Juiz de Fora

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Número Zero (41)



Milão, 1992. Colonna é um homem de meia-idade que trabalha com jornalismo, abandonou uma universidade e se considera um perdedor. É contratado para criar matérias fantasiosas para os primeiros números pilotos do jornal Amanhã, de propriedade do "Comendador" um empresário rico que quer mostrar que é capaz de criar um jornal que funcione como gazua para sua entrada na elite política italiana. Colonna trabalha com uma equipe que vai se especializando em criar e manipular notícias com muito cinismo. O seu colega de redação Bragadoccio lhe fala de uma conspiração que teria tramado a "falsa" morte de Mussolini em 1945, envolvendo Máfia, Loja Maçônica P2, a CIA, o Vaticano, a Democracia Cristã e os neofascistas.

Francamente, quando comprei esta obra fiquei com um pé atrás. Eco escreve sempre muito bem e extensamente. Já li umas obras suas, ficção e acadêmicas, e este me pareceu sua criação menos frutífera. Repleto de diálogos que narram como a imprensa fabrica e manipula o que bem entende, não chega a ser um livro ruim, li-o em dois dias somente, mas o enredo e a trama não empolgam, ainda que envolva conspirações. Vamos ficar assim:se você o lê não perdeu nada, mas se tiver outras prioridade deixe-o de lado. Se nunca leu nada ficcional do grande semiótico de Alessandria eu indico Baudolino (li quatro vezes, nunca fiz isto com outro livro qualquer)

ECO, Umberto. Número Zero. 3.ªed. São Paulo: Record, 2015. 207p. R$35,00

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Reze para o diabo voltar ao inferno (425)


Reze para o diabo voltar ao inferno
(2008)



Libéria 1989-2005. Charles Taylor é um político e economista liberiano que após estudar nos EUA voltou ao ser país natal para roubar (1980-86), iniciar uma guerra civil (1989-97), governar como tirano (1997-2003) e está preso desde 2012 por milhares de crimes. Este filme trata da união de mulheres cristãs e muçulmanas pelo fim da guerra civil na Libéria (2003)




Na década de noventa eu tinha certeza absoluta que a África era um continente sem esperança. E não engolia a explicação simplista de que todos os problemas africanos eram resultado direto do imperialismo. A pobreza e a guerra civil do continente africano não tem explicação satisfatória sem levar em conta os interesses partidários, os conflitos étnicos e culturais.

Eu tinha noção sobre o contexto de Libéria e Serra Leoa por força dos filmes O senhor das armas e Diamantes de Sangue. Nunca tinha ouvido falar deste grupo de mulheres que soube encurralar tanto governo como oposição,ambos uns facínoras interessados em dinheiro, poder e violência extrema. De certa maneira elas foram precursoras da Primavera Árabe.

Excelente documentário, muito realista e sem apegar para a pregação gramsciana típica de documentários de esquerda.

No Netflix.

No calor da noite (424)


No calor da noite
(1967)




Mississipi, 1967. Um empresário é encontrado morto em uma pequena cidade (a fictícia "Sparta") por um policial. Este sai à procura do suposto assassino e prende Virgil Tubbs (Sidney Poitier) enquanto aguardava um trem para Memphis. Tubbs sofre racismo da parte do chefe de polícia Gillespie (Rod Steiger) mesmo após se identificar como policial de Filadélfia. O seu chefe no norte pede para que colabore na solução do homicídio, mas ninguém o quer na cidade, com exceção da viúva que condiciona somente continuar com os investimentos do falecido marido na cidade somente se Tubbs for admitido na investigação.

Este premiadíssimo filme é muito bom. Não só a investigação em si é muito intrigante, como a caracterização das posturas e mentes racistas do sul, sem apelar para caracaturas em momento algum ou idealizações gramscianas e politicamente corretas.

No Netflix.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O fantástico mundo de Juan Orol (423)


O fantástico mundo de Juan Orol
(2012)


Juan Orol (1897-1988) foi o nome artístico de um cineasta nascido na Galícia e que fez carreira no México e Cuba. Abandonado pela mãe e enviado à Cuba para viver com parentes, Orol trabalhou em diversas profissões até que desempregado (1927) iniciou uma carreira como produtor, diretor, roteirista e ator de cerca de sessenta filmes. As suas produções, a maioria em preto-e-branco, são dramalhões incrivelmente ruins tendo como chamarizes as suas cinco esposas/atrizes.


Nunca tinha ouvido falar deste Ed Wood mexicano. São inevitáveis as comparações. Se Ed Wood tinha uma quedinha por filmes de terror e ficção científica o rei do cinema B mexicano centrava na vida de gangsteres e em romances latinos. Juan Orol teve que lutar contra a falta de grana e não tinha menor noção da história do cinema e senso de ridículo. Quem gostou de Ed Wood de Tim Burton pode muito bem curtir esta produção que prima pelo humor negro.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Star Wars VII (422)



A República continua lutando contra o Lado Escuro da Força, agora chamada de Primeira Ordem. Um soldado que quer largar o exército se une à uma catadora de lixo para tentar encontrar o último Jedi vivo, Luke Skywalker. 

Nunca fui fã de Star Wars, mas assisti todos desde 1977 quando era adolescente. Gostei muito de Império Contra Ataca, mas achei o Retorno de Jedi bem infantil. Os filmes posteriores eu os vi e curti, mas não dou razão à tamanha nerdice que envolve esta série, muito pueril.

Fui ao cinema na primeira sessão de hoje, logo após a pré-estreia, pois acertadamente era o meu caminho para evitar multidões. Com umas dez pessoas pude desfrutar deste prazer cada vez mais raro que é ir ao cinema (aqui só passa blockbusters e o cinema nacional, este cinema gramsciano, populista e sub-Globo). Tive sossego e silêncio total durante toda a projeção.

A primeira meia-hora eu achei bem chatinha, quase peguei no sono, quase levantei-me para ir embora. A protagonista é uma espécie de Natalie Portman ou Keira Knightley: rebelde, esguia, arisca, levemente sexy, bem representativa da jovem mulher politicamente correta. Também politicamente correta foi a escolha de um afro-americano para primeiro coadjuvante.

O filme só melhora quando entra Han Solo (um envelhecido Harrison Ford com cabelo de Roberto Carlos) e seu drama familiar com a princesa Leia (Carrie Fisher, morri de pena, incrivelmente envelhecida para uma mulher de quase sessenta anos, parece que sofreu alguma doença degenerativa, não é possível). Há uma ponta de Max von Sidow, gostei.

Este episódio não vai desagradar aos fãs. Preserva todos os itens indispensáveis. Na verdade me pareceu uma versão upgrade do episódio IV que deu origem à saga. As lutas com sabres são ótimas. Tenho a impressão de que é o mais "adulto" da franquia. Direção do ótimo J. J. Abrams, de Super 8, que não pisa na bola.

Legendado. 3D. R$11,00 (meia).

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Perdidos na noite (421)


Perdidos na Noite
(1969)



Joe Buck (Jon Voight) é um lava-pratos texano que decide ganhar a vida como garoto de programa em Nova York, imaginando que irá faturar alto com o seu personagem de cowboy. Vai com a cara e a coragem para a Big Apple e lá dá de cara com um pequeno ladrão Rico Rizzo (Dustin Hoffman) que primeiro lhe passa a perna e depois quer ser o seu cafetão. Dois sujeitos à beira do desespero que passam a se cuidar mutuamente.

Conheço este filme de nome desde o final dos anos setenta e já o vi ser exibido na tv algumas vezes, mas nunca me interessei pelo tema. Fiquei impressionado com a crueza deste filme premiado com Oscar, algo surpreendente por nem de longe trazer mensagens edificantes ou finais recompensadores como é o gosto da Academia. O filme mostra sem piedade a vida dos excluídos do sistema na sua principal cidade estadunidense. Dirigido pelo inglês John Schlesinger.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Seis degraus de separação (420)


Seis degraus de separação
(1993)



Flan (Donald Sutherland) e Ouisa Kittredge (Stockard Channing) são marchands em Manhattan. "Paul Poitier" (Will Smith) bate-lhes à porta com um ferimento á faca após um roubo no Central Park. Alegando ser amigo de seus filhos que estudam em Harvard Paul pede apenas um curativo e uma nova camisa simultaneamente em que revela um interesse acima da média sobre arte, literatura, temas estéticos e filosóficos. O casal e um rico amigo sul-africano anti-apartheid (Ian McKellen) vão se deixando seduzir pelo papo do jovem ao mesmo tempo em que se gratificam por não serem racistas e acolherem gentilmente o jovem, que chega ao requinte de cozinhar para os idosos. Dizendo-se filho de Sidney Poitier, e não se sentindo afrodescendente por ter crescido na Europa, fica difícil acreditar na performance do jovem, mas os ricaços querem se iludir.



É uma pena que o filme é narrado com os espectadores sendo informados desde o início de que "Paul Poitier" pratica estelionato. O casal nutre as rodas de fofoqueiros com a sua desventura. Inicialmente eu pensei que este filme de que nunca tinha ouvido falar seria mais um abacaxi esnobe dos anos noventa, mas o filme vai crescendo com o tempo e se torna uma grata surpresa, comparando a futilidade da alta sociedade, o seu mundo vazio e aparente, mas o quanto ainda assim ele representa muito para quem os vê de fora.

No Netflix.