Juiz de Fora

domingo, 29 de agosto de 2010

Livros (XIII)

David Copperfield
(Charles Dickens, 1950)

Com dois eventos no ensino municipal visando estimular o hábito da leitura reflito agora quando é que passei a ser um leitor. A minha memória me leva ao ano de 1974, quando cursei o terceiro ano primário na Escola Arnaldinum São José, no bairro Anchieta, em BH.




A professora obrigava todos os alunos a lerem um livro por semana, com ficha avaliativa. A biblioteca da sala (da sala, mesmo) possuía muito mais literatura infanto-juvenil do que infantil. A mestra gostava de dizer à turma, e às outras professoras, que utilizava com frequência textos de sétima ou oitava série. Assim, volta e meia, líamos Monteiro Lobato, Orígenes Lessa, Cecília Meireles, Francisco Marins e outros.


Sexta-feira, pouco antes da semana terminar, era a hora que ela abria a estante e escolhíamos as obras. A primeira vez eu peguei um livro bem fininho, cheio de ilustrações, mostrei a ela que consentiu mas com uma expressão de decepção. Com nove, dez anos de idade, a aprovação imediata dos adultos cala fundo.




Fiquei bem sem-graça, e na semana seguinte, buscando a aprovação de um adulto que eu respeitava (ela), caí na besteira de levar David Copperfield, da Ediouro, com mais de trezentas páginas. Ela sorriu e eu quase chorei no final-de-semana, porque não aguentei passar de um terço da obra. Senti muito medo, ao levar um dever incompleto na segunda-feira para a aula, pois, quanto a mim, tentar enganar a professora estava fora de cogitação.



Em mais duas ocasiões levei a obra, lendo-a, por óbvio, a partir de onde tinha parado. Recordo-me do sofrimento do garoto órfão, ralando aos onze anos para ganhar míseros shillings. Durante as séries posteriores, nos 1.º e 2.º graus, como eram chamados, não li tanto, mas a noção de que leitura exige disciplina e determinação, mesmo sendo um prazer, permanece até os dias atuais.



Obrigado, dona Marta.

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