Juiz de Fora

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O segredo é não dar corda




As cenas do quotidiano sempre me chamam a atenção. Hoje fui para a fila de um banco, em um bairro próximo ao meu. Enquanto aguardava, em pé, pela abertura da agência bancária, um político local, notório papagaio de pirata, tentou chamar a atenção dos clientes com afirmações bombásticas em alto volume. Todo mundo sabe como é agradável ficar nas filas, ainda mais com esse calorão. Já sabendo quem era a figura, e não lhe nutrindo nenhuma admiração, fiquei em uma posição meditativa, como quem está absorto em seus próprios pensamentos. Um simpático senhor idoso recepcionou a arenga do postulante, sempre derrotado nas urnas, à representante do povo. Mas tomou a dianteira na conversa e assumiu a posição de protagonista. Vou tentar reproduzir o monólogo do comunicativo interlocutor:

Eu não sei qual é a religião do senhor mas a minha blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá, porque Deus bláblábláblábláblábláblábláblá, e a prova disto blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá, e eu te digo mais blábláblábláblábláblá, e assim o corpo bláblábláblábláblábláblábláblábláblálábláblá, e então a alma, blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá, após a morte vem bláblábláblábláblábláblábláblbláblá, etc, etc, etc...

O militante - por seu currículo provavelmente um ateu de longa data -, foi dando mostras, por meio de sua linguagem corporal, de não estar aguentando a preleção, e a perda do monopólio de cativar a plateia circundante, porque o respeitável senhor não lhe dava chance. Arrumou a seguinte desculpa: vou ali ver porque a fila não anda (não andava porque ainda não havia dado a hora). Retornou e a argumentação manteve-se por mais tempo e continuou na fila do caixa, lá dentro da agência. Uns bons vinte minutos de catequese, ao todo. Detalhe: a vítima já passou dos setenta anos. Ao ficar calado, impacientemente, induziu o outro, mais velho, a prolongar e reforçar os argumentos, cada vez mais agitado, elevando o tom de voz e buscando mais e mais "provas" do que dizia.



Eu penso que nesta idade algumas convicções formadas não mudam mais.

Algumas das minhas já têm esta característica.

O segredo é não dar corda.

4 comentários:

  1. Ou dar mais corda , o suficiente para o chato se enforcar.

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  2. Isso sempre dá de acontecer nas horas mais inconvenientes. Isso me aconteceu num ônibus lotadíssimo descendo Independência, sentido dependência crônica da mulherzinha que não saía daquela arenga. Em Cataguases rolam dessas pregações em praça pública, com microfone e tudo, falam igual o homem da cobra.

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  3. A humanidade usa a religião como uma bengala.

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