Juiz de Fora

sábado, 28 de março de 2015

O atentado (405)


O atentado
(2012)



Amin Jaffadi é um cirurgião palestino reconhecido em Tel Aviv. Eleito o médico do ano em seu discurso destaca que foi a primeira vez que um árabe era escolhido em Israel para receber o prêmio. Afirmou que cresceu com raiva e hostilidade, mas que teve a oportunidade de uma bolsa e de uma carreira. Amin sofre discriminação de colegas, paciente e da polícia, mas nada que abale o seu profissionalismo. Um atentado ocorre, e ele atende suas vítimas. Onze crianças morrem. O médico é preso pois sua esposa está envolvida. Liberado, Amin vai procurar explicações no lado palestino.

Em alguns minutos eu percebi que este seria um grande filme, tratando de questões complexas sem maniqueísmos, é meio que intuitivo, você vê os diálogos, o roteiro, a trilha, a fotografia, o ritmo e fica satisfeito com o que vem pela frente.

Este é o tipo de cinema que eu gosto. Não é block-buster e nem aqueles relativismos babacas de intelectualóide fazendo média com o establishment cultural.

Obs.: o filme foi proibido em mais de vinte países árabes.

O filho do outro (404)


O filho do outro
(2012)


Em 1991 o Iraque de Saddam Hussein lançou mísseis Skud em Israel. Em Tel Aviv uma auxiliar de enfermagem trocou por engano dois bebês recém-nascidos. Dezoito anos depois Joseph, filho de palestinos, é criado por um coronel e uma médica israelenses. O verdadeiro filho do casal, Yacine, foi criado por um casal palestino, um mecânico e uma dona-de-casa. Joseph ao saber que é palestino meio que apavora com a futura pobreza e isolamento, já Yacine vislumbra melhores possibilidades em Israel.

O tema já é bem dramático em se tratando de pessoas que se descobrem "adotadas", mas aqui a coisa se complica em função da animosidade entre os dois povos.

O filme pode não agradar pela abordagem humanista, é bastante aquela visão de que "se nós nos conhecermos e conversarmos mais as nossas diferenças se atenuarão". Achei bem bobinhas umas situações em que as personagens babam ovo para a França, um recurso utilizado largamente no cinema americano para estabelecer empatia do público para com outros povos: "Olhem, eles amam Paris e a cultura francesa, então não devem ser más pessoas".

Tipo do filme que se você assiste tira proveito,mas não dá para esperar muita coisa.

Uma observação sobre Emmanuelle Devos: a fisionomia dela é de alguém meio perturbada, não? rs...

Gosto é gosto, mas onde está a grande beleza? (403)



Um turista japonês tem um infarto e aparentemente morre após se embasbacar com a beleza de uma vista romana. Um escritor sessentão vai à uma péssima discoteca com péssima música e um monte de gente escrota de alta sociedade. O diletante começa a relembrar uma antiga paixão e busca inspiração para o novo livro.

Isto aqui é não-resenha, pois eu não vi mais que aborrecidos dez minutos deste filme. Insistentemente indicado por um amigo fui vê-lo e dou de cara com uma narrativa que abomino: a pessoa romantizar e glamourizar a mais pura safadeza, a intelectualização do fisiologismo. O escritor quer ir para cama com garotinhas e fica lá todo poético se dando ares de grande coisa.

O cinema hoje ou é block-buster ou pretenso intelectualismo. Está cada vez mais down no high cinema.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Still Life (402)


Still life
(2013)



John May é um agente funerário de um subúrbio londrino. A sua função é providenciar a cremação de indigentes e pessoas falecidas sem familiares conhecidos. Mas John May se apieda dos que vêm a morrer sem amparo e quer lhes dar um funeral digno. Pesquisa meticulosamente e tenta encontrar algum parente ou amigo e lhes propiciar um enterro completo. Não encontrando ninguém ele encomenda liturgia para cada um e lá comparece solitariamente. Mas isto custa caro aos cofres públicos.

É impossível não ter empatia pelo pobre, feioso e sem atrativo John May, um solitário de poucas palavras e sorrisos, que guarda com carinho as fotografias das pessoas que veio a enterrar.

Este é o tipo de filme que não me levaria a escrever muito sobre ele. Não aborreceria o leitor com análises sociológicas sobre a solidão, o universo indiferente, o capitalismo impessoal. John May é uma pessoa boa, e faz o que lhe parece correto, não espera qualquer recompensa.

Spoiler (Não leia adiante se não quer saber o final):

Achei o final duramente realista, mas o finalzinho, o final do final, me pareceu apelativo ainda que vá agradar às pessoas religiosas.



Her (401)


Her
(2013)




Los Angeles, daqui a umas décadas. Theodore (Joaquin Phoenix) trabalha como escritor de cartas de amor em uma empresa virtual. Por meio de um celular auricular consegue acessar emails e se comunicar com computadores. Recém-saído de um divórcio, Theodore está deprimido, é um cara meio monótono, aborrecido, quase um chato. Instala um novo sistema operacional em sua rede, com inteligência artificial e voz feminina. "Samantha" (Scarlett Johanson) é programada para interagir emocionalmente com o proprietário. Inicialmente ele acha tudo meio absurdo e ridículo, mas cai que nem patinho. O programa vai se sofisticando e correspondendo à carência de Theodore. Muito cômodo, e mais estável que um ser humano de carne-e-osso, Theodore se apaixona por Samantha.

Lógico que haverá surpresas, senão seria quase como uma novela água-com-açúcar.

Não achei o filme genial. Dizer que as pessoas estão substituindo relações reais por virtuais? Grande novidade? Que o capitalismo opressor aliena as pessoas? Grande novidade. Que o ser humano é reprimido, possessivo, etc? Grande novidade.

Dirigido por Spike Jonze ("Quero ser John Malkovich")

domingo, 15 de março de 2015

"Eu vim de graça!" "Fora, PT!" "Fora, Dilma!" "A nossa bandeira jamais será vermelha"






























Sobre a manifestação:
1. O PT foi inteligente e não mandou nenhum provocador, como em algumas cidades.
2. O discurso golpista militar não tem a adesão nem de 0,1% dos manifestantes.
3. Havia muitos idosos, achei bacana.
4. Como não é uma passeata de militantes profissionais, estava todo mundo com uma cara meio tímida (inclusive eu)
5. A líder, uma professora, estava animada, mas devia tomar mais cuidado com erros gramaticais (o que provocou risadas)
6. Os jovens foram chegando aos poucos.
7. O pessoal do Vem pra Rua é mais organizado e empolgado do que o do Movimento Brasil Livre
8. As palavras de ordem mais ouvidos foram "Eu vim de graça" e "Fora, Dilma".

quinta-feira, 5 de março de 2015

Relatos Selvagens (400)



Relatos salvajes 
(2014)



Um jovem humilhado; uma garçonete mal-tratada pelo cliente; uma rixa em estradas; um cidadão diante da burocracia (Ricardo Darín); um pai rico que quer livrar a cara de um filho mimado; uma festa de casamento. Esta comédia de humor negro foi muito elogiada (e com razão) como a prova inconteste de que o cinema argentino é melhor do que o brasileiro (e alguém duvida?). É muito divertido e interessante, os dilemas éticos de quem vive em sociedade e países como nosso, a vontade fazer justiça (ou vingança) pelas próprias mãos.

Eu acreditava se tratar de um único enredo e não historietas de quinze minutos ou muito menos, não é nenhuma obra-prima, mas merece ser visto.

terça-feira, 3 de março de 2015

Agora uma vez (399)


Once
(2006)


Dublin, 2006. Anônimo (Glen Hansard, líder da banda Frames e de Commitments) canta folk nas ruas da capital irlandesa. Anônima (a pianista tcheca Markéta Irgovlá) gosta do cantor, lhe dá dez centavos e surge um misto de amizade e atração. O moço sofre por um amor que se foi e a moça é jovem mãe imigrante que cuida de muita gente.

O que é a sorte de quem gosta de cinema. Assisti este filme no Netflix por pura falta de opção. A capa não me estimulava em nada. Esta pequena produção que ganhou Oscar é um barato. O estilo despojado e naturalista (os atores são músicos profissionais) me empolgou a ponto de vê-lo três vezes seguidas. É um filme absurdamente romântico, na melhor acepção do termo.

Apesar de não ser fã de folk adorei as canções, duas em particular, a seguir.