Juiz de Fora

domingo, 29 de abril de 2012

O Panótico ouve aqui e agora (108)




Mainstream/Static Anonimity/Old world underground, where are you now?/Live it out
(Metric/1998/2001/2003/2005)

God only knows como eu procuro por bandas novas e boas, como é difícil encontrar algo do meu agrado. O meu método de procura é um dos mais pobres possível: eu entro no site da cdnow e fico procurando pelos lançamentos vindouros. Isto porque as dicas de jornalistas e sites especializados raramente estão voltados pra o meu perfil.

Dei de cara com esta capa bonita e fiquei interessado. Li que a banda canadense Metric usa theremin e sintetizadores analógicos, e resolvi correr atrás, mas sem grandes esperanças.

E agora estou aqui, ouvindo o primeiro ep deles, muito satisfeito com um som pop denso e envolvente, boas vozes, boa sonoridade, nada de bizarrices ou,no extremo oposto,batidinhas idiotas. Um som adulto, melódico, compenetrado, intimista.



Static Anonimity é mais animado do que o anterior Mainstream. A primeira faixa Grow Up and Blow away me agradou logo de cara e me soa como uma promessa de bons ventos sonoros. Duas faixas meio decepcionantes e depois vem Soft Rock, que apesar do título, agarrou mais à minha mente com refrão em falsete e vocais dobrados.



O primeiro álbum da banda é este Old world underground, whre are you now? O cd tem uma capa que não me agrada (foto da cantora? por que não da banda?) e a sonoridade pop alegrinha vai além do que espero. Mais voltado para o mercado, ao que parece, espero que não tenha me empolgado cedo. De qualquer maneira, gosto do som seco dos instrumentos e as constantes referências eletrônicas aos bons tempos. A segunda faixa Hustle Rose tem bem a ver com um pop mais ansioso, mais pensativo. Mas este cd é bem new wave'81 e também me lembra Primitives, por volta de 1988. The List também me parece uma faixa interessante. On a Slow Night é um vago flerte com um revival dos setenta.


Live it out mantém o revival dos anos oitenta, mas ao invés da new wave está mais para o pós-punk, mais para o som do norte da Inglaterra. Isto fica bem visível em Glass Ceil, a segunda faixa. De modo geral, é apenas mais um disco pop.Eu preferiria que a banda tivesse mantido a linha do primeiro trabalho.

terça-feira, 24 de abril de 2012

O Panótico vê aqui e agora (239)



Diário de um jornalista bêbado
(2012)



Paul Kemp (Johnny Depp) é um escritor iniciante que se candidata a um emprego de jornalista em um jornal portorriquenho em crise (1960). O homem já chega lá bêbado e o seu chefe vai logo lhe avisando que o jornal tem por objetivo dizer que tudo vai bem na ilha caribenha e também agradar aos patrocinadores. Kemp parece não se importar muito pois está mais interessado em beber à vontade.

Paralelamente, um magnata da mineração e incorporador imobiliário contrata Kemp para elogiar por meio da imprensa uma jogada hoteleira que envolve um banco e militares graduados concernente à uma ilha paradisíaca pertencente ao governo dos EUA que será passada à iniciativa privada e servirá de fachada para elisão fiscal, tudo isto, é claro, prejudicando os interesses de Porto Rico. Mas Kemp se apaixona pela namoradinha volúvel do patrão e se dá mal.

Kemp acorda para a vida e resolve ser o paladino do jornalismo investigativo.




Já fui para o cinema sabendo que o filme não era grande coisa. O que me deu medo foi o tamanho da fila (ingressos a dois reais). Esqueci que Johnny Depp é meio velho para ser ídolo de tantos jovens na casa dos vinte, e, realmente, eles estavam lá por causa de American Pie 4, e eu fiquei satisfeito pelo meu gosto ser diferente do da maioria.

É bom ver Johnny Depp em papéis diferentes do usual, mas o filme é meio fraco, é mais uma comédia de trapalhões, com piadinhas tipo Pânico na TV (eu não ri em nenhuma delas, mas a plateia parece ter se divertido bem).

No final das contas, este filme baseado no livro The rum diary (1998) escrito pelo jornalista alcoólatra e viciado Hunter Thompson, que cometeu suicídio há alguns anos atrás, não diz a que veio, a única conclusão que eu tiro é que alguém sem objetivos na vida vai agir como alguém sem objetivos na vida. Bom, por dois reais, eu precisava sair do computador, dar uma voltinha e tal, cinema colado em casa, aquela história...


Biiblioteca Nacional disponibiliza Hans Staden para download.









Está disponível no site da Biblioteca Nacional, para download, a primeira edição da obra em dois volumes de Hans Staden "Duas viagens ao Brasil", publicada em 1557. O mercenário alemão, famoso por quase virar almoço de tupinambás e tema de filme brasileiro, escreveu este belo livro, com xilogravuras que fazem parte de tudo quanto é livro didático de História publicado no Brasil. É um livro mais para ser visto do que lido (a menos que você saiba alemão e tenha paciência com os caracteres da época). É a primeira vez que eu folheio (e possuo) um livro raro, rs...

http://blogdabn.wordpress.com/2012/04/24/duas-viagens-ao-brasil-de-hans-staden/#more-1318


O Panótico vê aqui e agora (238)


O agente da estação
(2003)



Finbar McBride é um anão apaixonado por trens. Obviamente infeliz por sua condição fisiológica e mais ainda pelo bullying que sofre cotidianamente, só se sente à vontade com o patrão, dono de uma loja de ferromodelismo. Mas, este, já idoso, vem a falecer e deixa para Fin uma propriedade em torno de uma estação desativada e mais os bens inventariáveis do estabelecimento comercial. Fin muda-se para a estação, a fim de viver isolado.



Mas o seu vizinho Joe, um jovem cubano simplório e até meio ingênuo, não vê Fin apenas como um anão, mas como um amigo em potencial, e tenta insistentemente socializar-se com ele, com lento, mas frutífero sucesso. Paralelamente, Olivia é uma artista plástica destrambelhada que sente muita culpa pela morte acidental do filho. E há também uma jovem bibliotecária que está grávida de um mané, e que sente atração pela gentileza (e fragilidade) do carismático Fin. E quase me esqueço da gordinha garota que quer levar Fin para falar em sua sala de aula.




Gostei demais deste filme, hoje em dia o cinema ou é muito blockbuster ou se trata de produções esteticistas que passam por grande apuro intelectual, como Shame, por exemplo. Aqui são pessoas comuns (ou muito especiais, à sua maneira) tentando buscar uns nos outros algum tipo de felicidade e companheirismo. Este curto filme de 87 minutos poderia ter durado mais meia hora, a gente torce para ver mais do convívio entre pessoas tão diversas mas que dão valor uns aos outros. Gostei também da dignidade do protagonista, não é um anão atuando como engraçadinho.

O cinema (ou eu, pelo menos) precisa de mais filmes como este.

domingo, 15 de abril de 2012

Ralf Hutter (Kraftwerk) no MoMa

100 best tracks of the seventies.



A NME publicou as melhores faixas dos anos setenta. Eu também vou fazer a minha. Para a dos anos sessenta foi difícil encontrar cem músicas de que eu gostasse muitíssimo. Para a próxima lista o meu trabalho é no sentido oposto: conseguir escolher apenas cem entre mais de mil de que adoro. Concordo plenamente com a NME em substituir songs por tracks, pois vai dar muita faixa instrumental. Nos anos setenta, meu (minha) amigo (a), o rock progressivo nadou de braçada.

My best loved covers (10)

My best loved covers (9)

My best loved covers (8)

My best loved covers (7)

My best loved covers (6)

My best loved covers (5)

My best loved covers (4)

My best loved covers (3)

My best loved covers (2)

My best loved covers (1)

Eu adoro covers, muitas vezes elas têm o talento e a oportunidade de superarem a sua origem. As escolhas aqui aparecerão conforme a minha lembrança, sem entrar no mérito.

My 100 best loved songs of the 60s (1-10)

1.º)


















10º)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Panótico vê aqui e agora (237)


Frango com ameixas
(2011)



Já disse aqui o quanto gostei de Persépolis, tanto os quadrinhos em quatro volumes como o fidelíssimo longa metragem animado. Assim, fiquei esperando por Frango com Ameixas, que eu não gostei tanto quanto de Persépolis, mas me permitiu conhecer a poesia de Khayyám, um poeta persa do século XII, cujos versos me atingiram em cheio na sequência abaixo, e eu peço permissão ao leitor(a) para reproduzi-los pois é o único poema que eu decorei de tanto sorvê-lo:

Os astros nada ganharam com a minha presença neste mundo
Sua glória não aumentará com a minha derrocada
E meus ouvidos são testemunhas: ninguém jamais foi capaz de me dizer...
por que me fizeram vir e por que me fazem ir embora.




Há variadas traduções, esta é a que eu acho mais bela. Este poema sobre a vida me faz gostar desta obra em particular (e me fez ler de imediato toda a poesia de Khayyám publicada no Brasil).


Isto posto, quando dei de cara com um filme, ao invés de uma animação, me perguntei: pour quoi? Duas hipóteses vem à mente: o vil metal ou o fato de Frango com ameixas ser uma obra de pouca extensão, dá para lê-la em meia hora, seria difícil reproduzi-lo em um longa animado de cem minutos.


Não muito convencido disto, fui assisti-lo com grande prazer ainda assim: mas aí aparece Mathieu Amalric (gostei muito dele em Munique) e não o associo com a personagem Nasser Ali Khan (1908-58), o tio-avô de Marjane Satrapi, protagonista da história. Pensei, por que não um ator iraniano, ou mesmo um francês que fosse, mas alguém mais adequado ao papel? Pour quoi?


Nasser Ali Khan foi um músico iraniano, um tocador de tar. Mau estudante, adolescente mimado e rebelde, resolveu estudar o instrumento para ganhar um tempo, apaixonou-se por Irane, filha de um joalheiro, teve o amor repentino correspondido pela moça, mas o pai disse não (eram os anos trinta). Infeliz, tornou-se um músico talentoso, exprimindo a sua dor por meio do tar (eu acho legal esta combinação de mito grego numa sociedade oriental). Casou-se sem amor e por pressão da mãe e também por comodismo. Teve quatro filhos, sua esposa quebra-lhe o tar yahya, não encontra outro igual ou equivalente e decide morrer aos poucos.

Tar? Olhe lá em cima, o que Amalric está tocando? Um violino Stradivarius? Pour quoi, mon Dieu? Para mim isto é ocidentalismo. E que história é esta de Nasser passar uns tempos em Paris? Estou com os quadrinhos na minha perna enquanto escrevo e verifico que não há nada próximo disto. Se fosse uma produção estadunidense, Nasser tocaria guitarra Gibson Les Paul e passaria férias em Nova York?!


Isto é um tar

Bem, ainda assim fiquei aguardando a cena do poema, e o filme passa batido sobre ele, numa tradução simplificadora, péssima,  fora de contexto e que Amalric declama burocraticamente. A cena de Sophia Loren? Uma moça com seios modestos, cadê aquela fartura napolitana, importem uma mulher-fruta do Brasil, dá uma chamada na Laetitia Casta, a Monica Belucci, sei lá, respeitem a nossa testosterona.

Por último, pensei, por que não fizeram uma animação como em Persépolis, mesmo colorido ficaria bonito. E aí vem a melhor cena, a animação do anjo da morte, Azrael, levando a vida do senhor Ashur, que fugira da Jerusalém de Salomão para a Índia, na vã esperança de escapar à morte, deixando claro para mim que o filme não funciona, não há como ser tão envolvente como uma animação.

Deveria ser um desenho. Magoei.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

My 100 best loved songs of the 60s (51-60)



















O Panótico vê aqui e agora (236)



Pina
(2011)


Nunca tinha ouvido falar nesta dona. Não fosse o nome de Wim Wenders dificilmente iria assistir este documentário. Sejamos honestos, o nome do diretor por si só não foi suficiente. Após concentrar-me na minha dissertação por seis horas eu precisava de uma folga. E com um cinema colado em casa, a ridículos dois reais de entrada, sabendo que na última sessão eu teria grande chance de encontrar um cinema semi-vazio, resolvi ir lá e enfrentar minha indisposição com a dança.


Meus maiores receios eram: aquela coisa de divas, deusas, de pele, pessoas nascidas para a dança, etc, ou numa palavra: um espetáculo para o público feminino e/ou gay. O que encontrei: a ótima Sagração da Primavera numa baita coreografia, me deixando empolgado com o que viria pela frente. A tônica das entrevistas é a mesma: "eu era uma pessoa tímida e Pina me libertou". Ok. O filme é uma homenagem póstuma e artistas sempre bajulam artistas, mesmo porque é o propósito de todos os envolvidos. Mas as entrevistas são rápidas.

As cenas do metrô de superfície e esta acima com "chuva" sobre uma rocha são particularmente bonitas. A trilha sonora me cativou: erudito, jazz dos anos vinte e trinta, e música eletrônica (ou techno) num patamar que me agrada. Tem também Caetano Veloso, músicas românticas latinas e tango, para gosto de quase todos.



Do que compreendi a temática de Pina Bausch tinha a ver com as relações humanas e sociais no mundo contemporâneo. Achei as performances heterossexuais e mais voltadas para as emoções do que para performances mirabolantes. É mais teatro do que balé, acho, e talvez por isto eu tenha assistido até o final. Bem, se você já conhece o trabalho dela, vá. Se, como eu, é um outsider neste contexto, vá mais ainda.

Quanto a Wim Wenders, é uma produção bem diferente do que eu já vi do diretor alemão (Asas do desejo, Sob o céu de Lisboa e mais uns três ou quatro filmes).



segunda-feira, 9 de abril de 2012

Videoclips (66)



Independentemente do que se possa pensar da música do grupo islandês Sigur Rós, ou desta canção em particular, é tão raro, nos últimos dez ou quinze anos, eu ver um videoclip que valha a pena, algo tão fora do padrão MTV e simultaneamente capaz de afetar a sensibilidade do espectador, que resolvi colocá-lo aqui. Se o(a) leitor(a) gostou, eu recomendo - mesmo - assistir ao documentário Heimacom o Sigur Rós pelas belas paisagens islandesas.

My 100 best loved songs of the 60s (61-70)



















My 100 best loved songs of the 60s (71-80)



















domingo, 8 de abril de 2012

My 100 best loved songs of the 60s (81-90)



















My 100 best loved songs of the 60s (91-100)



A New Music Express elencou as cem melhores músicas dos anos sessenta de acordo com os seus jornalistas (http://www.nme.com/list/100-best-songs-of-the-1960s/263950). É impressionante como a NME adora classificações.

Eu também, então aqui estão as minhas em ordem ascendente, mas não excessivamente rigorosa.





















O Panótico ouve aqui e agora (107)


Tangerine Tree. Vols.24, 25 e 26. 


À medida que a série vai se avolumando os cds vão adquirindo um certo padrão invariável, o que varia, na verdade, é a maior ou menor fidelidade em relação aos álbuns originais. O vol.24 é de meados da década de oitenta, com os seus problemas já mencionados aqui. O vol.25, apesar da qualidade apenas razoável de gravação é o que mais me agrada: sete composições tendo como base Rubycon, Ricochet e Encore. Não podia ser melhor. O vol.26 tem faixas inéditas, mas o som básico é do disco Force Majeure (1979), um álbum meio decepcionante.

O Panótico vê aqui e agora (235)


Shame
(2011)



Brandon (Michael Fassbender, de Bastardos inglórios e X-Men) é um executivo que vive em Nova York e ocupa todo o seu tempo livre com sexo. Não tendo jamais na vida um relacionamento estável, Brandon está sempre à procura de relações fugazes, garotas de programa e sexo virtual. Sua irmã, Sissy, sofre de baixa auto-estima e faz o estereótipo moça-bonita-de-bela-voz-enquanto-não-conquista-Hollywood-vai-para-cama-com-qualquer-um. Sissy faz chantagem emocional com o irmão, que lhe considera um estorvo.



Quase deixei de ver o filme quando a moça canta a insuportável, chatíssima, feíissima, breguíssima New York, New York, em uma versão arrastada de mais de sete minutos. As cenas de nu frontal de Fassbender (inclusive urinando, mesmo) são completamente dispensáveis e fora de contexto, pura apelação.



Este filme é muito Nelson Rodrigues, é de um moralismo por caminhos tortos, o próprio titulo ("vergonha") assim o indica, e não apresenta um indício de explicação razoável para tanto vazio na vida dos mortais, coisa fácil de fazer. What a shame!

Dispensável.

O Panótico vê aqui e agora (234)



Pequenas feridas
(2003)



Em uma rua parisiense uma mulher bonita e balzaquiana retoca o batom em frente a uma vitrine. Uma jovem loura e tagarela pede o batom emprestado e desanda a falar sandices e coisas muito íntimas. Ambas se reconhecem e se dão conta de que a primeira é a esposa e a segunda é amante do protagonista, Bruno (Daniel Auteuil), um jornalista militante profissional do Partido Comunista Francês.



Achei o começo do filme um tanto improvável, mas rapidamente passamos das charmosas ruas de Paris para a região de Rhône, próxima aos Alpes, e a oportunidade de conhecer belas paisagens me prendeu ao filme. A garota abandona Bruno ao ouvir ele se referir à ela como idiota (e é mesmo), e em seguida Bruno tem que viajar e pelo caminho se envolve com diversas mulheres, dentre elas a muito charmosa e elegante Kristin Scott-Thomas, a prova mais cabal de que mulher atraente não precisa ser popozuda, ela vale dúzias de cestos de mulheres-frutas.



Independentemente da implausibilidade de Daniel Auteuil estar com esta bola toda (ele nu de costas é algo triste de se ver) o tema do filme é o fato de que não só Bruno, mas todos os demais personagens parecem estar muito perdidos, muito sem rumo na vida.


 
Valeu pelos Alpes e pela Kristin.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Panótico lê aqui e agora (28)




A montanha mágica
(Thomas Mann/1924)

Doutor Fausto de Thomas Mann me levou a praticar um sacrilégio. Pela primeira vez na vida pulei páginas. Apresento a minha atenuante: Thomas Mann é conhecido na literatura por ser muito descritivo, excessivamente minucioso, a obra tinha mais de setecentas páginas, eu estava super curioso em saber o desenlace final, e em determinado capitulo havia uma discussão de mais de trinta páginas a respeito de temas musicais que envolviam um conhecimento teórico de composição e harmonia que eu não possuo. Achei enfadonho e fui pulando os parágrafos, um a um, até o debate se esgotar e retornar à narrativa principal. Isto ocorreu há uns quinze anos atrás.

Nunca mais li nada de Thomas Mann, mas certas obras têm um efeito químico em mim. Assim que eu pego um clássico como este, começo a folheá-lo e, principalmente, verifico que o seu preço está a menos da metade de uma edição normal, eu não consigo (e nem faço muita força) resistir.



Com que então estou lendo A montanha mágica, a obra-prima do escritor alemão. Não sei se vou dar conta de suas mais de mil páginas em letras minúsculas, não este ano, com um mestrado por concluir. Não o ano que vem, com concursos por fazer. Mas é o próprio autor quem diz no "Propósito":

"Não será, portanto, num abrir e fechar de olhos que o narrador terminará a história de Hans Castorp. Não lhe bastarão para isto os sete dias de uma semana, nem tampouco sete meses. Melhor será que desista de computar o tempo que decorrerá sobre a Terra, enquanto esta tarefa o mantiver enredado. Decerto não chegará - Deus me livre - a sete anos. Disto isto, comecemos."


quinta-feira, 5 de abril de 2012

O Panótico vê aqui e agora (233)


Onde fica a casa do meu amigo?
(1987)


Em uma vila do Irã, um professor primário passa um sabão em um garotinho de uns dez anos, por ele ter esquecido o dever de casa pela terceira vez. O seu colega Ahmad fica entristecido pelo repreendido. Inadvertidamente, os dois coleguinhas sentados em carteira dupla trocam os cadernos por engano. Ahmad chega em casa, se dá pela coisa e quer devolvê-lo ao guri na berlinda.

A mãe, no entanto, quer que Ahmad cuide de sua vida, de seu filho bebê e lhe faça companhia enquanto lava roupas. Ahmad discute, argumenta com firmeza, pondera e, sem obter resultado positivo, foge de casa, decidido a reparar o engano e salvar o colega da punição certa.


Um dos primeiros filmes do grande Abbas Kiarostami, já possui a sua assinatura: uma abordagem naturalista, típica do cinema realista, inspirado em filmes estadunidenses dos anos trinta (em parte) e bastante nos italianos e japoneses dos anos  quarenta e cinquenta. A ausência de trilha sonora ajuda a compor lentamente a narrativa, o espectador não é avisado que está para sentir emoções, as conclusões chegam gradativamente.

Este filme permite análises acadêmicas que fogem à característica do meu blog. Observo apenas que a determinação ética do garoto é compartilhada pelos homens idosos da aldeia, ao passo que as mulheres são mais preocupadas com questões pragmáticas e quotidianas. A mãe sofrida, que se vinga da própria infelicidade sendo ranzinza e mesquinha com o próprio filho é produto de massa, encontra-se em dezenas de milhões pelo mundo (e pela história) afora. Mas isto é muito pano para manga. Grande filme.


O Panótico vê aqui e agora (232)


God bless Ozzy Osbourne
(2011)



Eu não gosto de heavy metal, e menos ainda de Ozzy Osbourne. No entanto, eu gosto muito de documentários, adoro biografias e respeito o trabalho do Black Sabbath pelos quatro primeiros discos, feitos entre 1970-2. Por estas razões resolvi ver este documentário.

Achei-o honesto e interessante, mesmo sabendo que se trata de um conjunto harmônico dentro da linha: "vamos falar de sucesso, drogas, rock, festas, muito dinheiro, mas depois lembrar a nossos filhos e netos que estas coisas são erradas e destroem famílias."

Eu não sinto pena de popstars drogados, aliás eu não sinto pena de popstars sóbrios. A esposa de Ozzy, Sharon, passa por uma heroína maternal, salvadora de Ozzy e mantenedora da família, mas ela tem uma parcela gigantesca de culpa por fazer três filhos com um cara sabidamente doente que já havia ferrado com sua anterior família (e seu casamento). Sharon é bem manipuladora, e mesmo os filhos de Ozzy pareceram ter um belo senso de marketing com o show de horrores The Osbournes, que passou na MTV mundial. Se há alguma ética neste povo foi a de sua primeira filha, Ammie, que se recusou a participar do seriado televisivo. Se é para ter pena de alguém, eu teria dos dois primeiros filhos de Ozzy que afirmaram com todas as letras que o cara foi um mau pai. Sentir piedade da primeira esposa? O que tem na cabeça destas groupies, casar com uma imagem?

A indústria fonográfica vende perdição e redenção.

terça-feira, 3 de abril de 2012

O Panótico lê aqui e agora (27)



Krautrocksampler
(Julian Cope/1996)

Krautrock, ao que me consta até que este livro me demonstre estar enganado, foi um rótulo criado pelas gravadoras britânicas para se referir ao rock alemão de vanguarda do final dos anos sessenta e início dos anos setenta. Inclui os muito cultuados (e relativamente pouco conhecidos) Can, Faust, Neu e Amon Düul. Também inclui grupos como Kraftwerk e Tangerine Dream, estes últimos estranhos aos demais, posto que pertencem ao ramo eletrônico (o primeiro) e progressivo ou progressivo eletrônico (o segundo) e com um alcance mundial de notório sucesso. Julian Cope fez parte de algum grupo britânico dos anos oitenta, cheguei a ver e ouvir alguma coisa dele na época, de pouca relevância e depois se tornou jornalista, de maior credibilidade do que como músico.

De cara, o autor já é honesto e mostra as garras: é apaixonado pelo mundo das drogas, particularmente pelo acidofilia dos anos sessenta, e é virulento contra o rock progressivo britânico, citando literalmente Yes, ELP e Pink Floyd como inimigos da música de qualidade. Independentemente disto, possui séria análise sociológica e é repleto de informações. Recomendo para quem gosta de história da contracultura e do rock em particular.