Juiz de Fora

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O Panótico vê aqui e agora (277)




Os intocáveis
(2012)


Philippe é um rico parisiense vítima de um acidente com paraglider que o tornou tetraplégico (para se ter ideia do poder aquisitivo do homem a casa dele me lembrou alguns ministérios e instituições oficiais que vi para os lados do rio Sena, mas não ficamos sabendo a origem de sua fortuna). Driss é um senegalês recém saído da prisão, tendo cumprido seis meses por furto, que pretende disputar a vaga de enfermeiro de Philippe. Pretende entre aspas, porque Driss quer apenas que três empregadores diversos comprovem a sua intenção de obter um emprego, para fazer jus ao salário desemprego do Estado francês, uma medida salutar, mas pouco eficiente, para impedir que milhares de pessoas se acostumem a este amparo público. Bom, mas isto é outro papo.
 
Philippe era um bon vivant, e possui todas as características de um burguês ilustrado. Nenhum dos candidatos anteriores ao posto de seu assistente sanitário aguentam prestar-lhe auxílio integral por muito tempo. São pessoas razoavelmente qualificadas para suportarem cuidar das necessidades fisiológicas de outrem, estão nessa apenas pelo salário. Philippe percebe que Driss não teria outra saída e o contrata. Driss foi expulso de casa por ter sumido por muito tempo.



Este filme trilha um caminho perigoso: por um lado tem aquela coisa típica do iluminismo francês (ou imperialismo, como queira): vamos ensinar aos demais o que é uma civilização de verdade; por outro lado, resvala para o populismo esquerdista de fundo rousseuniano, à la Trocando as bolas, conhecida comédia com Ed Murphy: dê uma chance ao bom homem do povo e ele vira um artista, ou, pelo menos, se torna uma pessoa integrada à sociedade, capaz de cidadania plena e um senso razoável de coletividade (não estou ironizando, o caminho é mesmo por aí). Além disso, substituíram o marroquino real que fundamentou o filme por um fictício senegalês, numa óbvia tentativa de levar o espectador a refletir sobre os seus próprios preconceitos.
 



Independentemente desta contextualização, Os intocáveis é realmente uma comédia muito engraçada, diverte e emociona (mesmo) e consegue atingir o humanismo na sua melhor forma, quando pessoas ultrapassam suas divisões e se enxergam como amigos. Philippe quer a juventude, a inocência e o gosto de viver de Driss, que, por sua vez, quer o american dream personificado por Philippe. Esta comédia tem sido tratada como uma espécie de redenção total do cinema francês, mas acho que aqui há dois exageros: primeiro porque é um filme muito americanizado, bastaria trocar Paris por Nova York ou Los Angeles, Philippe por um estadunidense não  muito texano, e Driss por um portorriquenho ou mexicano, por exemplo. O segundo exagero diz respeito à hilariedade do filme: você não vai rir a ponto de querer fazer pipi nas calças. Mas há unanimidade que foi a grande atração do último festival Varilux de cinema francês, e eu acredito nisto.
 
Baseado em fatos reais, a partir da obra de Abdel Sellou, Você mudou a minha vida, o verdadeiro Driss, na foto abaixo com o verdadeiro Philippe.
 
 
 
 

5 comentários:

  1. eu tenho vontade de ver, mas jurava q o filme era americano. eu vi o trailer e gostei. no brasil deve bombar já q o brasileiro ama filmes de deficientes. não sei se vão gostar pq brasileiro ama a mendicância e se fazer de coitadinho. beijos, pedrita

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  2. Aqui em Juiz de Fora ele lotou com antecedência durante o festival e continua em cartaz. Ontem estava semi-cheio por causa do horário. É a atração principal do shopping perto de minha residência.

    Driss é um coitadinho "esperto", isto agrada ao público, creio.

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  3. enaldo, o Chris Kraus do filme poll é alemão e sobrinho-neto da poeta oda que é a protagonista do filme. há uma escritora americana com o mesmo nome, mas ela nada tem a ver com o filme.

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  4. Oh! A Chris Kraus escritora também é diretora de cinema, daí a minha confusão. Valeu a informação.

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  5. sem problemas, eu mesma achei q tinha errado qd vc falou no feminino e eu tinha colocado diretor no masculino.

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