Juiz de Fora

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Panótico vê aqui e agora (62)


Howl
(2010)

Allen Ginsberg (1926-97) foi um dos mais importantes poetas da beat generation, juntamentamente com Jack Kerouac, autor de On the road. A geração beat teve forte influência sobre os hippies dos anos sessenta. Os seus interesses principais eram a crítica ao sistema e às convenções sociais, tentar levar uma vida errante ou alternativa, sexo livre e muita birita e drogas. Allen Ginsberg somava à isto tudo o homossexualismo e transtornos psiquiátricos. James Franco faz o protagonista, e algumas semana atrás, perguntado por que fazia tantos papéis gays ele debochou do entrevistador: Talvez eu seja gay mesmo, rs...



Todo mundo que leu sobre o punk, no final dos setenta ou início da década seguinte esbarrou na geração beat. Allen Ginsberg declama uns versos em Ghetto Defendant, no álbum Combat Rock, do The Clash, uma das poucas bandas punk de que fui fã. Provavelmente a única.



Howl (Uivo) foi o poema que Ginsberg publicou e declamou em 1955, em São Francisco. James Franco imita com perfeição as entonações de Ginsberg. Achei interessante que o filme não passa por cima da condição mental do escritor, não trata sintomas psiquiátricos como se fossem expressões de genialidade ou manifestações estéticas. Os versos de Howl são acompanhadas de animações computadorizadas, que até são bonitas, mais ou menos, mas achei um excesso do filme. As plateias que ouvem Ginsberg são bem caricatas, os coadjuvantes fizeram um grande esforço em parecer compenetrados estudantes universitários intelectualizados e sensíveis dos anos cinquenta.




Eu tenho um interesse particular no filme devido à ação que o Ministério Público estadunidense moveu contra Ginsberg por obscenidade, em 1957. A guerra fria produziu bizarrices à esmo. Promotores de justiça deveriam ter mais o que fazer do que ficar implicando com poetas. Mas o que eu mais gostei no filme foi a importante dica literária: Leaves of Grass (Folhas de Relva) (1856) de Walt Whitman (1819-92), o primeiro poema livre contemporâneo, que teria sido copiado - em sua forma, é claro - por Ginsberg ao escrever Howl, segundo uma testemunha de acusação no filme. Pelo que pesquisei, parece ser consenso de que é bem verdade. Amanhã eu o compro. Menos de quinze reais. Mais barato do que uma denúncia. Troque sua ação penal por um poema.










Allen Ginsberg participou de diversos movimentos políticos e contraculturais da esquerda estadunidense. Mas isto dá outro filme.




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