Serial e antes/A educação pela pedra e depois (1940-89)
(João Cabral de Melo Neto)
Nunca li nada de João Cabral de Melo Neto. Conheci Morte e Vida Severina por meio de um teatrinho petista de igreja em minha cidade natal, Santos Dumont, em 1979, e foi a primeira vez que vi um teatro de cunho social. Gostei bastante, pois era bem crítico e eu estava no furor da adolescência. Mas fiquei com aquela coisa de que o autor era inseparável das lides nordestinas, o que nunca foi de meu grande interesse. Eu sequer sabia que o homem era poeta e dos grandes.
Por curiosidade e exigência curricular passei a lê-lo, aproveitando, mais uma vez, o fato de que minha escola possui as suas obras completas. Acho que toda escola púbica as possui. Li todo o primeiro volume, Serial e antes (1940-61) e o segundo A educação pela pedra e depois (1962-89) de forma selecionada. Não li os poemas sobre o Nordeste e sobre Sevilha porque me pareceram muito repetitivos. Fiquei mais interessado nos poemas sobre temas cosmopolitas e outros artistas e escritores, algo semelhante ao que muito fez Murilo Mendes.
Antiode (1947) é o poema fundamental de Melo Neto, aqui ele diz a que veio: uma poesia seca, árida, sem lirismo, que destrincha as palavras à exaustão. A influência de Melo Neto sobre a poesia brasileira dos últimos cinquenta anos é astronômica. Você vê seus filhos e netos por aí a todo momento. É quase uma antítese do romantismo moderno, da beleza de um Manoel Bandeira, Murilo Mendes e Carlos Drummond de Andrade, ainda que dialoguem eventualmente com eles. Eu penso o seguinte: poesia não é para muitos, mesmo a maioria dos estudantes de Literatura lhe têm a mais profunda aversão. Se alguém pretende infundir o gosto pelos versos em um neófito deve evitar, pelo menos em um primeiro momento a secura da obra de João Cabral de Melo Neto. Antiode é antilirismo e antileitor.