Juiz de Fora

terça-feira, 11 de março de 2014

Um professor universitário estraga a minha noite de ópera.



Salomé
(2008)


Salomé foi composta por Richard Strauss (1864-1949). Tem por enredo o interesse da adolescente Salomé por João Batista. João Batista criticava publicamente a mãe e o padrasto da moça, Herodes, por sua vida de luxúria. Herodes sente atração por Salomé e esta dança para o tetrarca da Judeia. A sua esposa Herodias pede em troca a cabeça de João Batista. Esta ópera foi fundamentada em uma peça teatral de Oscar Wilde, estreou em 1905 e provocou furor na época. É uma produção que segue o modelo das óperas de Wagner (muito superiores às novelinhas italianas em forma de ópera, imagino eu).




Não sou versado em ópera, e não gosto tanto quanto outros gêneros musicais ou cinema. Mas gostei do que vi de Wagner, Orff e outros compositores e lamento que vivemos muito longe dos teatros europeus. Se eu pudesse assistiria mais óperas. Um teatro da aldeia em que vivo inaugurou uma série de noites de óperas com dvds do Metropolitan. Entrada gratuita, horário ruim (19h), capacidade para quinhentas pessoas e muita gente (uns vinte gatos-pingados, metade amigos do organizador). 

Havia lido no jornal local que o dvd seria exibido e após o término um professor universitário (quem é não vem ao caso) debateria a produção com quem se interessasse. Pensei: beleza, vou lá, assisto, e se for necessário e/ou enriquecedor ficarei para as explicações acadêmicas.

Mas, não. O professor pediu uns minutos para explicar a obra "para quem não é neófito". Os primeiros cinco minutos foram úteis, pois deu um panorama geral da ópera e a revolução wagneriana, nada que eu não soubesse, mas achei muito justo. Nos trinta minutos seguintes o professor explicou toda a Salomé, com uma riqueza de detalhes desnecessária, enfadonha, e que tirou de mim a possibilidade de descobrir elementos à medida em que assistisse o espetáculo.

Finalmente, após quarenta minutos de explanação começou o evento. Fiquei empolgado, cantores impecáveis, telão, som de qualidade, falas ágeis, enredo com matrizes psicológicas e com encadeamento racional, realmente entrei no clima, como se diz. Com quinze minutos, no entanto, o professor interrompeu e disse que eram necessárias novas explicações. Não acho.

Pôs-se a falar por mais trinta minutos, explicando não só o que todo mundo tinha entendido e visto, mas também anunciando o que viria a acontecer nas próximas cenas. A partir daí me aborreci de verdade e quando tomamos antipatia de algo e alguém é inevitável que você se irrite com o responsável. Com uma voz e postura infantilizada, dando saltinhos como o filhinho gordo e fofo da mamãe, passei a ver que chato é o professor, pronunciando mal em alemão nomes e palavras que poderiam ser ditas em português, mas ditas por alguém que se esforça em exibir o conhecimento de uma língua que pelo visto jamais estudou. Achei um tanto jeca ele repetir o adjetivo "magistral" para descrever as cenas. Levantei e fui embora, aquilo duraria até o fim da noite.

Professores de adolescentes de ensino público estão acostumados a serem rejeitados, sabem que os alunos não lhes querem dar atenção, por isto não forçam a barra. Já passei dezenas de filmes, centenas de vezes, explico o mínimo sumário e somente abro a boca quando ninguém entendeu nada. Mas na universidade a coisa é diferente. Estudantes universitários bajulam os professores para conseguirem bolsas de estudo e vagas na pós-graduação. Por isto os professores universitários realmente acreditam que aquilo que falam é brutalmente interessante. Fiquei pensando que alguém devia dar um toque no sujeito e pedir para que continuasse com a ópera, a diva está na tela não fora dela.

Não sei se irei nos próximos e se escrevo para a proprietária do estabelecimento e polidamente fazer algumas sugestões.

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