhecido socialmente como uma pessoa simpática, o brasileiro abre mão, com muito gosto, de seus direitos. Em nome da simpatia você suporta tudo, pois, quer coisa mais "antipática" do que alguém que reclama? O reclamão não tem amigos, é um antipático, tem o péssimo hábito de ser sincero e autêntico diante das atitudes alheias, não vão lhe dar aumentos e promoções, não será convidado para festas, não vai "arrumar" ninguém e, oh, vai morrer "sozinho". O chato é um ser nefasto, sua chatura causa mais prejuízos do que muitos malufes.

Infelizmente, eu não tenho o dom da simpatia. Se alguém, por exemplo, vestido de verde e laranja, me perguntar se eu gostei do seu novo visual, eu posso deixar de dizer que ela ou ele se parece uma cenoura, mas não vou dizer que está ótimo (a). Mesmo se o fizer, os músculos da minha face irão me trair e avisar o (a) pobre coitado(a) que eu estou mentindo, mesmo. Eu não tenho escapatória.

Indo ao assunto: eu almoço em um restaurante chinês vegetariano que oferece diariamente trinta pratos por um preço bastante razoável, suco e chá incluídos. Este restaurante é frequentado por uma clientela que, obviamente, não é toda de vegetarianos como eu, mas é um público universitário, não só de jovens, e que representa parte da elite pensante e faturante de Juiz de Fora. Por diversos sinais característicos, desde vestimenta, linguagem corporal, vocabulário, temas, etc., posso afirmar que quase todos possuem curso superior. Pois bem, neste agradável local de repasto, há um único banheiro. Contra isso, pouco posso fazer. Mas, de dois meses para cá, este banheiro singular deixou de oferecer toalhas, de papel ou de pano, que seja. Fiquei pensando, como o Barão de Mauá, "ou faço eu, ou ninguém faz". Será que nenhuma destas senhoras elegantes se incomoda em secar as mãos curvando-se para pegar papel higiênico? Não é adequado, gruda nas mãos, não é higiênico!

Falei ontem ao proprietário do restô: no banheiro não há toalhas. -É mesmo? -É. -Ora, você foi o único que reclamou.

Voltei lá hoje, e, na entrada do banheiro, um porta-toalhas de papel instalado. O simpático proprietário me perguntou: "E aí, gostou? Nossa, que vergonha. Eu pensava nisto antes. Eu ficava enrola, enrola, e não colocava".

A minha vontade era sair passando de mesa em mesa e perguntando: gostou de poder secar as mãos com conforto? Dérreal, ou então reconheça diante de mim que os chatos são legais.

2 comentários:

  1. recentemente uma pessoa queria usar de vez em qd uma garagem q não era dele, mas só um pouquinho. só falta essa mesma pessoa reclamar depois de corrupção. por sorte com o direito do consumidor, q é novo, aos poucos alguns tentam reclamar, mas concordam, recuam na hora q alguém olha feio e olha q muita gente olha feio quem reclama. algumas celebridades têm fama de chatos e conseguem tudo. como diz o 007, o brasil é preconceituoso por questões financeiras, quem tem dinheiro no brasil pode fazer qq coisa, até ser reclamão e aí fica com fama de excêntrico, pobre fica com fama de chato.

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  2. É bem por aí mesmo. Se a Madonna exige vinte celulares no seu camarim é vista como poderosa, estrela, grandiosa, importante e tal. Se o cidadão comum reclama que o seu celular não funciona e move uma ação contra a operadora é visto como criador de caso.

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