Juiz de Fora

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Panótico ouve aqui e agora (96)


Different Stars
(Trespassers William/2002)


Trespassers William é, na atualidade, uma dupla (casal) que vive em Seattle, Washington. Formados em 1997, este belo Different Stars é o segundo álbum da banda, antecedido por Anchor (1999) e seguido de Having (2006). Atualmente a banda grava o seu quarto álbum. Anna-Lynne Williams possui uma senhora voz, bem voltada para o folk, mas graças ao som melódico de Matt Brown, bem dream pop, bem Cocteau Twins, benza a Deus, este Different Stars é um grande disco. Com um timbre marcante, cristalino, em perfeita com um instrumental etéreo, a banda nos deu canções para curtir meses a fio: Destaco Lie in the Sound, Alone, Fragment, Untitled  e a faixa de trabalho Love you more. O encerramento In a Song é para que eu procure pelo álbum posterior. Aprovadíssimo.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Dez discos que abalaram o meu mundo























No final dos anos setenta eu lamentava não ter nascido uns cinco anos antes. Hoje eu me considero um tremendo privilegiado por ter ouvido estas joias raras no seu devido tempo...

Dia da Música.




Hoje é o Dia da Música.


De todas as criações humanas é a que mais me traz felicidade.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Panótico vê aqui e agora (175)


O garoto da bicicleta
(2011)



Cyril é um garoto valão (franco-belga), órfão de mãe, entrando na adolescência e que acabou de perder a avó. O pai, pelo qual o menino tem adoração, alega não poder cuidar dele por sua má condição financeira e vontade de reiniciar a vida. Na verdade, ele pouco se importa com o filho. A revolta do adolescente, claro, é enorme. Vivendo os dias úteis em um orfanato, ele passa os fins de semana com uma cabeleireira, sua "guardiã", cujo carinho pelo sofrido jovem não tem uma explicação aparente. Cyril não acredita que o pai não lhe quer, até o momento em que o genitor afirma isto literalmente. Problemas à vista. A agressividade constante do garoto chama a atenção de um deliquente manipulador à procura de "soldados".




É um filme que tem tudo para agradar. Não tem os lances fotográficos e sonoplásticos do típico filme hollywoodiano, que explica o enredo para o espectador acomodado. Não trata a revolta adolescente com psicologia abundante e nem com demogogia populista. A conduta do menino é desenrolada em um enfoque naturalista, o homem é produto preponderante do meio, mas é capaz de tomar decisões com um mínimo de autonomia. Lembrou-me muito o clássico de François Truffaut, Na Idade da Inocência.


Dá vontade de dar uns tablefes no marmanjo, pai do garoto....



Ao contrário do que parece à primeira vista, não é filmado na França, mas em Seraing, na Bélgica.

Irrealidade quotidiana.



Eu não tenho muita paciência com a violação constante ao direito alheio, e não tenho preocupação em não "incomodar" aqueles que estão errados, não quero ganhar medalha de simpático. Na minha escola há uma professora que estaciona o carro onde bem entende e frequentemente ocupa de quatro a seis vagas por obstruir a entrada do pátio. Eu sou o único que reclama ao diretor e exijo o meu espaço. Os colegas me dizem que eu estou certo, que a colega é uma abusada, mas ficam aguardando eu ter a iniciativa. Sexta-feira passada eu fui atravessar uma rua movimentada na travessia elevada do pedestre, mas não foi possível, pois um folgado motorista estacionou a sua pick up por cima, ligou o pisca-alerta e se mandou. Chegando em casa havia seis automóveis estacionados em local proibido na rua estreita em que moro, dificultando a entrada e saída de veículos do meu prédio. Liguei para o 190 e pedi o telefone do órgão competente para atuar nestes casos. A funcionária queria uma descrição exata da localização das ruas (ambas bem conhecidas de todo o mundo) e o número exato do estacionamento dos veículos. Forneci as informações até onde pude, e ela veio com esta:

- O senhor garante que quando o fiscal for até aí os carros ainda estarão lá?

Nem preciso comentar.

sábado, 19 de novembro de 2011

Promoção à brasileira


Neste país, até promoção de café gratuito...


...vem com cláusulas contratuais em letrinhas.

O Panótico vê aqui e agora (174)


Allen Gregory
(1.ª temporada/2011)





Allen Gregory é um garoto prodígio de sete anos, filho de uma magnata novaiorquino, gay e esnobe, parceiro de um quarentão que foi casado e com dois filhos, e irmão civil de uma adolescente cambojana. O papai ricão quer que o convivente passe a trabalhar e o garoto terá que ir para a escola, onde já chega botando banca para cima da professora primária chinesa, se apaixona pela obesa e septuagenária diretora, e terá enormes dificuldades de relacionamento com os colegas.. A temática parece um pouco afetada, mas o desenho tem um traço bonito, bem diferente de South Park e das produções de Seth McFarlaine, trilha pop e humor intelectualizado. Tanto South Park como Family Guy levaram umas duas temporadas para afinar a sintonia. O primeiro episódio não chega a ser engraçado, mas promete.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Dez razões para não gostar do meu mestrado



1 - Mensalidade cara.
2 - Trabalhos em grupo.
3 - Aulas muito ruins de algumas professoras.
4 - A mania das colegas de colocarem religião em tudo.
5 - A falta de cultura geral dos alunos.
6 - Professoras de Português cometendo graves erros gramaticais.
7 - Colegas te pedindo insistentemente para copiar os seus trabalhos.
8 - Análises literárias sem pé nem cabeça.
9 - Excesso de preocupações com formalidades em detrimento do conteúdo.
10 - Ouvir as colegas falando de marido, filhos e afazeres domésticos.

Dez razões para gostar do meu mestrado



O meu primeiro ano de mestrado em Literatura caminha para o final.

Dez razões para ter gostado dele:

1 - a obra de Murilo Rubião.
2 - a obra de Machado de Assis.
3 - Ler Jorge Luís Borges.
4 - Ler Rubem Fonseca.
5 - Ler Murilo Mendes.
6 - Ler Manoel Bandeira.
7 - Conhecer alguns colegas e alguns professores.
8 - Aulas muito boas de alguns professores.
9 - Ter licença remunerada por dezoito meses.
10 - Conversar sobre assuntos diversos com um professor e alguns colegas nas sextas à noite.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Panótico ouve aqui e agora (95)



Scribble Mural Comic Journal
(A sunny day in Glasgow/2007)




Nos anos setenta eu ouvia o que os colegas me emprestavam, e discos bons não faltavam. Nos anos oitenta havia algumas revistas e um amigo que ia a São Paulo e Europa (Londres, principalmente). Fartura de ofertas (de dinheiro, não). Em '97 passei a ter internet, o salário melhorou aos pouquinhos, mas cd importado só foi acessível antes da crise do México (janeiro de '99). Ano passado: banda larga mixuruca e cara (um meguinha por quase cem reais, só a título de comparação: Paris, cem megões a 35 euros). Já passei dos mil e quinhentos cds, mas continuo sem encontrar o que ouvir. Adotei um critério sinistro: resolvi ouvir por meio de listas do Wikipedia. Escolhi um gênero que tem um nome tolo - dream pop - mas é o mais próximo do som que eu mais gosto, o dos escoceses Cocteau Twins. Começando pela letra A, vai aqui o A sunny day in Glasgow.

Grupo da Philadelphia, composto por seis membros, tem uma influência difusa de Cocteau Twins e My Bloody Valentine, mas um tanto dispersa. O som não é pop, e nem te dará nenhum sonho. Dream pop para mim está mais para bandas nipônicas como Do as infinity. Este é o primeiro cd da banda. É interessante, há bons climas envolvendo a melodia e os vocais de Ann Frederickson, mas falta um pouco mais de produção e rumo. Imagino que os dois álbuns posteriores (Ashes Grammar, de 2009, e Autumn again, do ano passado), são mais interessantes, mas não os ouvi.


"A qualidade de uma república tem a ver com a qualidade de seus cidadãos" (Norberto Bobbio)



"Não fiz nada, bem sei, nem o farei.
Mas de não fazer nada isto tirei,
Que fazer tudo e nada é tudo o mesmo,
Quem sou é o espectro do que não serei"

(Fernando Pessoa, 1931)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Panótico ouve aqui e agora (94)



Souvlaki
Slowdive/(1993)



O festival SWU me rendeu a oportunidade de ver dois shows de meu interesse: o de Duran Duran e o de Peter Gabriel, mas não havia qualquer novidade para mim. Todas as demais bandas ou não me interessam ou não tem como me interessar. Então se eu quero ouvir música tenho que correr atrás do passado. Slowdive foi um mone que me chamou atenção em em meados da década de noventa, mas não tive como ouvi-los, pois os cds não foram lançados no Brasil e comprar um cd importado a quase cem reais sem saber do que se trata não é para o meu bolso. Dos três cds da banda - Just for a day (1991) e Pigmalion (1995) são os outros dois - este Souvlaki é disparado o que mais gostei. Reúne três coisas de que sempre estou a falar: melodias, guitarras à la Cocteau Twins/My Blood Valentine e temas universais. É um cd que ficará por semanas em minha mente. Destaco as belas Alison, Machine Gun, Souvlaki Space Station e a minha preferida When the sun heats. O quarteto de Reading encerrou as atividades em 1995, alguns remanescentes fundaram o Mojave 3, já os ouvi, mas achei bem ruinzinho.

O Panótico lê aqui e agora (24)



Serial e antes/A educação pela pedra e depois (1940-89)
(João Cabral de Melo Neto)


Nunca li nada de João Cabral de Melo Neto. Conheci Morte e Vida Severina por meio de um teatrinho petista de igreja em minha cidade natal, Santos Dumont, em 1979, e foi a primeira vez que vi um teatro de cunho social. Gostei bastante, pois era bem crítico e eu estava no furor da adolescência. Mas fiquei com aquela coisa de que o autor era inseparável das lides nordestinas, o que nunca foi de meu grande interesse. Eu sequer sabia que o homem era poeta e dos grandes.

Por curiosidade e exigência curricular passei a lê-lo, aproveitando, mais uma vez, o fato de que minha escola possui as suas obras completas. Acho que toda escola púbica as possui. Li todo o primeiro volume, Serial e antes (1940-61) e o segundo A educação pela pedra e depois (1962-89) de forma selecionada. Não li os poemas sobre o Nordeste e sobre Sevilha porque me pareceram muito repetitivos. Fiquei mais interessado nos poemas sobre temas cosmopolitas e outros artistas e escritores, algo semelhante ao que muito fez Murilo Mendes.

Antiode (1947) é o poema fundamental de Melo Neto, aqui ele diz a que veio: uma poesia seca, árida, sem lirismo, que destrincha as palavras à exaustão. A influência de Melo Neto sobre a poesia brasileira dos últimos cinquenta anos é astronômica. Você vê seus filhos e netos por aí a todo momento. É quase uma antítese do romantismo moderno, da beleza de um Manoel Bandeira, Murilo Mendes e Carlos Drummond de Andrade, ainda que dialoguem eventualmente com eles. Eu penso o seguinte: poesia não é para muitos, mesmo a maioria dos estudantes de Literatura lhe têm a mais profunda aversão. Se alguém pretende infundir o gosto pelos versos em um neófito deve evitar, pelo menos em um primeiro momento a secura da obra de João Cabral de Melo Neto. Antiode é antilirismo e antileitor.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O Panótico vê aqui e agora (173)


Pequenas flores vermelhas
(2006)




Qing é um garotinho chinês de quatro anos que é colocado em um internato pelo pai que não quer e/ou não tem tempo para cuidar do filho, e cuja esposa, mãe do menininho, reside em outra cidade. O internato é misto, não chega a ser feio ou desumano, mas tem uma estrutura meio militarizada. Há uma diretora, uma professora que reside no internato (coitada, cadê os seus direitos trabalhistas?!) que obviamente já sofre de stress, e algumas assistentes um pouco mais jovens e carinhosas. As educadoras também denotam alguma insuficiência na sua formação pedagógica. Há decisões e preconceitos não admissíveis no mundo contemporâneo.





Qing sofre com a ausência da família e apresenta, como não, dificuldades de adaptação. As situações e expressões das personagens são incrivelmente autênticas, o que nos leva a pensar que os atores mirins foram realmente submetidos àquelas cenas, não dá para acreditar que eles expressam dor, alegria e outras emoções com tamanha veracidade apenas baseados na interpretação e outros recursos cênicos. É um filme cativante, engraçadinho, e leva o espectador a repensar como é fundamental na vida do ser humano ter uma infância saudável, feliz.



Para cada bom comportamento os alunos ganham uma pequena flor vermelha. Qing quer muito ganhar pelo menos uma delas.


quarta-feira, 2 de novembro de 2011