Juiz de Fora

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Panótico (re)vê aqui e agora (279)




Sob o céu de Lisboa
(1994)



Philip Winter (Rüdiger Vogler) é um técnico em sonoplastia alemão que recebe o convite de um diretor amigo, Friedrich, para ajudá-lo em um filme que está sendo rodado em Lisboa (ambos são personagens de obra anterior de Wim Wenders, fato que só fui saber neste instante). Philip vai de carro até Portugal (cenas ótimas) e tenta aprender a nossa língua, com razoável sucesso.
 


Instalado na casa de Friedrich (penso que em Alfama), Philip interage com uns garotos legais que já conheciam Friedrich e curtem brincar de cinema e também com o grupo Madredeus, que para este filme compôs Ainda. O feioso e desengonçado Philip se apaixona pela cantora Tereza Salgueiro e ela o trata como as moças educadas tratam os velhos babões, com respeito e desvelo, mas sem dar esperanças. Eu não sei dizer se o perfil da cantora reforça a imagem careta da cultura portuguesa, ela aparenta ser muito pudica, mas isto é outro assunto.




Philip quer encontrar Friedrich, que não dá as caras e parece estar metido em encrencas. Enquanto isto, temos acesso à poesia de Fernando Pessoa (que Philip traduz erroneamente para o alemão como ninguém/niemand), ao interessante trabalho de sonoplasta artesanal, muitas locações da parte alta de Lisboa (e outras da Lisboa em construção, nem tão interessantes), e às canções do Madredeus. Há também uma tomada com o aborrecido centenário cineasta português Manoel de Oliveira, com uma fala tão cinzenta e soporífera quanto às suas endeusadas obras.




O sumiço de Friedrich se esclarece por meio de uma postura que eu achei positivista da primeira vez que vi este filme, em 1996 (e continuo pensando assim): o diretor Friedrich não queria mais concluir o seu filme porque passou a entender que o cineasta com uma câmera na mão não filma mais do que uma parte da realidade, o seu trabalho de criador deformaria a sua musa e eu perguntaria: precisa desta crise toda para descobrir a América? A solução se dá por força de Philip, que mesmo como sonoplasta é mais cineasta do que o amigo Friedrich.
 
 



Eu não sou fã de Wim Wenders, acho que durante a década de noventa a imprensa e o público enchiam muito a bola dele, era moda dizer que Wenders era o melhor cineasta daquela época, mas este filme, juntamente com o documentário Pina, foi o que eu mais gostei.

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