Juiz de Fora

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Parecer ter e parecer ser




Voltando a pé para casa subindo a av. Rio Branco deparei-me, em sentido contrário, com diversos jovens que ostentavam uma camisa com as seguintes palavras referentes a um determinado curso:


XXXXXXXXX
                                                         Técnico


Duvido muito que esta opção foi um equívoco de quem não soube estampar "Técnico em Xxxxxxxxxx". Quem confeccionou e quem utiliza a vestimenta quis alertar para si o status de um curso superior que não está cursando, mas teve a consciência - mas com excessiva discrição - para restringir o próprio brilho, esclarecendo que é um curso de nível médio, na verdade. Ao induzir de passagem uma situação aparente, deixou indelével a marca de um sentimento de inferioridade. O que há de vergonhoso em um curso secundário? Max Weber gostava de exagerar para poder destacar o seu ponto de vista. Façamos o mesmo, aproveitando este novo ramo de uniformes mastígios:


Supremo Tribunal Federal
                                                                                             Fotocopista



Seleção Brasileira de Futebol
                                                                                                             Motorista



Presidência da República
                                                                                              Porteiro


Academia Militar das Agulhas Negras
                                                                                                                                                 Conscrito



A hipocrisia com relação ao trabalho de cada um está chegando a níveis hospitalares. O sistema diz a todos: "qualquer profissão é útil e digna", mas ao mesmo tempo diz: "nem tanto". O trabalho de um gari é infinitamente mais relevante do que o de um craque de futebol, mas quem pediria uma camisa autografada do primeiro, quem quer saber da sua vida ou quem lhes sente um pingo de inveja? Desta forma, as pessoas sabem que, efetivamente, trabalho digno é o que lhes dá dinheiro, poder e notoriedade. Ou, pelo menos, que lhes permitam parecer ter dinheiro, ou parecer serem poderosos ou notórios. E aí compreende-se porque as pessoas procuram pegar uma colinha nas áreas adjacentes mais bem-aventuradas. Ou não? Se eu sou ou tenho um fusquinha para que parecer ser ou parecer ter uma ferrari? A quem se pretende enganar, além de si mesmo? Este é um dos temas de Heróis de Verdade (2005), do psiquiatra Roberto Shinyashiki, a única obra deste gênero sub-literário rotulado como "autoajuda" que me deu vontade de ler. Recomendável para qualquer um e para presidentes eleitos que parecem ter doutorado.

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