Um alguém apaixonado
(2012)
Akiko é uma jovem do interior, criada pela avó, que vai para Tóquio tentar crescer na vida. Garota de programa do tipo padrão nipônica: lolitinha ingênua e sapeca, cursa Ciências Sociais em uma faculdade. O seu namorado é um jovem de periferia, um mecânico que largou os estudos na adolescência, inferiorizado, impulsivo, possessivo e valentão, e que não sabe no que a moça está envolvida. Na cena inicial, o patrão de Akiko a pressiona a atender um cliente especial, e a moça caindo de sono vai ao seu encontro contrariada. Pelo caminho, em um táxi, Akiko vê a sua pobre avó sentada em uma praça na vã esperança de que a neta atenda aos seus muitos telefonemas para vê-la.
O tal cliente é Watanabe, um septuagenário professor universitário de Sociologia, escritor e tradutor, reconhecido e respeitado por colegas, editores e ex-alunos.
Akiko se depara com o universo do simpático professor, livros para todo o lado, em um aconchegante apartamento do solitário viúvo. Akiko pergunta-lhe por que não vende, queima ou joga fora os livros que já leu. O intelectual fica fascinado com a figura ignorante, meiga e tola da jovem, particularmente em uma cena em que ela se despe da capa de inverno e exibe um vestidinho amarelo do tipo, eeeh..., lolitinha ingênua e sapeca.
Watanabe e Akiko assumem posições de uma farsa, ele banca o avô protetor, e ela a neta que quer proteção, mas é óbvio que as forças primordiais por detrás da encenação são outras. O namorado valentão acredita no idoso e também encena outro papel, o do Romeu que quer se casar com a benção da família da noiva. Vai dar m....
Gostei demais deste novo filme do diretor iraniano Abbas Kiarostami, diretor dos ótimos Através das Oliveiras (1994), O balão branco (1995), Dez (2002) e Cópia Conforme (2010). Os diálogos em estilo realista/naturalista são ótimos. As muitas locações nesta cidade fantástica que é Tóquio me fazem lembrar de Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola. Muitas das falas não são filmadas, apenas observamos a reação dos seus destinatários. As expressões faciais dos atores, dentro daquele universo contido dos japoneses, valorizam as sutilezas, a compreensão mais profunda da alma humana.
É uma combinação de Lolita e O anjo azul: o intelectual vivido, com um lugar no mundo, que vê o seu quotidiano produtivo e metódico ser modificado por personagens que ele compreende sociologicamente, mas não é capaz de se sobrepor a eles. A prostituta miolo mole, que finge não saber por que busca a proteção de dois heróis falíveis, o jovem viril, mas estúpido, e o velho sábio, mas sexualmente irrelevante.
A força-bruta da classe operária, que finge desprezar a formação educacional, mas se curva diante de uma autoridade que lhe parece superior.
Isto sem falar na ótima trilha que combina o melhor do jazz (Blakey, Coltrane, Powell, Baker, Dolphy e muitos outros) com Bjork.
Recomendo vivamente, amanhã eu vejo mais uma vez.